“Santa
Ceia”, “Comunhão”, “Ceia do Senhor”, são algumas das designações usadas para
definir aquilo a que alguns também chamam de “Sacramento do Altar”. Não me
preocupa os termos usados para descrever este memorial, mas sim aquilo que se
crê a respeito dele e a forma como o praticamos.
Na
minha opinião é lamentável e muito preocupante que, em nosso tempo, estejamos
tão aquém das expectativas de Deus no que diz respeito à instituição eucarística
de Cristo. Toda a sua vida foi em função do sacrifício expiatório. Disse Jesus:
“Desejei muito comer convosco esta Páscoa antes que padeça” (Lucas 22:15).
Algum tempo antes de estabelecer a ceia, Jesus proferiu um discurso que alguns
discípulos classificaram de muito duro e insuportável de se ouvir: “Eu sou o
pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o
pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo. Quem come a
minha carne, e bebe o meu sangue, tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no
último dia. Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue
verdadeiramente é bebida. Quem come a minha carne, e bebe o meu sangue
permanece em mim e eu nele.” (João 6:51-56).
Há
quem não relacione este texto das Escrituras com a instituição eucarística, mas
creio estarem profundamente ligados, como podemos observar na última ceia.
Jesus tomou o pão e disse: “Tomai e comei, isto é o meu corpo”. Depois, pegando
no cálice, disse: “Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue.” O Senhor
afirmou de forma enfática: “Na verdade, na verdade vos digo que, se não
comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida
em vós mesmos.” (João 6:53).
Tudo
aquilo que nos é dado a conhecer nas Escrituras leva-nos a crer que a Ceia do
Senhor é algo demasiado sério para que seja praticado de forma, por vezes,
leviana e, em muitos casos, inadequada. Na noite em que foi traído, Jesus tomou
pão e ofereceu corpo, tomou vinho e ofereceu sangue. No entanto, domingo após
domingo, os sacerdotes oferecem unicamente corpo aos seus leigos, ficando o
verdadeiro e completo sacramento só para eles, visto que têm exclusividade
sobre o vinho, contrariando desta forma a ordem de Jesus: “Bebei dele todos.” O
sacramento só é real quando correctamente ministrado. Por outro lado, existem
alguns grupos de Cristãos que usam correctamente os elementos pão e vinho, mas
negam a presença real do corpo e sangue do Senhor, por se tratar apenas de uma
ordenança e um memorial. Compreendo que para a nossa mente humana e carnal seja
difícil aceitar que o corpo e o sangue de Jesus possam estar presentes na
celebração eucarística, mas naquilo em que a nossa razão é contrariada é uma
boa oportunidade para fazermos uso da fé.
Pode
alguém questionar: “Como podemos ter hoje comunhão com o corpo e sangue do Senhor
se ele já morreu há tanto tempo?” Se os discípulos tomaram corpo e beberam
sangue, mesmo antes que Jesus fosse sacrificado, muito mais nós, uma vez que Cristo
já foi morto. Isto é um mistério que pertence a Deus, o qual devemos aceitar e
não deturpar, dando a entender que os elementos são apenas símbolos e que o
acto é apenas um memorial e nada mais. O apóstolo São Paulo escreve o seguinte:
“Falo como a entendidos; julgai vós mesmos o que eu digo. Porventura o cálice
de bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que
partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo?” (1 Coríntios 10:16).
Estava
certo dia a conversar com um membro de uma igreja ortodoxa, quando ele disse
algo que me deixou a pensar e que se tornaria para mim na definição mais
simples e compreensível do que é o sacramento do altar: “Na mesa do Senhor
existem quatro elementos: pão, vinho, corpo e sangue.” Isto está em perfeita
harmonia com a citação do apóstolo S. Paulo atrás mencionada. No século XVI o
Dr. Martinho Lutero dizia que junto com o pão e o vinho tínhamos real comunhão
com o corpo e sangue de Cristo.
Sou
apenas um leigo e não pretendo ser juiz de ninguém, muito menos da Igreja do
Senhor. Apenas me deleito em meditar na Sua Palavra que é “lâmpada para os meus
pés e luz para o meu caminho” (Salmos 119:105). Também é “viva e eficaz, e mais
penetrante do que espada alguma de dois gumes, e é apta para discernir os
pensamentos e intenções do coração. E não há criatura alguma encoberta diante
de Deus; antes, todas as coisas estão nuas e patentes, aos olhos daquele a quem
temos de prestar contas.” (Hebreus 4:12,13).
A igreja Cristã do presente tem subestimado em larga
escala o valor eucarístico da ceia, quase à semelhança do que acontecia na
igreja de Corinto, conforme lemos na carta que Paulo lhes escreveu: “Nisto,
porém, que vou dizer-vos não vos louvo; porquanto vos ajuntais, não para
melhor, senão para pior. Porque antes de tudo ouço que, quando vos ajuntais na
igreja, há entre vós dissensões; e em parte o creio. E até importa que haja
entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós. De
sorte que, quando vos ajuntais num lugar, não é para comer a ceia do Senhor. Porque,
comendo, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia; e assim um tem fome e
outro embriaga-se. Não tendes porventura casas para comer e para beber? Ou
desprezais a igreja de Deus, e envergonhais os que nada têm? Que vos direi?
Louvar-vos-ei? Nisto não vos louvo. Porque eu recebi do Senhor o que também vos
ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; E, tendo
dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido
por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear,
tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei
isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que
comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que
venha. Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor
indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o
homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come
e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o
corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos
que morrem.” (1 Coríntios 11:17-30).
A
ceia do Senhor é toda ela envolta em mistério e riqueza espiritual, sendo um
memorial e, ao mesmo tempo, palavra viva e alimento que aumenta a nossa fé,
trazendo remissão de pecados, conforme Mateus 26:28. Acho que deveríamos
aproveitar esta época quaresmal para reflectirmos profundamente sobre aquilo em
que cremos e praticamos, examinando-se cada um a si mesmo, e apelo em especial
aos líderes religiosos, que maior responsabilidade têm, para que não entrem em
condenação e sejam culpados do corpo e do sangue do Senhor.
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