segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O massacre dos inocentes

Um dos episódios mais marcantes da Bíblia, é sem dúvida aquele que nos relata a tragédia que envolveu certamente centenas de crianças, que foram vítimas de autêntico massacre por parte de um homem ambicioso, sem escrúpulos, nem temor a Deus.
Uma simples criança causou tanto transtorno e perturbou não só um rei, como também uma cidade inteira. Como pode isto ser possível, quando afinal até conheciam as profecias e sabiam que o Cristo um dia havia de nascer? Herodes não tinha nada que temer em relação ao menino Jesus. Quando adulto, um dia disse Ele a Pilatos: “o meu reino não é deste mundo”.
Muitas vezes acontece, que conhecemos as escrituras e até os propósitos de Deus, mas quando Ele decide atuar, sentimo-nos incomodados, inseguros e também desconfortados na nossa rotina diária. O Senhor sempre desejou participar e ser cúmplice nas nossas vidas, no entanto gostamos muito mais de reinar sozinhos. Por isso muitos se tornam peritos em abortar tudo quanto lhes pareça uma ameaça e um estorvo, e não olham a meios para atingirem os seus fins.
Foi com muita tristeza que já participei em dois referendos nacionais para a despenalização do aborto, à segunda vez, finalmente foi conseguido o objetivo pretendido e hoje infelizmente o aborto no nosso país já não é crime.
Creio ter sido uma irresponsabilidade muito grande por parte dos nossos governantes o terem submetido vidas humanas indefesas sem qualquer tipo de recurso ou alternativa, ao julgamento de um povo moralmente e espiritualmente impreparado. Comportaram-se como Pilatos no lavar das mãos, mas por mais que as lavem estarão sempre manchadas de sangue inocente, a menos que o temor do Senhor se apodere deles e reconheçam a sua pecaminosa irresponsabilidade.
A lei portuguesa já contemplava três situações possíveis de aborto: gravidez de risco, má formação congénita e gravidez por violação. Já por si só estas contemplações estavam muito aquém de serem justas e coerentes. Suponhamos que uma jovem é violada, e apesar do trauma dessa relação decide levar a sua gravidez até ao fim, mas com o decorrer do tempo, algumas circunstâncias inevitavelmente lhe trazem à memória os fantasmas do passado, e todo o seu ser fica perturbado e não resiste à tentação de eliminar o ser resultante de um momento por demais desagradável. Esta mulher seria punida pelo rigor da lei e a sociedade a descriminaria por um ato tão cruel. O mesmo se passa com aquela mulher que concebe um filho com algum tipo de deficiência, a lei aprovaria um aborto, mas no entanto se eu tivesse um filho inválido que necessitasse de todos os cuidados e atenção e lhe quisesse pôr termo à vida por achar que era um encargo demasiado pesado para a família e a sociedade, a lei me condenaria como homicida. Pergunto onde estava a coerência e justiça da lei? Quem somos nós, criados à imagem de Deus, para decidirmos quem deve ou não fazer parte desta terra de viventes? Que diferença existe entre o ser que está no ventre materno e o outro que já anda por cá? Não serão ambos seres humanos apenas em fases de desenvolvimento diferentes?
Compreendo que muitas vezes as exigências da sociedade e as dificuldades da vida, nos levam a pensar e a tomar atitudes que apenas favorecem o nosso ego e comodismo. Não quero parecer intolerante com as jovens que são vítimas de violação e ficam grávidas, devido à sua pouca experiência de vida, as suas mentes se perturbam e caem no desespero, pois muitos dos seus sonhos se tornam irrealizáveis, são os estudos que ficam em causa, quem sabe uma carreira profissional brilhante ou até mesmo um casamento bem sucedido. Mas o que é tudo isto perante uma vida humana que é a imagem e semelhança do seu Criador.
Agora o que dizer daquela mulher portadora de uma gravidez de risco, é compreensível que fique apavorada e caia na tentação de abortar aquela vida que teima em pôr termo à vida dela. Neste particular quero homenagear aquelas mulheres que foram capazes de serem altruístas, verdadeiras heroínas, que no exercício da sua fé, desafiaram a própria vida, confiaram no seu Deus e provaram que por vezes a ciência também se engana, levaram a sua gravidez até ao fim e em alguns casos escaparam tanto mãe como filho, noutros enquanto o mundo recebia mais um filho, o céu recebia mais uma alma para fazer parte do coro celestial. Quero salientar que nestes casos é bom que não entremos em julgamentos precipitados, é melhor que antes experimentemos por um pouco calçar o sapato do outro, para podermos compreender o seu desespero e dificuldade em se adaptar ao desconforto e incómodo de uma situação não programada.
Infelizmente os atos de heroísmo caíram em desuso, fazem parte do passado, ainda me lembro de histórias que se contavam da guerra do ultramar, em que alguns militares, para que todo um grupo não fosse destruído, eles próprios se lançavam sobre minas e assim só eles morriam, mas todo o grupo ficava a salvo. Ainda hoje esses heróis são relembrados em algumas comemorações de estado. Creio que as mulheres que são capazes de trocar a sua própria vida, pela vida que está no seu ventre, são dignas de honra e admiração e são autênticos exemplos de fé e coragem, quando o egoísmo e o comodismo estão derrubando por completo os valores morais e espirituais, onde cada um só pensa em si próprio.
Neste mundo que se diz civilizado, na maioria dos casos prevalece a lei da selva, apenas os mais perfeitos, os mais fortes e os mais adaptados conseguem sobreviver, tudo o resto é para exterminar. Os animais para os quais Deus não estabeleceu qualquer tipo de código moral comportam-se com muito maior dignidade.
Com efeito é plenamente compreensível que todo o casal goste de ter todos os seus filhos fisicamente perfeitos, mas é de se realçar que muitos deficientes têm brilhado no mundo artístico, dão-nos autênticas lições de vida, e o mundo não seria o mesmo sem o seu contributo.
Quanto à antiga legislação, quero ainda salientar, quanta injustiça era praticada contra as mulheres que praticavam aborto clandestino, sem ser nos termos previstos na lei, (admito que até muitas o praticaram unicamente por sua conta e risco e nesses casos se fazia justiça), muitas delas foram obrigadas a abortar por pressões familiares, outras porque os maridos as instigavam e ainda outras porque os namorados não quiseram assumir a paternidade, todos eles foram cúmplices, mas só elas eram os réus, a este grupo ainda se pode juntar parteiras, médicos e curandeiros que davam todo o apoio técnico a todo este massacre, todos eles também eram cúmplices, mas somente elas iam para trás das grades.
Noutras situações, tanto os réus como os cúmplices eram punidos. Por que razão neste caso de horrendo infanticídio só a mulher mãe tinha de enfrentar toda a vergonha sozinha? Lamentavelmente a justiça humana é tão falsa como Judas, beija-nos o rosto e apunhala-nos as costas.
Hoje em vez de fazer-se justiça, legalizou-se um crime, já não se seleciona mais o alvo a abater, a vida humana na sua fase inicial não tem qualquer tipo de valor, desde que esteja no ventre materno é como intruso em propriedade alheia.
Chegou-se ao desplante em que a ciência está tentando avaliar a partir de que estágio de desenvolvimento o ser que está num ventre materno pode ser considerado um ser humano como se fosse possível em algum momento ser-se outra coisa.
Não quero chegar ao cúmulo de afirmar que um espermatozoide é gente, não tenho qualquer base bíblica nem científica que sustente tal ideia, mas a partir da conceção não adianta andarmos a especular sobre o assunto, Deus já lhe deu o estatuto de ser humano, está escrito no livro dos salmos: “Pois tu formaste o meu interior, tu me teceste no seio da minha mãe. Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem; os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda”.
A prática do aborto é o crime cometido com o mais elevado grau de covardia, atentamos contra a vida de seres humanos que não têm qualquer forma de se defenderem, e no único sítio onde deveriam sentir-se protegidos e seguros, que é o ventre materno, tornou-se para eles altar de holocausto.
A questão do aborto tornou-se assunto polémico e para tanto chegou-se a realizar debates televisivos onde tanto teólogos como os elementos pró-vida saíam quase vergonhosamente derrotados por não possuírem argumentos nem convicções convincentes. Para assunto de tão elevada importância não basta filosofia humanista aparentemente piedosa nem a teologia de indivíduos cujo Deus em que dizem acreditar, na realidade parece não fazer parte do cardápio de suas vidas.
Não estou preocupado com as práticas imorais cometidas por pessoas ou comunidades não cristãs, que não reconhecem o cristianismo como a única religião verdadeira, nem o Deus Pai de nosso Senhor Jesus Cristo como único criador e sustentador de todas as coisas tanto visíveis como invisíveis. Quanto a esses, Deus no dia do juízo encarregar-se-á de os julgar. Mas nós os que confessamos o bom nome de Cristo, espera-se no mínimo que sejamos coerentes com a fé que possuímos. É da nossa responsabilidade proteger e defender a vida, quer seja a nossa própria, assim como a do nosso próximo mesmo que ainda esteja dentro de um ventre materno.
Também não estou preocupado com as vítimas do aborto, mesmo sabendo que inconscientemente elas sentem as horrorosas atrocidades que lhes são infligidas no ventre materno. Quanto a elas já estão ao cuidado do bondoso Deus.
Agora preocupo-me com o povo português que na sua esmagadora maioria confessa-se cristão e em referendo legalizou um crime. Está-se aproximando o Natal, daqui a pouco estamo-nos preparando para festejar o nascimento do menino de Belém, creio que é tempo de ponderarmos e reconsiderarmos a irresponsabilidade dos nossos atos e pensarmos na possibilidade de se revogar a lei mais impiedosa que já alguma vez se aprovou. De ateus e pagãos pode-se esperar tudo, mas de cristãos, Deus espera muito mais, as boas obras que acompanham a salvação.
Deus na sua misericórdia dá-nos um tempo, somos por natureza filhos da ira, nascidos em pecado, destituídos da sua glória. “Mas agora, em Cristo Jesus, nós, que antes estávamos longe, já pelo sangue de Cristo chegamos perto. Porque ele é a nossa paz … na sua carne desfez a inimizade,… para criar, em si mesmo, um novo homem, aniquilando nossa velha natureza, e, pela cruz nos reconciliou com Deus”. Ef 2:13-16.
O Deus de que nos relata as escrituras não é um tirano como muitos o pintam, nem um ditador, mas também não é uma marioneta para que possa ser manipulado ao capricho de cada um. Ele não necessita de que nós criamos nele para subsistir, é auto existente mesmo antes da criação de todas as coisas. Quanto a nós, se não for a sua misericórdia somos menos que nada.
Sei que estou a ser talvez demasiado longo na minha abordagem, mas com este assunto não consigo economizar palavras.

Alerta-nos ainda o Senhor: “Quem é injusto, faça injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; e quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda. Eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra…Ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idolatras, e qualquer que ame e comete a mentira. Eu, Jesus, enviei o meu anjo, para vos testificar estas coisas nas igrejas”. Apoc 22:11-16.


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