segunda-feira, 28 de abril de 2014

Fazei prova de mim, diz o Senhor

É de louvar todo aquele, que, com equidade faz bom uso do espírito crítico e com sabedoria analisa todo o conteúdo tanto daquilo que vê, ouve ou lê, pois quem assim procede, prudentemente a si mesmo se conduz e dificilmente será um tropeço para o seu semelhante.
O próprio apóstolo S. João aconselha-nos: “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo”. I João 4:’7.
Também o rei David, num dos seus salmos nos exorta: “Provai e vede que o Senhor é bom”. Salmo 34:10. No contexto do salmo o rei é específico aos nos incitar a que façamos uso consciente e ousado da nossa aptidão natural de questionar. No entanto, supera todas as expectativas, quando é o próprio Deus a lançar-nos o desafio: “Fazei prova de mim”. Malq; 3:10.
É tranquilizador saber que o criador do universo não se ofende com as nossas questões e dúvidas, nem tão pouco nos despreza por isso. Creio a indiferença ser um dos piores inimigos do ser humano, ela opõe-se directamente a Deus, é como diz a escritura: “Assim porque és morno e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca.” Apoc 3:1.
Certamente Deus agrada-se daqueles que fazem prova dele, pois mostram claramente, que não estão buscando algo que seja do imaginário humano.
Durante o período quaresmal, escrevi uma série de artigos, todos eles centralizados na pessoa de Deus e no seu filho Jesus Cristo, nos quais creio piamente, mas creio ser oportuno respeitar quem não seja tão crédulo e vestir sua pele, estimulando-o a fazer bom uso da razão.
Vou citar apenas alguns exemplos: o Sr. Augusto Cury é psiquiatra, psicoterapeuta, cientista e escritor, certamente muitos dos seus livros são conhecidos dos leitores do DI, assim como alguns exemplares fazem também parte da minha colecção pessoal e muito contribuíram para a formação daquilo que sou hoje.
O ser humano é dotado de inteligência e capacidade de raciocínio, por isso não se deve acomodar àquilo que sempre creu, nem refutar tudo o que ouve sem que antes o examine.
O Sr. Cury é um verdadeiro exemplo de alguém que é honesto consigo próprio, era ateu por convicção e um dia decidiu provar ao mundo, através dos próprios evangelhos, que Jesus Cristo era uma fraude, um embuste fruto do imaginário humano, para surpresa sua, ao fazer uma profunda análise à mente de Cristo, conforme descrita nas suas biografias, chegou à brilhante conclusão: “é impossível à mente humana conceber tal personagem!”.
Hoje este cientista e escritor é um grande divulgador do Homem que revolucionou o mundo com a sua doutrina, e confessa que a ciência ainda é uma criança ao negligenciar um estudo profundo à sua inteligência.
De nós cristãos, o Homem de Nazaré é digno de algo muito mais sublime do que uma simples religiosidade aparente, deveríamos ser um pouco mais inteligentes na devoção que prestamos àquele que é o criador de todo o universo.
Há alguns séculos atrás, um jovem sacerdote chamado Martinho Lutero, inconformado com a sua religiosidade, abalou o mundo e a igreja, porque ousou experimentar Deus. Naquela época estava instalado o reino das trevas, a leitura da Bíblia era proibida, as missas eram oficiadas em latim, que só o clero entendia e havia a chamada “santa inquisição” que se incumbia de silenciar todo aquele que ousasse discordar da “santa madre igreja”. Este homem foi incompreendido e perseguido, e por pouco escapou às santas fogueiras.
Enquanto exilado, protegido por um príncipe traduziu a Bíblia para a língua do povo e foi pioneira na imprensa tão recentemente inventada. As escrituras, que até então eram desconhecidas, passaram a ser o livro texto nas escolas e desta forma uma revolução espiritual propagou-se no centro da Europa de forma tal, que ainda hoje pela graça de Deus sentimos seus efeitos.
Um outro personagem que me encanta é o apóstolo S. Paulo que antes de se converter chamava-se Saulo. Era homem de profundas convicções e de cego zelo religioso, perseguira a igreja de Cristo com todas as suas forças e certo dia obtendo mandatos de captura, dirigiu-se para Damasco afim de prender todos quantos pertencessem à seita do Nazareno, mas ao chegar perto da cidade um resplendor o cercou subitamente vindo do céu e caiu por terra, aí ouviu uma voz que lhe dizia: “Saulo, Saulo porque me persegues?” e ele disse ”Quem és Senhor?” e disse o Senhor: “Eu sou Jesus a quem tu persegues.” Actos 9:3-6.
S. Paulo era homem de fervor religioso cego, não se questionava, estava tão certo daquilo em que acreditava, que todo aquele que não pensasse da mesma forma, era um alvo a abater, mas ao ser confrontado com o Senhor da glória rendeu-se.
Gastou o resto da sua vida servindo a igreja e o seu Senhor que antes perseguia, foi perseguido e acabou os seus dias numa prisão até que foi morto.
Estes são apenas alguns exemplos de homens que se confrontaram com uma realidade superior à deles, não se convenceram, mas foram convencidos de que a realidade da sua existência estava dependente de outra realidade que não é mitológica.
Não foi o Homem quem inventou Deus, nem tão pouco através da religião ele consegue reconciliar-se com Ele, mas é Deus que em Cristo reconcilia o ser humano com o seu Criador.
Ao contrário dos deuses mitológicos, o nosso Deus é real, em Cristo torna-se visível e palpável, quer que o amemos com todo o nosso coração, com todas as nossas forças, mas também com todo o nosso entendimento, pois a sua essência é o amor. I Jo 4:8.
O nosso Deus pode parecer complexo, mas na verdade é tão simples e acessível como o é Jesus, manso e humilde de coração, o seu jugo não é pesado e o seu fardo é leve e amorosamente nos convida: “vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” MT 11:28.

Fazei prova de mim, diz o Senhor. Embora o contexto actual seja diferente daquele em que viveu Malaquias, o desafio de Deus propaga-se no tempo e chega até nós. O mundo está cheio de religião, mas Deus está buscando homens e mulheres que em meio às provações possam dizer como o patriarca Job: “Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra. E depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne verei Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, e os meus olhos e não outros o verão.” Job. 19:25-27.

domingo, 20 de abril de 2014

Eu sou a ressurreição e a vida


Na noite em que Jesus celebrou a última ceia pascal, disse aos seus discípulos: “Desejei muito comer convosco esta páscoa, antes que padeça; porque vos digo que não a comerei mais, até que ela se cumpra no reino de Deus.” Lc 22:15, 16.

Esta festa anual já era praticada pelo povo hebreu desde o tempo em que fora liberto por Deus com mão forte através do seu servo Moisés, da escravatura no Egipto. Páscoa é um termo hebraico que significa passagem e nesta grande festa o povo anualmente comemorava a grande vitória, ou seja, a passagem de uma condição de escravos, para uma nova realidade de seres livres numa terra abundante, onde Deus era o único ser supremo.

A partir da ressurreição de Cristo a Páscoa adquiriu um novo sentido, passou a significar para nós cristãos, a vitória de Jesus sobre o diabo, o pecado e a morte, assim como a nossa libertação do mundo das trevas e do inferno, tornou-se assim a nossa passagem da condição de pecadores oprimidos pelo diabo com destino à condenação eterna, para a nova realidade de cidadãos do reino dos céus.

Infelizmente, hoje, apesar de a Páscoa ser a mais importante festa da cristandade, os cristãos de forma generalizada não lhe atribui o verdadeiro significado. Com o passar dos tempos foi-se tornando mais uma festa, assim como o Natal, é mais um motivo comercial e de encontro entre familiares e amigos.

Faz parte da cultura cristã, nesta época falar-se da ressurreição, as pessoas afluem aos grandes templos parecendo devotas, mas no fundo o único facto em que acreditam é que a morte e a sepultura são o fim mais certo.

Os cristãos têm-se tornado racionalistas e a ressurreição é algo que contraria a nossa lógica, é cientificamente improvável, mas como a ciência é um progressivo acumular de conhecimentos, com o passar dos anos ele vai caducando e necessita constantemente de ser actualizada, por isso resta-nos apenas acreditar nas escrituras sagradas, que através dos séculos têm resistido a todo o tipo de provações até mesmo àqueles que deturpam os seus ensinos.

Todo o ser humano tem consciência de que o colapso existencial é inevitável, no entanto luta desesperadamente para retardar o mais possível esse facto, temos consciência da nossa existência, mas o fim dela parece-nos absurdo.

Actualmente falar de ressurreição convictamente, certamente corre-se o risco de se ser motivo de chacota à semelhança daquilo que aconteceu com o apóstolo S. Paulo: “E como o ouviram falar da ressurreição dos mortos, uns escarneciam, e outros diziam: Acerca disto te ouviremos outra vez.” Actos 17:32. Isto aconteceu em praça pública, mas o mesmo apóstolo teve maiores problemas dentro da própria igreja e escreveu o seguinte: “Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como dizem alguns de entre vós que não há ressurreição de mortos? E se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou; e, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé… e ainda permaneceis nos vossos pecados; e os que morreram em Cristo estão perdidos. Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens e nos constituímos falsas testemunhas de Deus.” I Cor 15:12-19.

Se subtrairmos ao cristianismo a ressurreição dos mortos resta-nos apenas uma forma religiosa de estar na vida como tantas outras, que segundo Paulo é a mais miserável de todas, pois que não está cumprindo com o seu verdadeiro objectivo que é a esperança de vida eterna.

Apesar da ressurreição de Cristo pertencer à esfera da fé, isso não significa que ela seja fruto do imaginário humano, nem aconteceu num beco qualquer, escreve o grande apóstolo dos gentios: “Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as escrituras, e que foi visto por Cefas, e depois pelos doze. Depois foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos, dos quais vive, ainda, a maior parte… Depois foi visto por Tiago, depois por todos os apóstolos. E, por derradeiro de todos, me apareceu também a mim, como a um abortivo. Porque sou o menor dos apóstolos, que não sou digno de ser chamado apóstolo, pois que persegui a igreja de Deus.” I Cor 15:3-9.

O maior personagem de toda a história da humanidade, dedicou os seus últimos três anos de vida a um único ideal: morrer e ressuscitar. Desde muito cedo começou a mostrar aos seus discípulos, que convinha ir a Jerusalém, e padecer muito dos anciãos, e dos princípios dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia. Mt/6:21.

Tudo isto Jesus falou e no que diz respeito à sua pessoa, tudo se concretizou e deu provas concludentes de que o seu ideal não era fruto de um imaginário masoquista. No dia da ressurreição apresentou-se no meio dos seus discípulos e disse: “Paz seja convosco. E eles espantados e atemorizados, pensavam que viam algum espírito. E Ele lhes disse: Por que estais perturbados, e por que sobem tais pensamentos aos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo: apalpai-me e vede; pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho. E dizendo isto mostrou-lhes as mãos e os pés. E não o crendo ainda, por causa da alegria, e estando maravilhados disse-lhes: Tendes aqui alguma coisa de comer? Então eles apresentaram-lhe parte de um peixe assado e um favo de mel. O que Ele tomou e comeu diante deles. Então abriu-lhes o entendimento, para compreenderem as escrituras. E disse-lhes: Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dos mortos, e em seu nome se pregasse o arrependimento e remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém. E destas coisas sois vós testemunhas.” Lc 24:36-48.

Perante tudo o que Jesus viveu, falou e os seus discípulos presenciaram, mesmo assim não há como provar o facto da ressurreição, e por incrível que pareça creio que nem mesmo o próprio Jesus está preocupado com isso. Tomé, o discípulo duvidoso que afirmou crer somente quando tivesse provas palpáveis, recebeu a seguinte reprimenda: “não sejas incrédulo, mas crente. Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram.” João 20:27, 29.

Estamos em tempo de Páscoa, certamente muitos de nós cristãos temos muitas dúvidas quanto à nossa fé, mas Jesus quer deixar-nos uma mensagem de esperança, assim como o fez a Marta, irmã do defunto Lázaro, dizendo: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim nunca morrerá. Crês ter isto?” João 11:25,26.

Caro leitor o futuro da nossa existência depende somente da resposta que tivermos para dar a esta pergunta de Jesus.

Feliz Páscoa!

sexta-feira, 18 de abril de 2014

A Paixão de Cristo


Diz um velho ditado: “Dos fracos não reza a história.” Pelo contrário, são ignorados, esquecidos, marginalizados, oprimidos, escravizados, odiados e subestimados, como se de inúteis de tratassem. No entanto, são estes mesmos que enriquecem a muitos e são a causa da glória de outros, tendo a ingratidão como recompensa. A nossa história está repleta de grandes personagens que concretizaram enormes feitos: travaram colossais batalhas, realizaram colossais conquistas, traçaram rotas marítimas, povoaram ilhas, deram novos mundos ao mundo, enfim, um pequeno país com uma grande história escrita com o sangue de muitos fracos que, por força das circunstâncias, não tinham opção de escolha. Em suma, os grandes deste mundo, os fortes e os “todo-poderosos” só conseguiram fazer alguma coisa que ficasse na história dominando, subjugando e servindo-se dos mais fracos, e ainda hoje se continua a escrevê-la nos mesmos moldes.

Há muito tempo atrás um carpinteiro de Nazaré também fez história, dividiu a história e deu um novo rumo à história de muitos fracos, pois ele não esmagará a cana quebrada e não apagará o morrão que fumega até que faça triunfar o juízo. Este homem tem inspirado poetas e escritores, compositores, pintores e até cineastas, como é o caso de Mel Gibson que, a meu ver, foi muito feliz na produção do filme “A Paixão de Cristo”, trazendo para os ecrãs todos os pormenores das últimas doze horas da vida de Jesus. Impressionou muitos que estavam habituados a contemplar a cruz vazia, bem adornada, e que quase se esqueciam de que um dia ela estivera manchada com sangue inocente. A outros provocou revolta por acharem que foi exibida demasiada violência gratuita. É compreensível que seja chocante presenciar de forma condensada tudo aquilo que o Filho de Deus teve que passar ao longo de várias horas. Mas é um facto, o ser humano é de memória curta e propenso a esquecer-se facilmente que o novo rumo da sua história teve um preço muito alto.

O apóstolo S. Paulo, no início da sua epístola aos Coríntios, demonstra de forma bem clara a sua preocupação: “Os judeus pedem sinal e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos (…) nada me propus saber, entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado (1 Coríntios 1:22, 23; 2:2). Já ouvi várias opiniões a respeito do sofrimento de Cristo. Há quem ache que a crucificação de Jesus foi idêntica a tantas outras que eram comuns na época e que o seu maior sofrimento foi espiritual e não físico, porque se condoía muito por causa do pecado da humanidade. Outros dizem que o que Jesus mais temia era o abandono do Pai, pelo facto de haver exclamado: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Lamento muito que os Cristãos pensem assim, limitando-se a olhar apenas para algumas situações, não analisando bem de perto as palavras e as circunstâncias em que tudo se passou. É verdade, Jesus não foi o único a ser crucificado, muitos o foram antes e depois dele, mas por se tratar de uma condenação fraudulenta todo o seu processo penal não teve o mesmo desenrolar dos demais condenados, como se pode facilmente depreender ao lermos o que se passou desde o momento em que foi preso até ao suspiro final. 

O próprio Jesus disse aos seus discípulos: “Convém ir a Jerusalém e padecer muito dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes e dos escribas e ser morto” (Mateus 16:21). Na verdade Jesus sofreu muito por causa do pecado, mas no seu corpo, como nos relata o profeta: “Como pasmaram muitos à vista dele, pois o seu parecer estava tão desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e olhando nós para ele, nenhuma beleza víamos, para que o desejássemos. Era desprezado, e o mais indigno entre os homens, homem de dores, e como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.” (Isaías 53). Quanto ao brado de Jesus na cruz, através do qual alguns afirmam que ele foi abandonado pelo Pai por ter assumido sobre si o pecado de toda a humanidade, o qual Deus não pode suportar, questiono-me em que momento isso terá acontecido. Durante todo o seu ministério, Jesus relacionou-se com o Pai da forma mais íntima e natural, sem qualquer tipo de impedimento e fico com a ideia de que a partir do momento em que subiu à cruz essa intimidade se tenha tornado mais profunda. É da cruz que ele pede: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem.” É da cruz que ele diz ao malfeitor, confiante: “Hoje estarás comigo no paraíso.” É da cruz que ele exclama bem alto: “Está consumado”, e: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu Espírito.” A única diferença que encontro no Cristo crucificado é que antes ele se retirava e passava longos momentos a sós com o Pai em oração, pois não era como os hipócritas que gostavam de orar nas esquinas das ruas para serem vistos. Agora, Jesus estava limitado e exposto à vergonha. O seu único conforto era saber que o Pai estava suficientemente perto para o ouvir.

No livro de Génesis temos um relato similar. Deus pediu a Abraão que oferecesse o seu filho Isaac em holocausto numa montanha da terra de Moriá e, “dirigindo-se para lá, edificou Abraão um altar e pôs em ordem a lenha e amarrou seu filho Isaac, e deitou-o sobre o altar, em cima da lenha. E, ao tomar o cutelo para imolar o seu filho, um anjo bradou do céu: Não faças mal ao moço, porquanto agora sei que temes a Deus” (Génesis 22). Comparemos com a seguinte escritura: “Deus amou o mundo de tal maneira que Deus o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3:16). Abraão ofereceu o seu filho a Deus e Deus ofereceu o seu Filho ao mundo. Assim como Abraão acompanhou Isaac até ao momento do holocausto, também creio que o Pai de Jesus não procedeu de outra forma, pois ambos eram cúmplices no plano da redenção da humanidade. Quando Jesus clamou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”, o desabafo não foi de Filho para Pai, mas sim de homem para Deus. O homem, semente da mulher, conforme Génesis 3:15, o varão de dores, que no auge do suplício sentiu-se só, não pela ausência de Deus, mas por causa do juízo que este fez cair sobre ele.

Tenho boas razões para acreditar que Deus jamais pensou em abandonar o seu Filho, fosse qual fosse a circunstância. Quando, por três vezes, Jesus orou: “Meu Pai, se é possível passa de mim este cálice”, a sua alma estava cheia de tristeza até à morte, a angústia apoderou-se dele e, embora Deus não pudesse atender à sua oração, enviou um anjo para o confortar. Não gosto de classificar o sofrimento de Jesus. Ele era humano e, como tal, sofreu em todos os aspetos. No espírito sofreu por antecipação o cálice que estava por vir, ao ponto de agonizar de forma tal que o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue que corriam até ao chão. Isto só demonstra que o que estava pela frente era algo infernal.

Por mais que ofensas nos magoem e certas palavras nos firam, a dor física é a que mais tememos e evitamos, e Jesus não foi exceção, simplesmente não teve como evitá-la. O Filho de Deus foi o único que conseguiu fazer história sem derramar sangue alheio. Enalteceu o fraco, humilhou o forte, cumpriu todo o propósito divino e desfez, no seu corpo, todas as obras do diabo.
 
 

quinta-feira, 17 de abril de 2014

A Ceia do Senhor

“Santa Ceia”, “Comunhão”, “Ceia do Senhor”, são algumas das designações usadas para definir aquilo a que alguns também chamam de “Sacramento do Altar”. Não me preocupa os termos usados para descrever este memorial, mas sim aquilo que se crê a respeito dele e a forma como o praticamos.
Na minha opinião é lamentável e muito preocupante que, em nosso tempo, estejamos tão aquém das expectativas de Deus no que diz respeito à instituição eucarística de Cristo. Toda a sua vida foi em função do sacrifício expiatório. Disse Jesus: “Desejei muito comer convosco esta Páscoa antes que padeça” (Lucas 22:15). Algum tempo antes de estabelecer a ceia, Jesus proferiu um discurso que alguns discípulos classificaram de muito duro e insuportável de se ouvir: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo. Quem come a minha carne, e bebe o meu sangue, tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a minha carne, e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.” (João 6:51-56).
Há quem não relacione este texto das Escrituras com a instituição eucarística, mas creio estarem profundamente ligados, como podemos observar na última ceia. Jesus tomou o pão e disse: “Tomai e comei, isto é o meu corpo”. Depois, pegando no cálice, disse: “Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue.” O Senhor afirmou de forma enfática: “Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.” (João 6:53).
Tudo aquilo que nos é dado a conhecer nas Escrituras leva-nos a crer que a Ceia do Senhor é algo demasiado sério para que seja praticado de forma, por vezes, leviana e, em muitos casos, inadequada. Na noite em que foi traído, Jesus tomou pão e ofereceu corpo, tomou vinho e ofereceu sangue. No entanto, domingo após domingo, os sacerdotes oferecem unicamente corpo aos seus leigos, ficando o verdadeiro e completo sacramento só para eles, visto que têm exclusividade sobre o vinho, contrariando desta forma a ordem de Jesus: “Bebei dele todos.” O sacramento só é real quando correctamente ministrado. Por outro lado, existem alguns grupos de Cristãos que usam correctamente os elementos pão e vinho, mas negam a presença real do corpo e sangue do Senhor, por se tratar apenas de uma ordenança e um memorial. Compreendo que para a nossa mente humana e carnal seja difícil aceitar que o corpo e o sangue de Jesus possam estar presentes na celebração eucarística, mas naquilo em que a nossa razão é contrariada é uma boa oportunidade para fazermos uso da fé.
Pode alguém questionar: “Como podemos ter hoje comunhão com o corpo e sangue do Senhor se ele já morreu há tanto tempo?” Se os discípulos tomaram corpo e beberam sangue, mesmo antes que Jesus fosse sacrificado, muito mais nós, uma vez que Cristo já foi morto. Isto é um mistério que pertence a Deus, o qual devemos aceitar e não deturpar, dando a entender que os elementos são apenas símbolos e que o acto é apenas um memorial e nada mais. O apóstolo São Paulo escreve o seguinte: “Falo como a entendidos; julgai vós mesmos o que eu digo. Porventura o cálice de bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo?” (1 Coríntios 10:16).
Estava certo dia a conversar com um membro de uma igreja ortodoxa, quando ele disse algo que me deixou a pensar e que se tornaria para mim na definição mais simples e compreensível do que é o sacramento do altar: “Na mesa do Senhor existem quatro elementos: pão, vinho, corpo e sangue.” Isto está em perfeita harmonia com a citação do apóstolo S. Paulo atrás mencionada. No século XVI o Dr. Martinho Lutero dizia que junto com o pão e o vinho tínhamos real comunhão com o corpo e sangue de Cristo.
Sou apenas um leigo e não pretendo ser juiz de ninguém, muito menos da Igreja do Senhor. Apenas me deleito em meditar na Sua Palavra que é “lâmpada para os meus pés e luz para o meu caminho” (Salmos 119:105). Também é “viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. E não há criatura alguma encoberta diante de Deus; antes, todas as coisas estão nuas e patentes, aos olhos daquele a quem temos de prestar contas.” (Hebreus 4:12,13).
A igreja Cristã do presente tem subestimado em larga escala o valor eucarístico da ceia, quase à semelhança do que acontecia na igreja de Corinto, conforme lemos na carta que Paulo lhes escreveu: “Nisto, porém, que vou dizer-vos não vos louvo; porquanto vos ajuntais, não para melhor, senão para pior. Porque antes de tudo ouço que, quando vos ajuntais na igreja, há entre vós dissensões; e em parte o creio. E até importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós. De sorte que, quando vos ajuntais num lugar, não é para comer a ceia do Senhor. Porque, comendo, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia; e assim um tem fome e outro embriaga-se. Não tendes porventura casas para comer e para beber? Ou desprezais a igreja de Deus, e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto não vos louvo. Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha. Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que morrem.” (1 Coríntios 11:17-30).

A ceia do Senhor é toda ela envolta em mistério e riqueza espiritual, sendo um memorial e, ao mesmo tempo, palavra viva e alimento que aumenta a nossa fé, trazendo remissão de pecados, conforme Mateus 26:28. Acho que deveríamos aproveitar esta época quaresmal para reflectirmos profundamente sobre aquilo em que cremos e praticamos, examinando-se cada um a si mesmo, e apelo em especial aos líderes religiosos, que maior responsabilidade têm, para que não entrem em condenação e sejam culpados do corpo e do sangue do Senhor.


quarta-feira, 16 de abril de 2014

Porquê a Cruz?

“Importa, porém, caminhar hoje, amanhã e no dia seguinte, para que não suceda que morra um profeta fora de Jerusalém”, respondeu Jesus aos fariseus, que lhe trouxeram a notícia de que Herodes o queria matar (Lucas 13:33).
Porquê a cruz? Esta é uma pergunta pertinente. Não foi por mim sugerida com o pretexto de criar mais um tema para reflexão nesta época quaresmal, mas foi-me dirigida por um amigo de muita estima. Não sei quais são os conceitos do leitor em relação a todos os acontecimentos concernentes a Jesus no que diz respeito à sua paixão e morte, mas há um facto que não podemos deixar de ponderar: o carpinteiro de Nazaré tinha a ideia fixa de que ninguém o conseguia demover. Antecipadamente começou a dizer aos seus discípulos que lhe “convinha ir a Jerusalém e padecer muito dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto”… (Mateus 16:21).
O início do seu ministério foi em pequenas cidades e povoados, mas à medida que o fim se aproximava o seu alvo principal incidia para a grande Jerusalém e, como que atraído por um íman, dirigia-se sem vacilar para o local do seu suplício. Terá Jesus sido vítima da sua própria ideologia e de uma sociedade corrupta em que a religião servia mais os interesses dos homens do que a vontade de Deus? Seria o Cristo tomado por sentimentos de masoquismo?
Poderá ser que, por ignorância, pensemos coisas como estas ou outras do género, mas também é natural que com o passar dos séculos se volte a questionar: porquê a cruz? No passado ela foi usada como instrumento de suplício por vários povos da antiguidade, como os Assírios, os Persas, os Fenícios, os Egípcios, Gregos e Romanos. Posteriormente outros métodos foram usados, como por exemplo a forca, a câmara de gás, a cadeira eléctrica, a injecção letal, etc, como forma de castigar o mal, repor a justiça e a ordem para que as pessoas de bem pudessem viver com o mínimo de segurança e tranquilidade. Hoje, nos países que se dizem mais civilizados, apenas se atribui a prisão perpétua como pena máxima. O que tem Jesus a ver com tudo isto, sendo ele o mais gentil de todos os homens? Parece uma peça fora do puzzle, encaixada à força para preencher o vazio.
Porquê a cruz? “Porquanto o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus…” (Deuteronómio 21:23b). Cristo, o único ser vivo que nunca pecou, o próprio Filho de Deus, foi considerado maldito? Porquê? O apóstolo Paulo, na sua carta à igreja em Roma, diz: “Porque o salário do pecado é a morte…” (Romanos 6:23). “Portanto, assim como por um só homem (Adão) entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens porque todos pecaram.” (Romanos 5:12). Se a história terminasse aqui estaríamos irremediavelmente condenados, mas pela graça e misericórdia de Deus, Cristo veio pagar o preço que nós não conseguiríamos pagar, oferecendo-se a Si mesmo na cruz como sacrifício para resgate de todo aquele que nele crer. “Pois, assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só acto de justiça veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Porque, como pela desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores, assim também por meio da obediência de um só muitos se tornarão justos.” (Romanos 5:18, 19).
Quando entro no meu quarto e contemplo o crucifixo, entristeço-me pensando: Senhor, tudo isso padeceste por mim, em meu lugar. Fizeste-te mortal para que eu pudesse viver eternamente.
Durante o seu ministério, o Senhor Jesus sempre procurou sítios estratégicos como um monte, uma praia ou um simples barquinho para se poder fazer ouvir e ser perceptível aos seus ouvintes, mas, no entanto, para poder falar ao mundo inteiro necessitou subir ao alto da cruz, símbolo de horror, dor e vergonha e, para nós Cristãos, também símbolo da vitória de Cristo sobre o pecado e a morte. Ela foi o palco da mais bela história de amor. Nem mesmo Romeu e Julieta, que tanto têm inspirado jovens apaixonados, se pode equiparar ou servir de ilustração do quanto Deus amou a humanidade, pois, desconhecendo o poder do amor de Deus, que tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta, o amor genuíno que nunca falha (1 Coríntios 13:7-8), puseram termo às suas vidas. Mas Deus se apaixonou de tal maneira por uma humanidade que sempre andou de costas voltadas para Ele, ao ponto de entregar à morte o seu único Filho, para que todo aquele que nele crê não morra (espiritualmente), mas tenha a vida eterna (João 3:16).
Se a cruz falasse e pudesse expressar quanta angústia passou por ver o sofrimento, sem sequer um lamento, de quem tanto nos amou, certamente perceberíamos quão intenso e incondicional foi o amor de Deus pela coroa da sua criação. Do alto da cruz, usando-a, qual tribuna, o Filho de Deus proferiu sinteticamente toda a essência do seu ministério. Nem mesmo em meio a tanto sofrimento Ele baixou os braços, sustentados por dois cravos junto a uma trave, ou perdeu a lucidez sofrendo tamanha dor, mas, esquecendo-se de si próprio, cuidou com todo o carinho de todos quantos estavam à sua volta. Aos seus carrascos e aos que dele zombavam, disse: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem.” Ao malfeitor que estava ao seu lado no mesmo suplício, confortou-o, dizendo: “Hoje estarás comigo no paraíso.” À sua mãe, que ficara desfilhada, amparou-a com o discípulo amado, ao dizer: “Mulher, eis aí teu filho.” E para que nada da Escritura ficasse por cumprir a seu respeito, disse: “Tenho sede” e humanamente bradou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Depois de tomar o vinagre, percebendo que estava próximo o fim e que tudo a que se propusera estava concluído, clamou com grande voz: “Está consumado. Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.”

Porquê a cruz? Através dela toda a terra foi regada com sangue divino e ao terceiro dia o Lírio dos Vales, Rosa de Sharon, de novo brotou e o mundo tenebroso encheu-se de flores e, ainda que Cristãos muito falhos, somos para Deus o bom cheiro de Cristo (2 Coríntios 2:16).  


terça-feira, 15 de abril de 2014

“Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”

O termo “construção” é algo com que estamos familiarizados e as pessoas da minha geração, que passaram pela experiência catastrófica do terramoto de 1 de Janeiro de 1980, muito mais. A partir desse evento não se falava de outra coisa a não ser de construção e reconstrução. Apesar da intensidade sísmica do momento sabemos que a causa do ruir de muitas habitações incidia nas suas fundações, no tipo de material usado na edificação ou simplesmente no local onde estavam implantadas. Estou grato a Deus porque nesse nefasto dia tudo parecia querer desabar à minha volta, os muros dos cerrados não se conseguiam conter e a minha velha casinha de barro e pedra, já com três séculos de história, onde vivia com os meus pais e irmãs, toda ela se contorcia, mas por fim resistiu. Qual o segredo? Está edificada sobre uma enorme rocha! Certo dia Jesus disse a um dos Seus discípulos: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” (Mateus 16:18). Entre os Cristãos existe divergência quanto à verdadeira interpretação destas nobres palavras de Cristo e, confesso, seria trabalho facilitado se o meu querido Senhor tivesse sido verbalmente mais explícito e claro na Sua alegoria. O catolicismo defende que o Mestre da Galileia referia-se a Pedro, os não-católicos acham isso um absurdo. Como podemos então chegar a uma correcta conclusão? Jesus conta-nos uma história: “Todo aquele que escuta as minhas palavras e as pratica assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; e desceu a chuva e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha.” (Mateus 7:24-25). O apóstolo São Pedro havia feito uma confissão única (“Tu és o Cristo”), para a qual só havia uma explicação. Disse Jesus: “(…) não to revelou a carne e o sangue, mas meu Pai que está nos céus.” (Mateus 16:16-17). Se o que Jesus pretendia dizer em Mateus 16:18 era referente a Pedro, certamente enganou-se no sujeito, porque pouco tempo depois o mesmo estava sendo usado pelo inimigo, ao qual o Mestre repreende, dizendo: “Para trás de mim Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus (…) (Mateus 16:23). Na noite em que Jesus foi julgado, este discípulo impetuoso três vezes negou o seu Senhor (Mateus 26:69-74). Alguns anos mais tarde, o apóstolo Paulo o admoesta severamente pelo pecado de dissimulação (Gálatas 2:11-13). Se realmente Pedro era a pedra sobre a qual Jesus pretendia edificar a Sua Igreja, fracassou redondamente. Até o seu nome é bastante ilustrativo. Pedro, “Petros”, no original grego, significa pedra de pequenas dimensões. Este tipo de pedra tem poucas utilizações úteis, serve para encher paredes, misturar em argamassa e, na pior das hipóteses, pode ser um incómodo no sapato de alguém. Quando Jesus diz: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja”, o termo grego usado para “pedra” é “Petra”, uma forma feminina da palavra “pedra”, que não era um nome próprio. “Petra” significa rocha firme, pedra de largas dimensões, onde se pode realmente construir. Quem era, na verdade, esta pedra? Supormos que a confissão do apóstolo, “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, é a base sobre a qual Jesus pretende edificar, é bem mais razoável. Agora vejamos o que o próprio Pedro diz ser realmente esta “pedra”: “(…) Jesus Cristo, o Nazareno, a quem vós crucificastes (…) é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou a pedra angular.” (Actos 4:10-11). Em sua primeira epístola, referindo-se a uma profecia antiga, escreve: “Pelo que, também, na Escritura se contém: Eis que ponho em Sião a pedra principal de esquina, eleita e preciosa, e quem nela crer não será confundido. E assim, para vós, os que credes, Cristo é a pedra preciosa” (1 Pedro 2:6-7). Também o apóstolo S. Paulo escreve o seguinte: “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra de esquina; no qual, todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor. No qual, também, vós, juntamente, sois edificados para morada de Deus em Espírito.” (Efésios 2:20-22). Em relação ao povo israelita escreve o mesmo apóstolo o seguinte: E beberam todos de uma mesma bebida espiritual, porque beberam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo. I coríntios 10:4.

A Igreja do Senhor é um mistério e a sua estrutura é tal que por maior que seja a fé do ser humano, jamais poderá suportar a sua dimensão. Pedro era homem muito falho, Paulo considerava-se miserável, eu nem sou digno de desatar as sandálias de qualquer deles. Só Jesus poderia dizer algo do género, significando de que morte haveria de morrer: “E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim” (João 12:32-33). E assim aconteceu! No dia de Pentecostes agregaram-se à Igreja quase três mil almas (Actos 2:41). Mais tarde, muitos dos que ouviram a palavra creram e chegou ao número de quase cinco mil homens (Actos 4:4). Seguidamente, em vários lugares, as igrejas tinham paz e eram edificadas, e se multiplicavam, andando no temor do Senhor e na consolação do Espírito Santo (Actos 9:31). E, a partir daqui, todos os dias o Senhor tem acrescentado à Igreja aqueles que se hão-de salvar. 


segunda-feira, 14 de abril de 2014

Quem dizem os homens que eu sou?

Durante o seu ministério na terra Jesus intrigou e surpreendeu as pessoas das mais variadas formas. Ele era um exímio contador de histórias. Os seus ensinos não eram como os demais religiosos, pois demonstrava sabedoria e autoridade. O seu estilo de vida era simples e contagiante. Quando questionado a sua eloquência era notória, quando inquiria emudecia os mais sábios. Mas um dia, indo de caminho com os seus discípulos, interrogou-os com duas perguntas que ainda hoje ecoam no tempo, ferem a nossa mente e inquietam o coração: “Quem dizem os homens que eu sou?” e “Quem dizeis vós que eu sou?” (Marcos 8:27, 29). Não consigo alhear-me delas. Soam-me tão nitidamente como se naquele momento eu lá estivesse e fico a pensar na resposta que teria para dar. Hoje existem as mais diversas opiniões a respeito de Jesus e até confesso que não são desprestigiantes, mas também creio estarem longe de serem satisfatórias. À primeira questão do Mestre, os discípulos responderam: “Há quem diga que és João Baptista, outros que és Elias; mas ainda outros acham que poderás ser algum dos profetas.” Os discípulos haviam sido incumbidos da mais nobre missão, estavam entusiasmados com os resultados, pois Jesus havia-lhes dado poder para curar enfermos, limpar leprosos, ressuscitar mortos e expulsar demónios. Tudo lhes correra da melhor forma e a sua mensagem havia sido tão autêntica e convincente que as pessoas identificavam Jesus com as mais nobres figuras da história de Israel.

Nós, Igreja do século XXI, também temos nobre missão, a de dar testemunho da verdade! Se o Mestre hoje nos inquirisse e nos pedisse contas de nossa mordomia, que relatório lhe apresentaríamos? O grande estadista Mahatma Gandhi morreu hindu, porque os cristãos seus contemporâneos não eram convincentes. Ele entendia que uma rosa deveria ter o perfume a rosa. Escreve o apóstolo S. Paulo: “Porque para Deus, somos o bom cheiro de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. E manifesto é que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração.” (2 Coríntios 2:15; 3:3).

Tudo o que as pessoas possam vir a dizer ou a pensar de Jesus é o reflexo daquilo que observam nos cristãos. Pouco adiantará termos uma Bíblia numa estante, andar com ela debaixo do braço, ir a uma missa católica ou culto evangélico, se não formos unânimes, se não tivermos um mesmo sentimento, um mesmo amor e ânimo, se não considerarmos os outros superiores a nós próprios, revelando, desta forma, o mesmo sentimento que também havia em Cristo Jesus. Se assim não for esforçamo-nos em vão para alcançar almas para ele. Vejamos como procedem os cristãos de nossos dias. Os evangélicos dizem: “Os católicos dizem-se cristãos, mas na realidade não o são.” Os católicos, por seu lado afirmam: “Os evangélicos (ou protestantes) são os irmãos separados.” Por que procedem como se não fossem filhos do mesmo Deus, e Cristo não fosse o Senhor de ambas as partes? Porquê este contínuo desentendimento entre irmãos quando, na realidade, apenas divergem no tipo de erro que cometem? Em que estamos nós, cristãos, a ser diferentes dos demais que não têm fé? Admito que se afirme que a Igreja Católica é idólatra, pois possui muitas imagens de devoção e culto, as quais as Escrituras condenam contundentemente. Dou a mão à palmatória quando se põe em causa o papado e sua hierarquia, pois disse Jesus: “Os reis dos gentios dominam sobre eles (gentios), e os que têm autoridade sobre eles são chamados benfeitores. Mas não sereis assim; antes, o maior entre vós seja como o menor; e quem governa, como quem serve. Eu porém, entre vós, sou como aquele que serve.” (Lucas 22:25-27). A devoção a Maria é simplesmente extra-bíblica e se opõe à humildade que lhe era peculiar. No evangelho de S. Lucas ela expressa-se da seguinte forma: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque atentou na baixeza da sua serva; pois eis que, desde agora, todas as gerações me chamarão bem-aventurada (feliz), porque me fez grandes coisas o Poderoso; e santo é o seu nome.” (Lucas 1:46-49). Numa das poucas intervenções de Maria registadas nas Escrituras, aquando das bodas de Caná da Galileia, ela comporta-se da seguinte maneira em relação a Jesus, dizendo aos serventes: “Fazei tudo o que ele vos disser.” (João 2:5).

Durante o seu ministério, Jesus disse muitas coisas e deixou de dizer outras tantas porque os seus discípulos não o poderiam suportar naquele momento (João 16:12). No entanto, anda meio mundo seguindo Maria religiosamente, fazendo aquilo que ela supostamente disse, quando nunca o disse. Se hoje pretendemos ter Maria como referência, então sigamos-lhe o exemplo conforme registado no livro dos Actos dos Apóstolos: “Todos perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres e Maria, mãe de Jesus, e com seus irmãos.” (Actos 1:14). Quanto às revelações da virgem em Fátima e por todo o mundo, lamento muito, mas isso é um outro evangelho de que fala Paulo: “Mas ainda que nós mesmos, ou um anjo do céu, vos anuncie outro evangelho, além do que já vos tenho anunciado, seja anátema (maldito).” (Gálatas 1:8).

Mas onde está a virtude evangélica? Será este ramo do Cristianismo assim tão coerente com as Escrituras ao ponto de considerar os católicos não-cristãos? Façamos também uma breve análise. Disse Jesus: “Quem crer e for batizado será salvo.” (Marcos 16:16). Dizem os evangélicos: “O batismo nada tem a ver com a salvação.” Disse Jesus: “Deixai vir a mim as criancinhas.” Eles simplesmente negam o batismo de infantes. Escreve S. Paulo: “Há um só corpo e um só Espírito, uma só esperança, um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e em todos.” (Efésios 4:4-6). No entanto rebatizam todas as pessoas que outrora foram batizadas em criança. No dia da grande ceia Pascal, Jesus tomou o pão e ofereceu corpo, tomou o cálice e ofereceu sangue. Quando celebram a ceia simplesmente não reconhecem a presença do corpo e do sangue, por se tratarem apenas de elementos simbólicos para justificar o memorial. Não pretendo ocupar demasiado tempo tentando encontrar os contras de ambas as partes, mas o facto é que se queremos usar honradamente o nome de cristãos só há um caminho. “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros. (…) Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama.” (João 13:35; 14:21).

Para a primeira pergunta de Jesus não encontro, infelizmente, resposta satisfatória por parte dos cristãos da atualidade. Sinto-me de mãos vazias e entristeço-me perante o Senhor que tudo fez por mim, restando-me apenas retribuir-Lhe, no pouco tempo que me resta, defendendo e dando testemunho da verdade, nesta altura de quaresma e sempre que me for oportuno. Quanto à segunda questão: “E vós, quem dizeis que eu sou?”, creio que nem adianta tentarmos responder. Pedro foi muito espontâneo ao dizer: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!” Jesus, porém, lhe disse: “Não to revelou a carne e o sangue, mas meu Pai que está nos céus.” Quando conseguirmos responder satisfatoriamente à primeira pergunta, “Quem dizem os homens que eu sou?”, talvez Deus nos revele algo de extraordinário em relação a Jesus. Pressinto que seja rude o meu falar e o leitor talvez se questione onde, afinal, está a verdade? Pouco adianta abandonarmos um erro se depois vamos abraçar outro. É necessário corrigi-los, respeitar as diferenças e prosseguir para o alvo, pelo prémio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (Filipenses 3:14).   
 
  

sábado, 12 de abril de 2014

Segue-me tu!


Em tempos de campanha eleitoral são muitas as vozes que se levantam prometendo mundos e fundos, apresentando os melhores programas, as melhores propostas, as melhores soluções, esforçando-se por demonstrar de forma convincente que os seus adversários políticos não são competentes para exercerem as funções a que se propõem, tudo isto numa tentativa de alcançarem o maior número possível de eleitorado e atingirem o objectivo final que é a eleição. E uma vez eleitos, em muitos casos, frustram os seus eleitores, ficando aquém das expectativas ou abusando do poder que lhes foi confiado. Os grandes mestres do passado e os filósofos também pregavam em praças e areópagos na esperança de adquirirem alguns discípulos e prestígio. Estou certo de que tanto uns como outros gostariam de ter a ousadia, a moral e a convicção de dizer “Segue-me”, sem temerem o fracasso ou frustrarem as expectativas dos seus seguidores. Há dois milénios atrás apareceu um homem que, na aparência, era comum a todos os outros homens. A sua escolaridade era básica. Certamente aprendeu a ler e a escrever em casa com os seus pais ou na sinagoga com algum rabino. As suas mãos eram grossas e calejadas, fruto do exercício da sua profissão junto de seu pai que era carpinteiro, mas quando discursava a todos maravilhava, pois diziam: “De onde veio a este a sabedoria, e estas maravilhas? Não é este o filho do carpinteiro? (…) De onde lhe veio, pois, tudo isto?” (Mateus 13:54-56). Este homem de nome Jesus não escolheu uma grande cidade, nem um grande povo para começar a discursar sobre sua doutrina. Os habitantes da Galileia viviam basicamente da actividade piscatória. Não sei quanto tempo Jesus levou a pregar o seu primeiro sermão, nem que métodos usou para atrair a atenção dos seus ouvintes. Apenas nos é relatado o seu conteúdo: “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus.” (Mateus 4:17). Quando Jesus encontrou os irmãos Pedro e André, e Tiago e João, e lhes disse “Vinde após mim”, e eles O seguiram espontaneamente, não foi por estarem hipnotizados, mas sim maravilhados com os seus ensinamentos, pois eram galileus e certamente sentiam-se surpresos pelo convite. Uma das características do Mestre da Galileia que muito me fascina é a selectividade quanto às suas escolhas, uma vez que contraria todos os princípios lógicos de um bom líder. Quem ousaria sair pelas ruas e escolher aleatoriamente os seus seguidores? Ou ainda pior, formar a sua elite com os primeiros que encontrasse pela frente? Humanamente falando, quem assim procede é louco e está condenado ao fracasso. Imaginemos, por exemplo, que se levanta no nosso país um político que pretenda formar governo usando elementos de um gang. Quem apostaria em tal? Quais as probabilidades de sucesso? Decerto seriam nulas! Mas foi desta forma que Jesus procedeu. Relata-nos o evangelista S. Mateus: “E Jesus, andando junto ao mar da Galileia, viu dois irmãos, Pedro e André, lançando redes ao mar e disse-lhes: vinde após mim. E, adiantando-se dali, viu outros dois irmãos, Tiago e João, num barco, com seu pai, consertando as redes; e chamou-os” (Mateus 4:18-21). Todo o líder político que se preze escolhe a dedo os elementos do seu grupo, pessoas aptas e bem preparadas para os fins a atingir. Jesus investiu tempo nas escolhas que fez, dizendo: “e eu vos farei pescadores de homens”. Durante mais de três anos os jovens galileus seguiram o seu Mestre em todas as suas deslocações, foram incumbidos de missões, ouviram seus sermões, presenciaram milagres e ressurreições. Por fim surge o teste final, Judas trai Jesus e Ele é preso. Os discípulos, deixando-o, fugiram. Pedro nega-o até à terceira vez, praguejando. Por vezes são estas as consequências de um amor à primeira vista. E desta forma acabou só, o mais amável dos homens, pendurado numa cruz, maltratado, escarnecido e zombado, onde até mesmo Aquele a quem Ele chamou de Pai “o desamparou”. Por fim rendeu o Seu espírito e expirou. Se a história de Jesus acabasse aqui, poderíamos considerá-lo o mais infeliz de todos os homens. No entanto, tudo aconteceu com uma notável precisão cirúrgica, dando cumprimento, dessa forma, a todas as profecias a Seu respeito. E a última foi: “O Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu, de mim mesmo, a dou; tenho poder para a dar e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai.” (João 10:18-19). Os discípulos só compreenderam todos os ensinamentos do seu Mestre após a Sua ressurreição. A partir daí tornaram-se intrépidos e ousados com a unção do Espírito Santo no dia de Pentecostes, aptos para toda a boa obra, para a qual haviam sido preparados: serem verdadeiros pescadores de homens. O chamamento de Jesus, “Vinde após mim e eu vos farei pescadores de homens”, é um convite que se estende até nós. Ele ordenou aos seus discípulos: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, baptizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo; e eis que estou convosco todos os dias até à consumação dos séculos.” (Mateus 28:18-20). Seguir Jesus é um desafio para o qual à partida não estamos preparados. Tal como aqueles pescadores da Galileia, temos de admitir que somos embrutecidos e, como o barro ás mãos do oleiro, necessitamos de ser moldados por Deus a cada dia. Com as adversidades da vida também nós muitas vezes traímos, negamos e abandonamos o nosso Mestre. Existem hoje alguns movimentos religiosos que, em nome de Jesus, prometem prosperidade financeira e a resolução de todos os problemas concernentes a esta vida. No entanto, o Senhor Jesus afirmou: “As raposas têm covis e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça. Os pobres sempre os tereis. Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me. Neste mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” Jesus de forma alguma desprezava a breve existência do homem sobre a face da terra, mas considerava seriamente as prioridades, dizendo: “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim, não é digno de mim, e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim, não é digno de mim.” (Mateus 10:37-38). “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubem. Porque, onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. Não andeis cuidadosos, quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não andeis pois inquietos, dizendo: que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? Decerto vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas essas coisas; mas buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” (Mateus 6:19-34). Também o apóstolo S. Paulo nos adverte: “Nada trouxemos para o mundo e manifesto é que nada poderemos levar dele. Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes. Mas os que querem ser ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e na ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males.” (1 Timóteo 6:7-10) “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à dextra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima e não nas que são da terra.” (Colossenses 3:12).

O convite de Jesus no passado, “Vinde após mim”, agora para nós, os que já fomos lavados por Ele, mediante a Sua palavra, através do batismo, torna-se imperativo e pessoal. Dialogando com Pedro junto ao mar de Tiberíades, Jesus por três vezes lhe perguntou: “Simão, filho de Jonas, amas-me? À terceira vez, Pedro entristecido, responde-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas. E Pedro, voltando-se, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava e perguntou-lhe: Senhor, e deste que será? Ao que o Mestre lhe respondeu: Se eu quero que João fique até que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu.” (João 21:15-22).
 

sexta-feira, 11 de abril de 2014

O Ano do Senhor e o reino dos Céus


Chegando Jesus à Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga e levantou-se para ler. Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías e, ao abri-lo, achou o lugar onde estava escrito: “O espírito Santo é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a apregoar liberdade aos cativos, e a dar vista aos cegos; a pôr em liberdade os oprimidos; a anunciar o ano aceitável do Senhor. E, fechando o livro, disse: “Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos.” (Lucas 4:16-21). É algo bem notório: conhecemos muito pouco a respeito de Jesus e ainda muito menos acerca da sua missão. Um dia ouvi um sacerdote dizer: “Infelizmente nós não lemos a Bíblia!” Isto é gritante, para mais partindo de um clérigo o que me leva a questionar: Em que cremos? O que pregamos? Por que pregamos? Certamente não é de admirar que se pregue tanto sobre algo que nada tem a ver com as Escrituras sagradas. O Nazareno, quando tomou o livro de Isaías e leu a profecia narrada a seu respeito, tinha a perfeita noção de quem era e qual era a sua missão. Entre muitas outras a mais sublime é o anúncio do ano aceitável do Senhor. Não é necessário ser-se muito culto para se entender que Jesus não estava falando de um período de tempo limitado por dias, semanas ou meses, mas sim algo que se tem estendido até nós e até enquanto a sua misericórdia perdurar.

Durante esse período, chamado o Ano Aceitável do Senhor, o filho do Altíssimo Deus veio também para estabelecer um reino. Ao comissionar os seus doze apóstolos, ordenou-lhes, dizendo: “Ide, pregai, é chegado o reino dos Céus.” (Mateus 10:7). Numa outra situação, quando confrontado com os fariseus, disse: “Se, porém, eu expulso os demónios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós.” (Mateus 12:28). Infelizmente creio termos um conceito muito errado sobre este assunto. Quando se fala do reino de Deus ou dos Céus, transpomos isso para um futuro que ultrapassa os limites da morte, o que, inconscientemente nos leva a viver uma vida tal, quase se de uma anarquia se tratasse. Não pode haver reino sem que haja rei, assim como não há família sem pai, e no reino de Deus só pode haver um rei. Disse Jesus a Pilatos: “Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz.” (João 18:37). A Igreja é o corpo místico de Cristo aqui na terra e tem a obrigação de continuar a Sua obra, a de dar testemunho da verdade. Mas como o pode fazer se a Bíblia não é consultada? Disse Jesus em Sua oração sacerdotal: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.” (João 17:17). Jesus também disse a Pilatos: “O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas, agora, o meu reino não é daqui”. (João 18:36). Mas se então o reino de Jesus não é deste mundo, como podemos ser governados por Ele? Proferiu Jesus: “Aquele que tem os meus mandamentos, e guarda-os, esse é o que me ama; e, aquele que me ama, será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele. Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada. Quem não me ama não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que ouviste não é minha, mas do Pai que me enviou.” (João 14:21, 23-24). É impossível a Igreja ser governada por Cristo se não fizer bom uso da Bíblia nem conhecer os mandamentos de Jesus nela contidos. Ele disse aos fariseus: “Examinais as escrituras porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam” (João 5:39). Os fariseus pelo menos consultavam as Escrituras, mas nós Cristãos nem isso fazemos! Apregoar um reino do qual nem os estatutos conhecemos é uma utopia! Cristo é a cabeça da Igreja, só Ele. E só a Ele ela deve estar sujeita, porque muito a amou “e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela Palavra, para a apresentar a si mesmo, Igreja gloriosa, sem mácula nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Efésios 5:25b-27). “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”, disse Jesus. A palavra de Deus é alimento e o povo do Seu reino perece faminto por falta de conhecimento, alimentando-se erroneamente de heresias e dogmas que são preceitos de homens. A Santa Palavra de Deus é o Seu mais precioso legado ao ser humano e só há um lugar onde ela pode ser guardada com proeminência, de acordo com o autor do Salmo 119: “Escondi a tua palavra no meu coração, para não pecar contra ti. Bendito és tu ó Senhor; ensina-me os teus estatutos.” (Salmos 119:11-12).

Estamos em tempo de Quaresma, que é propício para reflexão. Consideremos isto, que à Igreja o seu Senhor a incumbiu da mais sublime missão na terra. O apóstolo Pedro escreveu: “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anunciais as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós que em outro tempo não éreis povo, mas agora sois povo de Deus; que não tínheis alcançado misericórdia, mas agora alcançastes misericórdia.” (I Pedro 2:9-10). É tempo de escutarmos a voz do Senhor, de consultarmos a Sua Palavra, de obedecermos os seus mandamentos e não deturparmos os Seus ensinos. Diz o Senhor da Igreja: “Eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra. Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que se alguém que se alguém lhe acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; e, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, e da cidade santa, que estão escritas neste livro. Aquele que testifica estas coisas diz: “Certamente cedo venho. Amén!”(Apocalipse 22:12, 18-20).