Nós, Igreja do século XXI, também
temos nobre missão, a de dar testemunho da verdade! Se o Mestre hoje nos
inquirisse e nos pedisse contas de nossa mordomia, que relatório lhe
apresentaríamos? O grande estadista Mahatma Gandhi morreu hindu, porque os
cristãos seus contemporâneos não eram convincentes. Ele entendia que uma rosa
deveria ter o perfume a rosa. Escreve o apóstolo S. Paulo: “Porque para Deus,
somos o bom cheiro de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. E manifesto
é que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta,
mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de
carne do coração.” (2 Coríntios 2:15; 3:3).
Tudo o que as pessoas possam vir
a dizer ou a pensar de Jesus é o reflexo daquilo que observam nos cristãos.
Pouco adiantará termos uma Bíblia numa estante, andar com ela debaixo do braço,
ir a uma missa católica ou culto evangélico, se não formos unânimes, se não
tivermos um mesmo sentimento, um mesmo amor e ânimo, se não considerarmos os
outros superiores a nós próprios, revelando, desta forma, o mesmo sentimento
que também havia em Cristo Jesus. Se assim não for esforçamo-nos em vão para
alcançar almas para ele. Vejamos como procedem os cristãos de nossos dias. Os
evangélicos dizem: “Os católicos dizem-se cristãos, mas na realidade não o
são.” Os católicos, por seu lado afirmam: “Os evangélicos (ou protestantes) são
os irmãos separados.” Por que procedem como se não fossem filhos do mesmo Deus,
e Cristo não fosse o Senhor de ambas as partes? Porquê este contínuo
desentendimento entre irmãos quando, na realidade, apenas divergem no tipo de
erro que cometem? Em que estamos nós, cristãos, a ser diferentes dos demais que
não têm fé? Admito que se afirme que a Igreja Católica é idólatra, pois possui
muitas imagens de devoção e culto, as quais as Escrituras condenam
contundentemente. Dou a mão à palmatória quando se põe em causa o papado e sua
hierarquia, pois disse Jesus: “Os reis dos gentios dominam sobre eles (gentios),
e os que têm autoridade sobre eles são chamados benfeitores. Mas não sereis
assim; antes, o maior entre vós seja como o menor; e quem governa, como quem
serve. Eu porém, entre vós, sou como aquele que serve.” (Lucas 22:25-27). A
devoção a Maria é simplesmente extra-bíblica e se opõe à humildade que lhe era
peculiar. No evangelho de S. Lucas ela expressa-se da seguinte forma: “A minha
alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador,
porque atentou na baixeza da sua serva; pois eis que, desde agora, todas as
gerações me chamarão bem-aventurada (feliz), porque me fez grandes coisas o
Poderoso; e santo é o seu nome.” (Lucas 1:46-49). Numa das poucas intervenções
de Maria registadas nas Escrituras, aquando das bodas de Caná da Galileia, ela
comporta-se da seguinte maneira em relação a Jesus, dizendo aos serventes:
“Fazei tudo o que ele vos disser.” (João 2:5).
Durante o seu ministério, Jesus
disse muitas coisas e deixou de dizer outras tantas porque os seus discípulos
não o poderiam suportar naquele momento (João 16:12). No entanto, anda meio
mundo seguindo Maria religiosamente, fazendo aquilo que ela supostamente disse,
quando nunca o disse. Se hoje pretendemos ter Maria como referência, então
sigamos-lhe o exemplo conforme registado no livro dos Actos dos Apóstolos:
“Todos perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres e Maria,
mãe de Jesus, e com seus irmãos.” (Actos 1:14). Quanto às revelações da virgem
em Fátima e por todo o mundo, lamento muito, mas isso é um outro evangelho de
que fala Paulo: “Mas ainda que nós mesmos, ou um anjo do céu, vos anuncie outro
evangelho, além do que já vos tenho anunciado, seja anátema (maldito).”
(Gálatas 1:8).
Mas onde está a virtude
evangélica? Será este ramo do Cristianismo assim tão coerente com as Escrituras
ao ponto de considerar os católicos não-cristãos? Façamos também uma breve
análise. Disse Jesus: “Quem crer e for batizado será salvo.” (Marcos 16:16).
Dizem os evangélicos: “O batismo nada tem a ver com a salvação.” Disse Jesus:
“Deixai vir a mim as criancinhas.” Eles simplesmente negam o batismo de
infantes. Escreve S. Paulo: “Há um só corpo e um só Espírito, uma só esperança,
um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é
sobre todos, e por todos, e em todos.” (Efésios 4:4-6). No entanto rebatizam
todas as pessoas que outrora foram batizadas em criança. No dia da grande ceia
Pascal, Jesus tomou o pão e ofereceu corpo, tomou o cálice e ofereceu sangue.
Quando celebram a ceia simplesmente não reconhecem a presença do corpo e do
sangue, por se tratarem apenas de elementos simbólicos para justificar o
memorial. Não pretendo ocupar demasiado tempo tentando encontrar os contras de
ambas as partes, mas o facto é que se queremos usar honradamente o nome de
cristãos só há um caminho. “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se
vos amardes uns aos outros. (…) Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda,
esse é o que me ama.” (João 13:35; 14:21).
Para a primeira pergunta de Jesus
não encontro, infelizmente, resposta satisfatória por parte dos cristãos da
atualidade. Sinto-me de mãos vazias e entristeço-me perante o Senhor que tudo
fez por mim, restando-me apenas retribuir-Lhe, no pouco tempo que me resta,
defendendo e dando testemunho da verdade, nesta altura de quaresma e sempre que
me for oportuno. Quanto à segunda questão: “E vós, quem dizeis que eu sou?”,
creio que nem adianta tentarmos responder. Pedro foi muito espontâneo ao dizer:
“Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!” Jesus, porém, lhe disse: “Não to
revelou a carne e o sangue, mas meu Pai que está nos céus.” Quando conseguirmos
responder satisfatoriamente à primeira pergunta, “Quem dizem os homens que eu
sou?”, talvez Deus nos revele algo de extraordinário em relação a Jesus. Pressinto
que seja rude o meu falar e o leitor talvez se questione onde, afinal, está a
verdade? Pouco adianta abandonarmos um erro se depois vamos abraçar outro. É
necessário corrigi-los, respeitar as diferenças e prosseguir para o alvo, pelo
prémio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (Filipenses 3:14).
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