sábado, 12 de abril de 2014

Segue-me tu!


Em tempos de campanha eleitoral são muitas as vozes que se levantam prometendo mundos e fundos, apresentando os melhores programas, as melhores propostas, as melhores soluções, esforçando-se por demonstrar de forma convincente que os seus adversários políticos não são competentes para exercerem as funções a que se propõem, tudo isto numa tentativa de alcançarem o maior número possível de eleitorado e atingirem o objectivo final que é a eleição. E uma vez eleitos, em muitos casos, frustram os seus eleitores, ficando aquém das expectativas ou abusando do poder que lhes foi confiado. Os grandes mestres do passado e os filósofos também pregavam em praças e areópagos na esperança de adquirirem alguns discípulos e prestígio. Estou certo de que tanto uns como outros gostariam de ter a ousadia, a moral e a convicção de dizer “Segue-me”, sem temerem o fracasso ou frustrarem as expectativas dos seus seguidores. Há dois milénios atrás apareceu um homem que, na aparência, era comum a todos os outros homens. A sua escolaridade era básica. Certamente aprendeu a ler e a escrever em casa com os seus pais ou na sinagoga com algum rabino. As suas mãos eram grossas e calejadas, fruto do exercício da sua profissão junto de seu pai que era carpinteiro, mas quando discursava a todos maravilhava, pois diziam: “De onde veio a este a sabedoria, e estas maravilhas? Não é este o filho do carpinteiro? (…) De onde lhe veio, pois, tudo isto?” (Mateus 13:54-56). Este homem de nome Jesus não escolheu uma grande cidade, nem um grande povo para começar a discursar sobre sua doutrina. Os habitantes da Galileia viviam basicamente da actividade piscatória. Não sei quanto tempo Jesus levou a pregar o seu primeiro sermão, nem que métodos usou para atrair a atenção dos seus ouvintes. Apenas nos é relatado o seu conteúdo: “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus.” (Mateus 4:17). Quando Jesus encontrou os irmãos Pedro e André, e Tiago e João, e lhes disse “Vinde após mim”, e eles O seguiram espontaneamente, não foi por estarem hipnotizados, mas sim maravilhados com os seus ensinamentos, pois eram galileus e certamente sentiam-se surpresos pelo convite. Uma das características do Mestre da Galileia que muito me fascina é a selectividade quanto às suas escolhas, uma vez que contraria todos os princípios lógicos de um bom líder. Quem ousaria sair pelas ruas e escolher aleatoriamente os seus seguidores? Ou ainda pior, formar a sua elite com os primeiros que encontrasse pela frente? Humanamente falando, quem assim procede é louco e está condenado ao fracasso. Imaginemos, por exemplo, que se levanta no nosso país um político que pretenda formar governo usando elementos de um gang. Quem apostaria em tal? Quais as probabilidades de sucesso? Decerto seriam nulas! Mas foi desta forma que Jesus procedeu. Relata-nos o evangelista S. Mateus: “E Jesus, andando junto ao mar da Galileia, viu dois irmãos, Pedro e André, lançando redes ao mar e disse-lhes: vinde após mim. E, adiantando-se dali, viu outros dois irmãos, Tiago e João, num barco, com seu pai, consertando as redes; e chamou-os” (Mateus 4:18-21). Todo o líder político que se preze escolhe a dedo os elementos do seu grupo, pessoas aptas e bem preparadas para os fins a atingir. Jesus investiu tempo nas escolhas que fez, dizendo: “e eu vos farei pescadores de homens”. Durante mais de três anos os jovens galileus seguiram o seu Mestre em todas as suas deslocações, foram incumbidos de missões, ouviram seus sermões, presenciaram milagres e ressurreições. Por fim surge o teste final, Judas trai Jesus e Ele é preso. Os discípulos, deixando-o, fugiram. Pedro nega-o até à terceira vez, praguejando. Por vezes são estas as consequências de um amor à primeira vista. E desta forma acabou só, o mais amável dos homens, pendurado numa cruz, maltratado, escarnecido e zombado, onde até mesmo Aquele a quem Ele chamou de Pai “o desamparou”. Por fim rendeu o Seu espírito e expirou. Se a história de Jesus acabasse aqui, poderíamos considerá-lo o mais infeliz de todos os homens. No entanto, tudo aconteceu com uma notável precisão cirúrgica, dando cumprimento, dessa forma, a todas as profecias a Seu respeito. E a última foi: “O Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu, de mim mesmo, a dou; tenho poder para a dar e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai.” (João 10:18-19). Os discípulos só compreenderam todos os ensinamentos do seu Mestre após a Sua ressurreição. A partir daí tornaram-se intrépidos e ousados com a unção do Espírito Santo no dia de Pentecostes, aptos para toda a boa obra, para a qual haviam sido preparados: serem verdadeiros pescadores de homens. O chamamento de Jesus, “Vinde após mim e eu vos farei pescadores de homens”, é um convite que se estende até nós. Ele ordenou aos seus discípulos: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, baptizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo; e eis que estou convosco todos os dias até à consumação dos séculos.” (Mateus 28:18-20). Seguir Jesus é um desafio para o qual à partida não estamos preparados. Tal como aqueles pescadores da Galileia, temos de admitir que somos embrutecidos e, como o barro ás mãos do oleiro, necessitamos de ser moldados por Deus a cada dia. Com as adversidades da vida também nós muitas vezes traímos, negamos e abandonamos o nosso Mestre. Existem hoje alguns movimentos religiosos que, em nome de Jesus, prometem prosperidade financeira e a resolução de todos os problemas concernentes a esta vida. No entanto, o Senhor Jesus afirmou: “As raposas têm covis e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça. Os pobres sempre os tereis. Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me. Neste mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” Jesus de forma alguma desprezava a breve existência do homem sobre a face da terra, mas considerava seriamente as prioridades, dizendo: “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim, não é digno de mim, e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim, não é digno de mim.” (Mateus 10:37-38). “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubem. Porque, onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. Não andeis cuidadosos, quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não andeis pois inquietos, dizendo: que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? Decerto vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas essas coisas; mas buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” (Mateus 6:19-34). Também o apóstolo S. Paulo nos adverte: “Nada trouxemos para o mundo e manifesto é que nada poderemos levar dele. Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes. Mas os que querem ser ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e na ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males.” (1 Timóteo 6:7-10) “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à dextra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima e não nas que são da terra.” (Colossenses 3:12).

O convite de Jesus no passado, “Vinde após mim”, agora para nós, os que já fomos lavados por Ele, mediante a Sua palavra, através do batismo, torna-se imperativo e pessoal. Dialogando com Pedro junto ao mar de Tiberíades, Jesus por três vezes lhe perguntou: “Simão, filho de Jonas, amas-me? À terceira vez, Pedro entristecido, responde-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas. E Pedro, voltando-se, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava e perguntou-lhe: Senhor, e deste que será? Ao que o Mestre lhe respondeu: Se eu quero que João fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu.” (João 21:15-22).
 

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