A 31 de Outubro de cada ano celebra-se o dia da reforma,
levada a cabo pelo sacerdote Martinho Lutero, que em 1517 decidiu fazer
história e saiu para a rua empunhando as 95 teses contra as indulgências,
cravando-as na porta da igreja de Wittenberger.
Amado por muitos, desprezado por outros, o monge, sacerdote,
professor e Doutor em Teologia, Martinho Lutero, é conhecido como o reformador
da igreja no século XVI. Influenciou a educação e a literatura. Traduziu a
Bíblia Sagrada para a língua do povo alemão e escreveu inúmeras obras
exegéticas, doutrinárias e de educação cristã.
No intuito de homenagear tão célebre figura histórica, o meu
único objectivo é que a igreja do século XXI possa seguir-lhe o exemplo de fé e
dedicação à causa de Cristo. Com algum desalento o escrevo, pois o comodismo e
o conformismo têm permeado toda a cristandade do tempo presente, assim como a
tendência cada vez maior para a heresia, idolatria e dogmatismos, que a outra
coisa não conduzem senão à perdição eterna.
O Filho de Deus ao encarnar tinha um propósito, e ao iniciar
o seu ministério na terra, escolheu doze discípulos, aos quais disse: “Eu vos
farei pescadores de homens.” Investiu neles tempo e formação, para que em tempo
oportuno, pudessem fazer toda a diferença dizendo-lhes: “Vós sois o sal da
terra, vós sois a luz do mundo. Resplandeça a vossa luz diante dos homens, para
que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus.” Mt
5.
Todo o cristão é chamado por Deus para marcar diferença, ser
um elemento activo, não conformado em passividade, correndo os riscos
necessários, fazendo jus à fé que possui. “Jesus nunca foi um exibicionista,
jamais se expôs de forma a correr riscos desnecessários, algumas vezes
protegeu-se, para que nada a seu respeito acontecesse fora do tempo.” João
7:1,6. Mas quando chegou o momento de ter que caminhar para Jerusalém, o local
do seu suplício, nada nem ninguém o conseguiu deter e quando alguém lhe disse:
“Sai, retira-te daqui, porque Herodes quer matar-te”, simplesmente
respondeu-lhe: “Ide, dizei àquela raposa: Eis que expulso demónios e efectuo
curas, hoje e amanhã, e no terceiro dia sou consumado. Importa caminhar hoje,
amanhã e no dia seguinte, para que não suceda que morra um profeta fora de Jerusalém.”
Lc 13:31-33.
A história está marcada por muitos homens que no exercício de
sua fé, foram capazes de fazer diferença, uns agindo e outros falando dos
podres da sociedade que os rodeava, sofrendo na pele as consequências
inevitáveis dos seus ideais. Actualmente é urgente que os cristãos deixem de
ser elementos passivos, conformados apenas com os seus rituais religiosos
infrutíferos, que mais não servem senão para protegerem os seus estatutos e
identidade religiosa.
É necessário que se levantem homens como A. Lincoln, que
depois de inúmeras tentativas frustradas à presidência dos Estados Unidos, por
fim já na sua velhice lá o conseguiu e ficou na história por ter abolido a
escravatura no seu país, deixando-nos também esta linda frase: “Creio que a Bíblia
é o melhor presente que Deus jamais deu ao homem.”
O pastor Martin Luther King, não só herdou o nome, mas também
a ousadia de Lutero, pois que lutou destemidamente contra a descriminação
racial do seu povo, pagando a justo preço com a própria vida. Também não quero
esquecer o curto ministério do Papa João Paulo I, que iniciou uma luta
frustrada contra o tabú do uso de contraceptivos nas relações íntimas de casais
fiéis. A este a morte também não quis poupar, nem tão pouco se permitiu que o
seu corpo fosse autopsiado. E o que dizer de João Baptista, cuja cabeça foi
exibida num prato, na festa de aniversário de Herodes, por haver denunciado que
este possuía ilicitamente a mulher de seu irmão?
No nosso mundo ocidental existe plena liberdade religiosa,
mas também muita ignorância espiritual. Jesus no seu tempo disse aos saduceus:
“Errais, não conhecendo as escrituras, nem o poder de Deus.” MT 22:29. Esta
afirmação foi feita a homens religiosos que manuseavam com regularidade os
escritos sagrados. Actualmente a Bíblia tem livre curso e está ao alcance de
todos, no entanto não se conhece a Deus, blasfema-se e repua-se a sua
existência como lendária.
O mundo do século XXI carece verdadeiramente de conhecer as
escrituras e o real poder de Deus. Pois em tal ignorância tem-se cometido
verdadeiros atentados contra a vida humana e contra o criador dos céus e da
terra. Debaixo deste sol que nos ilumina cometem-se abortos, pratica-se
eutanásia, contraem-se relações ilícitas, adoram-se falsos deuses que são
semelhança de homens, consultam-se bruxos e cartomantes e usa-se o Santo Nome
de Deus em vão. Que Ele tenha misericórdia da sua igreja por causa da sua
inércia e desvario, porque em vez de ser uma luz, conduz o seu povo em trevas.
Certo dia perguntou Jesus: “Quando porém vier o Filho do homem, porventura
achará fé na terra?” Fico preocupado com a resposta, o tempo da sua vinda está
próximo e a humanidade caminha a passos largos em sentido oposto.
Existe em Portugal, já há algumas décadas, uma pequena
comunidade luterana, e nos Açores apenas uma família, que a muito custo vai
sobrevivendo com visitas pastorais muito esporádicas. Ao longo de já quase
vinte anos tenho-os observado, são herdeiros de um vasto património literário,
que em muito me tem sido útil em termos de doutrina e educação cristã. A
fidelidade deste pequeno grupo às sãs doutrinas das sagradas escrituras é
inquestionável e nisto rendo-lhes também minha homenagem, lamento apenas não
terem herdado de Lutero a visão e a sua ousadia ao ponto de que o nosso país já
tivesse sido alvo de uma reforma espiritual que há muito se faz necessária.
Creio que o Deus que despertou Martinho Lutero para que desse
uma lufada de ar puro à sua igreja, tem poder para que nos tempos actuais, se
levantem novos profetas, para que falem a sua palavra ao povo. Caso isto não
venha a acontecer, resta-me apenas dirigir-me ao Todo Poderoso em oração
dizendo: Dá-nos de volta Lutero, dá-nos de volta Lutero!
Depois do que já escrevi, não quero que o leitor fique com a
ideia de que para mim o Dr. Martinho Lutero virou um deus, ou algo de
semelhante, ao qual devamos prestar adoração, mas é inegável que a
grandiosidade da sua obra reformadora da igreja é tão válida e necessária hoje
com o foi no seu tempo e certamente se projectará no futuro para salvaguarda
dos verdadeiros valores cristãos e pureza doutrinária.
Posto isto e primeiro do que tudo sou levado a dizer que
nenhum ser humano deveria partir deste mundo, sem conhecer a Jesus Cristo como
Senhor e Salvador e ao Pai, Deus criador de todas as coisas. No entanto nenhum
cristão deveria despedir-se desta vida sem que antes leia Lutero. Na verdade
ninguém fica mais salvo ao lê-lo, mas certamente ficará mais rico
espiritualmente e a morte não o irá tragar na ignorância.
Um dos versículos bíblicos favorito do histórico reformador
encontra-se no livro dos salmos 118:17 que diz o seguinte: Não morrerei, mas
viverei; e contarei as obras do Senhor.
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