Na noite em que Jesus celebrou
a última ceia pascal, disse aos seus discípulos: “Desejei muito comer convosco
esta páscoa, antes que padeça; porque vos digo que não a comerei mais, até que
ela se cumpra no reino de Deus.” Lc 22:15, 16.
Esta festa anual já era
praticada pelo povo hebreu desde o tempo em que fora liberto por Deus com mão
forte através do seu servo Moisés, da escravatura no Egipto. Páscoa é um termo
hebraico que significa passagem e nesta grande festa o povo anualmente
comemorava a grande vitória, ou seja, a passagem de uma condição de escravos,
para uma nova realidade de seres livres numa terra abundante, onde Deus era o
único ser supremo.
A partir da
ressurreição de Cristo a Páscoa adquiriu um novo sentido, passou a significar
para nós cristãos, a vitória de Jesus sobre o diabo, o pecado e a morte, assim
como a nossa libertação do mundo das trevas e do inferno, tornou-se assim a
nossa passagem da condição de pecadores oprimidos pelo diabo com destino à
condenação eterna, para a nova realidade de cidadãos do reino dos céus.
Infelizmente, hoje,
apesar de a Páscoa ser a mais importante festa da cristandade, os cristãos de
forma generalizada não lhe atribui o verdadeiro significado. Com o passar dos
tempos foi-se tornando mais uma festa, assim como o Natal, é mais um motivo
comercial e de encontro entre familiares e amigos.
Faz parte da cultura
cristã, nesta época falar-se da ressurreição, as pessoas afluem aos grandes
templos parecendo devotas, mas no fundo o único facto em que acreditam é que a
morte e a sepultura são o fim mais certo.
Os cristãos têm-se
tornado racionalistas e a ressurreição é algo que contraria a nossa lógica, é
cientificamente improvável, mas como a ciência é um progressivo acumular de
conhecimentos, com o passar dos anos ele vai caducando e necessita constantemente
de ser actualizada, por isso resta-nos apenas acreditar nas escrituras
sagradas, que através dos séculos têm resistido a todo o tipo de provações até
mesmo àqueles que deturpam os seus ensinos.
Todo o ser humano tem
consciência de que o colapso existencial é inevitável, no entanto luta
desesperadamente para retardar o mais possível esse facto, temos consciência da
nossa existência, mas o fim dela parece-nos absurdo.
Actualmente falar de
ressurreição convictamente, certamente corre-se o risco de se ser motivo de
chacota à semelhança daquilo que aconteceu com o apóstolo S. Paulo: “E como o
ouviram falar da ressurreição dos mortos, uns escarneciam, e outros diziam:
Acerca disto te ouviremos outra vez.” Actos 17:32. Isto aconteceu em praça
pública, mas o mesmo apóstolo teve maiores problemas dentro da própria igreja e
escreveu o seguinte: “Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como
dizem alguns de entre vós que não há ressurreição de mortos? E se não há
ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou; e, se Cristo não
ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé… e ainda
permaneceis nos vossos pecados; e os que morreram em Cristo estão perdidos. Se
esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens
e nos constituímos falsas testemunhas de Deus.” I Cor 15:12-19.
Se subtrairmos ao
cristianismo a ressurreição dos mortos resta-nos apenas uma forma religiosa de
estar na vida como tantas outras, que segundo Paulo é a mais miserável de
todas, pois que não está cumprindo com o seu verdadeiro objectivo que é a
esperança de vida eterna.
Apesar da ressurreição
de Cristo pertencer à esfera da fé, isso não significa que ela seja fruto do
imaginário humano, nem aconteceu num beco qualquer, escreve o grande apóstolo dos
gentios: “Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo
morreu pelos nossos pecados, segundo as escrituras, e que foi sepultado, e que
ressuscitou ao terceiro dia, segundo as escrituras, e que foi visto por Cefas,
e depois pelos doze. Depois foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos,
dos quais vive, ainda, a maior parte… Depois foi visto por Tiago, depois por
todos os apóstolos. E, por derradeiro de todos, me apareceu também a mim, como
a um abortivo. Porque sou o menor dos apóstolos, que não sou digno de ser
chamado apóstolo, pois que persegui a igreja de Deus.” I Cor 15:3-9.
O maior personagem de
toda a história da humanidade, dedicou os seus últimos três anos de vida a um
único ideal: morrer e ressuscitar. Desde muito cedo começou a mostrar aos seus
discípulos, que convinha ir a Jerusalém, e padecer muito dos anciãos, e dos
princípios dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto, e ressuscitar ao
terceiro dia. Mt/6:21.
Tudo isto Jesus falou e
no que diz respeito à sua pessoa, tudo se concretizou e deu provas concludentes
de que o seu ideal não era fruto de um imaginário masoquista. No dia da
ressurreição apresentou-se no meio dos seus discípulos e disse: “Paz seja
convosco. E eles espantados e atemorizados, pensavam que viam algum espírito. E
Ele lhes disse: Por que estais perturbados, e por que sobem tais pensamentos
aos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo:
apalpai-me e vede; pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu
tenho. E dizendo isto mostrou-lhes as mãos e os pés. E não o crendo ainda, por
causa da alegria, e estando maravilhados disse-lhes: Tendes aqui alguma coisa
de comer? Então eles apresentaram-lhe parte de um peixe assado e um favo de
mel. O que Ele tomou e comeu diante deles. Então abriu-lhes o entendimento, para
compreenderem as escrituras. E disse-lhes: Assim está escrito, e assim convinha
que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dos mortos, e em seu
nome se pregasse o arrependimento e remissão dos pecados, em todas as nações,
começando por Jerusalém. E destas coisas sois vós testemunhas.” Lc 24:36-48.
Perante tudo o que
Jesus viveu, falou e os seus discípulos presenciaram, mesmo assim não há como
provar o facto da ressurreição, e por incrível que pareça creio que nem mesmo o
próprio Jesus está preocupado com isso. Tomé, o discípulo duvidoso que afirmou
crer somente quando tivesse provas palpáveis, recebeu a seguinte reprimenda: “não
sejas incrédulo, mas crente. Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os
que não viram e creram.” João 20:27, 29.
Estamos em tempo de
Páscoa, certamente muitos de nós cristãos temos muitas dúvidas quanto à nossa
fé, mas Jesus quer deixar-nos uma mensagem de esperança, assim como o fez
a Marta, irmã do defunto Lázaro, dizendo: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem
crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em
mim nunca morrerá. Crês ter isto?” João 11:25,26.
Caro leitor o futuro da
nossa existência depende somente da resposta que tivermos para dar a esta
pergunta de Jesus.
Feliz Páscoa!
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