segunda-feira, 14 de abril de 2014

Quem dizem os homens que eu sou?

Durante o seu ministério na terra Jesus intrigou e surpreendeu as pessoas das mais variadas formas. Ele era um exímio contador de histórias. Os seus ensinos não eram como os demais religiosos, pois demonstrava sabedoria e autoridade. O seu estilo de vida era simples e contagiante. Quando questionado a sua eloquência era notória, quando inquiria emudecia os mais sábios. Mas um dia, indo de caminho com os seus discípulos, interrogou-os com duas perguntas que ainda hoje ecoam no tempo, ferem a nossa mente e inquietam o coração: “Quem dizem os homens que eu sou?” e “Quem dizeis vós que eu sou?” (Marcos 8:27, 29). Não consigo alhear-me delas. Soam-me tão nitidamente como se naquele momento eu lá estivesse e fico a pensar na resposta que teria para dar. Hoje existem as mais diversas opiniões a respeito de Jesus e até confesso que não são desprestigiantes, mas também creio estarem longe de serem satisfatórias. À primeira questão do Mestre, os discípulos responderam: “Há quem diga que és João Baptista, outros que és Elias; mas ainda outros acham que poderás ser algum dos profetas.” Os discípulos haviam sido incumbidos da mais nobre missão, estavam entusiasmados com os resultados, pois Jesus havia-lhes dado poder para curar enfermos, limpar leprosos, ressuscitar mortos e expulsar demónios. Tudo lhes correra da melhor forma e a sua mensagem havia sido tão autêntica e convincente que as pessoas identificavam Jesus com as mais nobres figuras da história de Israel.

Nós, Igreja do século XXI, também temos nobre missão, a de dar testemunho da verdade! Se o Mestre hoje nos inquirisse e nos pedisse contas de nossa mordomia, que relatório lhe apresentaríamos? O grande estadista Mahatma Gandhi morreu hindu, porque os cristãos seus contemporâneos não eram convincentes. Ele entendia que uma rosa deveria ter o perfume a rosa. Escreve o apóstolo S. Paulo: “Porque para Deus, somos o bom cheiro de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. E manifesto é que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração.” (2 Coríntios 2:15; 3:3).

Tudo o que as pessoas possam vir a dizer ou a pensar de Jesus é o reflexo daquilo que observam nos cristãos. Pouco adiantará termos uma Bíblia numa estante, andar com ela debaixo do braço, ir a uma missa católica ou culto evangélico, se não formos unânimes, se não tivermos um mesmo sentimento, um mesmo amor e ânimo, se não considerarmos os outros superiores a nós próprios, revelando, desta forma, o mesmo sentimento que também havia em Cristo Jesus. Se assim não for esforçamo-nos em vão para alcançar almas para ele. Vejamos como procedem os cristãos de nossos dias. Os evangélicos dizem: “Os católicos dizem-se cristãos, mas na realidade não o são.” Os católicos, por seu lado afirmam: “Os evangélicos (ou protestantes) são os irmãos separados.” Por que procedem como se não fossem filhos do mesmo Deus, e Cristo não fosse o Senhor de ambas as partes? Porquê este contínuo desentendimento entre irmãos quando, na realidade, apenas divergem no tipo de erro que cometem? Em que estamos nós, cristãos, a ser diferentes dos demais que não têm fé? Admito que se afirme que a Igreja Católica é idólatra, pois possui muitas imagens de devoção e culto, as quais as Escrituras condenam contundentemente. Dou a mão à palmatória quando se põe em causa o papado e sua hierarquia, pois disse Jesus: “Os reis dos gentios dominam sobre eles (gentios), e os que têm autoridade sobre eles são chamados benfeitores. Mas não sereis assim; antes, o maior entre vós seja como o menor; e quem governa, como quem serve. Eu porém, entre vós, sou como aquele que serve.” (Lucas 22:25-27). A devoção a Maria é simplesmente extra-bíblica e se opõe à humildade que lhe era peculiar. No evangelho de S. Lucas ela expressa-se da seguinte forma: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque atentou na baixeza da sua serva; pois eis que, desde agora, todas as gerações me chamarão bem-aventurada (feliz), porque me fez grandes coisas o Poderoso; e santo é o seu nome.” (Lucas 1:46-49). Numa das poucas intervenções de Maria registadas nas Escrituras, aquando das bodas de Caná da Galileia, ela comporta-se da seguinte maneira em relação a Jesus, dizendo aos serventes: “Fazei tudo o que ele vos disser.” (João 2:5).

Durante o seu ministério, Jesus disse muitas coisas e deixou de dizer outras tantas porque os seus discípulos não o poderiam suportar naquele momento (João 16:12). No entanto, anda meio mundo seguindo Maria religiosamente, fazendo aquilo que ela supostamente disse, quando nunca o disse. Se hoje pretendemos ter Maria como referência, então sigamos-lhe o exemplo conforme registado no livro dos Actos dos Apóstolos: “Todos perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres e Maria, mãe de Jesus, e com seus irmãos.” (Actos 1:14). Quanto às revelações da virgem em Fátima e por todo o mundo, lamento muito, mas isso é um outro evangelho de que fala Paulo: “Mas ainda que nós mesmos, ou um anjo do céu, vos anuncie outro evangelho, além do que já vos tenho anunciado, seja anátema (maldito).” (Gálatas 1:8).

Mas onde está a virtude evangélica? Será este ramo do Cristianismo assim tão coerente com as Escrituras ao ponto de considerar os católicos não-cristãos? Façamos também uma breve análise. Disse Jesus: “Quem crer e for batizado será salvo.” (Marcos 16:16). Dizem os evangélicos: “O batismo nada tem a ver com a salvação.” Disse Jesus: “Deixai vir a mim as criancinhas.” Eles simplesmente negam o batismo de infantes. Escreve S. Paulo: “Há um só corpo e um só Espírito, uma só esperança, um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e em todos.” (Efésios 4:4-6). No entanto rebatizam todas as pessoas que outrora foram batizadas em criança. No dia da grande ceia Pascal, Jesus tomou o pão e ofereceu corpo, tomou o cálice e ofereceu sangue. Quando celebram a ceia simplesmente não reconhecem a presença do corpo e do sangue, por se tratarem apenas de elementos simbólicos para justificar o memorial. Não pretendo ocupar demasiado tempo tentando encontrar os contras de ambas as partes, mas o facto é que se queremos usar honradamente o nome de cristãos só há um caminho. “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros. (…) Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama.” (João 13:35; 14:21).

Para a primeira pergunta de Jesus não encontro, infelizmente, resposta satisfatória por parte dos cristãos da atualidade. Sinto-me de mãos vazias e entristeço-me perante o Senhor que tudo fez por mim, restando-me apenas retribuir-Lhe, no pouco tempo que me resta, defendendo e dando testemunho da verdade, nesta altura de quaresma e sempre que me for oportuno. Quanto à segunda questão: “E vós, quem dizeis que eu sou?”, creio que nem adianta tentarmos responder. Pedro foi muito espontâneo ao dizer: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!” Jesus, porém, lhe disse: “Não to revelou a carne e o sangue, mas meu Pai que está nos céus.” Quando conseguirmos responder satisfatoriamente à primeira pergunta, “Quem dizem os homens que eu sou?”, talvez Deus nos revele algo de extraordinário em relação a Jesus. Pressinto que seja rude o meu falar e o leitor talvez se questione onde, afinal, está a verdade? Pouco adianta abandonarmos um erro se depois vamos abraçar outro. É necessário corrigi-los, respeitar as diferenças e prosseguir para o alvo, pelo prémio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (Filipenses 3:14).   
 
  

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