quarta-feira, 16 de abril de 2014

Porquê a Cruz?

“Importa, porém, caminhar hoje, amanhã e no dia seguinte, para que não suceda que morra um profeta fora de Jerusalém”, respondeu Jesus aos fariseus, que lhe trouxeram a notícia de que Herodes o queria matar (Lucas 13:33).
Porquê a cruz? Esta é uma pergunta pertinente. Não foi por mim sugerida com o pretexto de criar mais um tema para reflexão nesta época quaresmal, mas foi-me dirigida por um amigo de muita estima. Não sei quais são os conceitos do leitor em relação a todos os acontecimentos concernentes a Jesus no que diz respeito à sua paixão e morte, mas há um facto que não podemos deixar de ponderar: o carpinteiro de Nazaré tinha a ideia fixa de que ninguém o conseguia demover. Antecipadamente começou a dizer aos seus discípulos que lhe “convinha ir a Jerusalém e padecer muito dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto”… (Mateus 16:21).
O início do seu ministério foi em pequenas cidades e povoados, mas à medida que o fim se aproximava o seu alvo principal incidia para a grande Jerusalém e, como que atraído por um íman, dirigia-se sem vacilar para o local do seu suplício. Terá Jesus sido vítima da sua própria ideologia e de uma sociedade corrupta em que a religião servia mais os interesses dos homens do que a vontade de Deus? Seria o Cristo tomado por sentimentos de masoquismo?
Poderá ser que, por ignorância, pensemos coisas como estas ou outras do género, mas também é natural que com o passar dos séculos se volte a questionar: porquê a cruz? No passado ela foi usada como instrumento de suplício por vários povos da antiguidade, como os Assírios, os Persas, os Fenícios, os Egípcios, Gregos e Romanos. Posteriormente outros métodos foram usados, como por exemplo a forca, a câmara de gás, a cadeira eléctrica, a injecção letal, etc, como forma de castigar o mal, repor a justiça e a ordem para que as pessoas de bem pudessem viver com o mínimo de segurança e tranquilidade. Hoje, nos países que se dizem mais civilizados, apenas se atribui a prisão perpétua como pena máxima. O que tem Jesus a ver com tudo isto, sendo ele o mais gentil de todos os homens? Parece uma peça fora do puzzle, encaixada à força para preencher o vazio.
Porquê a cruz? “Porquanto o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus…” (Deuteronómio 21:23b). Cristo, o único ser vivo que nunca pecou, o próprio Filho de Deus, foi considerado maldito? Porquê? O apóstolo Paulo, na sua carta à igreja em Roma, diz: “Porque o salário do pecado é a morte…” (Romanos 6:23). “Portanto, assim como por um só homem (Adão) entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens porque todos pecaram.” (Romanos 5:12). Se a história terminasse aqui estaríamos irremediavelmente condenados, mas pela graça e misericórdia de Deus, Cristo veio pagar o preço que nós não conseguiríamos pagar, oferecendo-se a Si mesmo na cruz como sacrifício para resgate de todo aquele que nele crer. “Pois, assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só acto de justiça veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Porque, como pela desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores, assim também por meio da obediência de um só muitos se tornarão justos.” (Romanos 5:18, 19).
Quando entro no meu quarto e contemplo o crucifixo, entristeço-me pensando: Senhor, tudo isso padeceste por mim, em meu lugar. Fizeste-te mortal para que eu pudesse viver eternamente.
Durante o seu ministério, o Senhor Jesus sempre procurou sítios estratégicos como um monte, uma praia ou um simples barquinho para se poder fazer ouvir e ser perceptível aos seus ouvintes, mas, no entanto, para poder falar ao mundo inteiro necessitou subir ao alto da cruz, símbolo de horror, dor e vergonha e, para nós Cristãos, também símbolo da vitória de Cristo sobre o pecado e a morte. Ela foi o palco da mais bela história de amor. Nem mesmo Romeu e Julieta, que tanto têm inspirado jovens apaixonados, se pode equiparar ou servir de ilustração do quanto Deus amou a humanidade, pois, desconhecendo o poder do amor de Deus, que tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta, o amor genuíno que nunca falha (1 Coríntios 13:7-8), puseram termo às suas vidas. Mas Deus se apaixonou de tal maneira por uma humanidade que sempre andou de costas voltadas para Ele, ao ponto de entregar à morte o seu único Filho, para que todo aquele que nele crê não morra (espiritualmente), mas tenha a vida eterna (João 3:16).
Se a cruz falasse e pudesse expressar quanta angústia passou por ver o sofrimento, sem sequer um lamento, de quem tanto nos amou, certamente perceberíamos quão intenso e incondicional foi o amor de Deus pela coroa da sua criação. Do alto da cruz, usando-a, qual tribuna, o Filho de Deus proferiu sinteticamente toda a essência do seu ministério. Nem mesmo em meio a tanto sofrimento Ele baixou os braços, sustentados por dois cravos junto a uma trave, ou perdeu a lucidez sofrendo tamanha dor, mas, esquecendo-se de si próprio, cuidou com todo o carinho de todos quantos estavam à sua volta. Aos seus carrascos e aos que dele zombavam, disse: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem.” Ao malfeitor que estava ao seu lado no mesmo suplício, confortou-o, dizendo: “Hoje estarás comigo no paraíso.” À sua mãe, que ficara desfilhada, amparou-a com o discípulo amado, ao dizer: “Mulher, eis aí teu filho.” E para que nada da Escritura ficasse por cumprir a seu respeito, disse: “Tenho sede” e humanamente bradou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Depois de tomar o vinagre, percebendo que estava próximo o fim e que tudo a que se propusera estava concluído, clamou com grande voz: “Está consumado. Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.”

Porquê a cruz? Através dela toda a terra foi regada com sangue divino e ao terceiro dia o Lírio dos Vales, Rosa de Sharon, de novo brotou e o mundo tenebroso encheu-se de flores e, ainda que Cristãos muito falhos, somos para Deus o bom cheiro de Cristo (2 Coríntios 2:16).  


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