domingo, 20 de abril de 2014

Eu sou a ressurreição e a vida


Na noite em que Jesus celebrou a última ceia pascal, disse aos seus discípulos: “Desejei muito comer convosco esta páscoa, antes que padeça; porque vos digo que não a comerei mais, até que ela se cumpra no reino de Deus.” Lc 22:15, 16.

Esta festa anual já era praticada pelo povo hebreu desde o tempo em que fora liberto por Deus com mão forte através do seu servo Moisés, da escravatura no Egipto. Páscoa é um termo hebraico que significa passagem e nesta grande festa o povo anualmente comemorava a grande vitória, ou seja, a passagem de uma condição de escravos, para uma nova realidade de seres livres numa terra abundante, onde Deus era o único ser supremo.

A partir da ressurreição de Cristo a Páscoa adquiriu um novo sentido, passou a significar para nós cristãos, a vitória de Jesus sobre o diabo, o pecado e a morte, assim como a nossa libertação do mundo das trevas e do inferno, tornou-se assim a nossa passagem da condição de pecadores oprimidos pelo diabo com destino à condenação eterna, para a nova realidade de cidadãos do reino dos céus.

Infelizmente, hoje, apesar de a Páscoa ser a mais importante festa da cristandade, os cristãos de forma generalizada não lhe atribui o verdadeiro significado. Com o passar dos tempos foi-se tornando mais uma festa, assim como o Natal, é mais um motivo comercial e de encontro entre familiares e amigos.

Faz parte da cultura cristã, nesta época falar-se da ressurreição, as pessoas afluem aos grandes templos parecendo devotas, mas no fundo o único facto em que acreditam é que a morte e a sepultura são o fim mais certo.

Os cristãos têm-se tornado racionalistas e a ressurreição é algo que contraria a nossa lógica, é cientificamente improvável, mas como a ciência é um progressivo acumular de conhecimentos, com o passar dos anos ele vai caducando e necessita constantemente de ser actualizada, por isso resta-nos apenas acreditar nas escrituras sagradas, que através dos séculos têm resistido a todo o tipo de provações até mesmo àqueles que deturpam os seus ensinos.

Todo o ser humano tem consciência de que o colapso existencial é inevitável, no entanto luta desesperadamente para retardar o mais possível esse facto, temos consciência da nossa existência, mas o fim dela parece-nos absurdo.

Actualmente falar de ressurreição convictamente, certamente corre-se o risco de se ser motivo de chacota à semelhança daquilo que aconteceu com o apóstolo S. Paulo: “E como o ouviram falar da ressurreição dos mortos, uns escarneciam, e outros diziam: Acerca disto te ouviremos outra vez.” Actos 17:32. Isto aconteceu em praça pública, mas o mesmo apóstolo teve maiores problemas dentro da própria igreja e escreveu o seguinte: “Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como dizem alguns de entre vós que não há ressurreição de mortos? E se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou; e, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé… e ainda permaneceis nos vossos pecados; e os que morreram em Cristo estão perdidos. Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens e nos constituímos falsas testemunhas de Deus.” I Cor 15:12-19.

Se subtrairmos ao cristianismo a ressurreição dos mortos resta-nos apenas uma forma religiosa de estar na vida como tantas outras, que segundo Paulo é a mais miserável de todas, pois que não está cumprindo com o seu verdadeiro objectivo que é a esperança de vida eterna.

Apesar da ressurreição de Cristo pertencer à esfera da fé, isso não significa que ela seja fruto do imaginário humano, nem aconteceu num beco qualquer, escreve o grande apóstolo dos gentios: “Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as escrituras, e que foi visto por Cefas, e depois pelos doze. Depois foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos, dos quais vive, ainda, a maior parte… Depois foi visto por Tiago, depois por todos os apóstolos. E, por derradeiro de todos, me apareceu também a mim, como a um abortivo. Porque sou o menor dos apóstolos, que não sou digno de ser chamado apóstolo, pois que persegui a igreja de Deus.” I Cor 15:3-9.

O maior personagem de toda a história da humanidade, dedicou os seus últimos três anos de vida a um único ideal: morrer e ressuscitar. Desde muito cedo começou a mostrar aos seus discípulos, que convinha ir a Jerusalém, e padecer muito dos anciãos, e dos princípios dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia. Mt/6:21.

Tudo isto Jesus falou e no que diz respeito à sua pessoa, tudo se concretizou e deu provas concludentes de que o seu ideal não era fruto de um imaginário masoquista. No dia da ressurreição apresentou-se no meio dos seus discípulos e disse: “Paz seja convosco. E eles espantados e atemorizados, pensavam que viam algum espírito. E Ele lhes disse: Por que estais perturbados, e por que sobem tais pensamentos aos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo: apalpai-me e vede; pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho. E dizendo isto mostrou-lhes as mãos e os pés. E não o crendo ainda, por causa da alegria, e estando maravilhados disse-lhes: Tendes aqui alguma coisa de comer? Então eles apresentaram-lhe parte de um peixe assado e um favo de mel. O que Ele tomou e comeu diante deles. Então abriu-lhes o entendimento, para compreenderem as escrituras. E disse-lhes: Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dos mortos, e em seu nome se pregasse o arrependimento e remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém. E destas coisas sois vós testemunhas.” Lc 24:36-48.

Perante tudo o que Jesus viveu, falou e os seus discípulos presenciaram, mesmo assim não há como provar o facto da ressurreição, e por incrível que pareça creio que nem mesmo o próprio Jesus está preocupado com isso. Tomé, o discípulo duvidoso que afirmou crer somente quando tivesse provas palpáveis, recebeu a seguinte reprimenda: “não sejas incrédulo, mas crente. Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram.” João 20:27, 29.

Estamos em tempo de Páscoa, certamente muitos de nós cristãos temos muitas dúvidas quanto à nossa fé, mas Jesus quer deixar-nos uma mensagem de esperança, assim como o fez a Marta, irmã do defunto Lázaro, dizendo: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim nunca morrerá. Crês ter isto?” João 11:25,26.

Caro leitor o futuro da nossa existência depende somente da resposta que tivermos para dar a esta pergunta de Jesus.

Feliz Páscoa!

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