Chegando Jesus à Nazaré, onde
fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga e
levantou-se para ler. Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías e, ao abri-lo,
achou o lugar onde estava escrito: “O espírito Santo é sobre mim, pois que me
ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados de coração,
a apregoar liberdade aos cativos, e a dar vista aos cegos; a pôr em liberdade
os oprimidos; a anunciar o ano aceitável do Senhor. E, fechando o livro, disse:
“Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos.” (Lucas 4:16-21). É algo bem
notório: conhecemos muito pouco a respeito de Jesus e ainda muito menos acerca
da sua missão. Um dia ouvi um sacerdote dizer: “Infelizmente nós não lemos a
Bíblia!” Isto é gritante, para mais partindo de um clérigo o que me leva a
questionar: Em que cremos? O que pregamos? Por que pregamos? Certamente não é
de admirar que se pregue tanto sobre algo que nada tem a ver com as Escrituras
sagradas. O Nazareno, quando tomou o livro de Isaías e leu a profecia narrada a
seu respeito, tinha a perfeita noção de quem era e qual era a sua missão. Entre
muitas outras a mais sublime é o anúncio do ano aceitável do Senhor. Não é
necessário ser-se muito culto para se entender que Jesus não estava falando de
um período de tempo limitado por dias, semanas ou meses, mas sim algo que se
tem estendido até nós e até enquanto a sua misericórdia perdurar.
Durante esse período, chamado o
Ano Aceitável do Senhor, o filho do Altíssimo Deus veio também para estabelecer
um reino. Ao comissionar os seus doze apóstolos, ordenou-lhes, dizendo: “Ide,
pregai, é chegado o reino dos Céus.” (Mateus 10:7). Numa outra situação, quando
confrontado com os fariseus, disse: “Se, porém, eu expulso os demónios pelo
Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós.” (Mateus
12:28). Infelizmente creio termos um conceito muito errado sobre este assunto.
Quando se fala do reino de Deus ou dos Céus, transpomos isso para um futuro que
ultrapassa os limites da morte, o que, inconscientemente nos leva a viver uma
vida tal, quase se de uma anarquia se tratasse. Não pode haver reino sem que
haja rei, assim como não há família sem pai, e no reino de Deus só pode haver
um rei. Disse Jesus a Pilatos: “Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci, e
para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é
da verdade ouve a minha voz.” (João 18:37). A Igreja é o corpo místico de
Cristo aqui na terra e tem a obrigação de continuar a Sua obra, a de dar
testemunho da verdade. Mas como o pode fazer se a Bíblia não é consultada?
Disse Jesus em Sua oração sacerdotal: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é
a verdade.” (João 17:17). Jesus também disse a Pilatos: “O meu reino não é
deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para
que eu não fosse entregue aos judeus; mas, agora, o meu reino não é daqui”.
(João 18:36). Mas se então o reino de Jesus não é deste mundo, como podemos ser
governados por Ele? Proferiu Jesus: “Aquele que tem os meus mandamentos, e
guarda-os, esse é o que me ama; e, aquele que me ama, será amado de meu Pai, e
eu o amarei, e me manifestarei a ele. Se alguém me ama, guardará a minha
palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada. Quem não
me ama não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que ouviste não é minha,
mas do Pai que me enviou.” (João 14:21, 23-24). É impossível a Igreja ser
governada por Cristo se não fizer bom uso da Bíblia nem conhecer os mandamentos
de Jesus nela contidos. Ele disse aos fariseus: “Examinais as escrituras porque
vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam” (João
5:39). Os fariseus pelo menos consultavam as Escrituras, mas nós Cristãos nem
isso fazemos! Apregoar um reino do qual nem os estatutos conhecemos é uma
utopia! Cristo é a cabeça da Igreja, só Ele. E só a Ele ela deve estar sujeita,
porque muito a amou “e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar,
purificando-a com a lavagem da água, pela Palavra, para a apresentar a si
mesmo, Igreja gloriosa, sem mácula nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e
irrepreensível” (Efésios 5:25b-27). “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda
a palavra que sai da boca de Deus”, disse Jesus. A palavra de Deus é alimento e
o povo do Seu reino perece faminto por falta de conhecimento, alimentando-se
erroneamente de heresias e dogmas que são preceitos de homens. A Santa Palavra
de Deus é o Seu mais precioso legado ao ser humano e só há um lugar onde ela
pode ser guardada com proeminência, de acordo com o autor do Salmo 119: “Escondi
a tua palavra no meu coração, para não pecar contra ti. Bendito és tu ó Senhor;
ensina-me os teus estatutos.” (Salmos 119:11-12).
Estamos em tempo de Quaresma, que
é propício para reflexão. Consideremos isto, que à Igreja o seu Senhor a
incumbiu da mais sublime missão na terra. O apóstolo Pedro escreveu: “Mas vós
sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para
que anunciais as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz; vós que em outro tempo não éreis povo, mas agora sois povo de
Deus; que não tínheis alcançado misericórdia, mas agora alcançastes
misericórdia.” (I Pedro 2:9-10). É tempo de escutarmos a voz do Senhor, de
consultarmos a Sua Palavra, de obedecermos os seus mandamentos e não deturparmos
os Seus ensinos. Diz o Senhor da Igreja: “Eis que cedo venho, e o meu galardão
está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra. Porque eu testifico a todo
aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que se alguém que se
alguém lhe acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que
estão escritas neste livro; e, se alguém tirar quaisquer palavras do livro
desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, e da cidade santa,
que estão escritas neste livro. Aquele que testifica estas coisas diz:
“Certamente cedo venho. Amén!”(Apocalipse 22:12, 18-20).
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