A festa do Pentecostes é a segunda das três grandes festas
anuais a que devia comparecer todo o povo de Israel. Era assim denominada por
ser observada no quinquagésimo dia depois da Páscoa. Conhecida também como a
festa das semanas ou festa das primícias. Nesta festa, toda a colheita era
dedicada a Deus, quem a dera.
Assim como a Páscoa passou a ter para nós cristãos, um novo
sentido, por nela Jesus haver triunfado sobre o diabo, o pecado e a morte,
também no dia do Pentecostes quando todo o povo se deslocava a Jerusalém para
esta grande festa, Deus derramou do seu Espírito, cumprindo desta forma a
profecia de Joel, assim como a promessa de Jesus que disse: “Se me amardes,
guardareis os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro
Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito de verdade, que o
mundo não pode receber, porque não o conhece; mas vós o conheceis, porque
habita convosco, e estará em vós.” João 14:15-17.
Estas grandes festas do povo de Israel, celebradas no
passado, eram apenas figuras dos grandes feitos do Senhor no futuro. Outrora
representavam coisas terrenas e temporais, agora coisas espirituais e eternas.
Aquilo que antes era passageiro, hoje tornou-se para nós cristãos, parte
integrante de nossas vidas.
Não deveríamos celebrar a Páscoa, se não cremos na
ressurreição dos mortos, na remissão dos pecados e na vida eterna. Também é
inútil festejarmos o Pentecostes se o Espírito Santo não habita em nós,
santificando nossas vidas, orientando nossos pensamentos e comportamentos.
Na nossa cultura açoriana, quando se fala de Pentecostes,
associa-se o termo às solenes festividades em louvor ao “Divino Espírito
Santo”, onde o povo desfila pelas ruas com coroas, ceptros e estandartes
alusivos à terceira pessoa da trindade. Também em cada localidade existem
impérios dedicados ao Divino, com suas comissões de mordomos. Quem nos visita e
observa toda esta fervorosa devoção, certamente sente-se sensibilizado ao ver
tamanha religiosidade. Mas será tudo isto o verdadeiro Espírito Santo de quem o
Senhor Jesus nos fala? Falou Ele aos seus discípulos da seguinte forma: “Mas
quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade;
porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará
o que há-de vir. Ele me glorificará, porque há-de receber do que é meu, e vo-lo
há-de anunciar.” João 16:13, 14.
No livro dos actos dos apóstolos está registado o que
realmente aconteceu em Jerusalém: “E cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam
todos reunidos no mesmo lugar; e de repente veio do céu um som, como de um
vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados… E
todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas,
conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem… Todos os peregrinos
estavam pasmados e maravilhados, pois ouviam os discípulos falarem das grandezas
de Deus, cada qual na sua própria língua em que foram nascidos.” Actos cap.2.
Entristeço-me com a tremenda confusão existente no meio
cristão, no que diz respeito à doutrina do Espírito Santo. Tenho observado que
em muito daquilo que é pregado e praticado fica notório que muitos cristãos
estão muito mal informados ou simplesmente desconhecem o assunto, sendo desta
forma levados por outros ventos de doutrina. Desconhecem as escrituras e a arte
de julgar os espíritos, afim de se protegerem das ciladas do diabo e honrarem a
Deus com verdadeiro entendimento espiritual. O credo niceno também nos resume
de forma simples aquilo que está claro nas citações bíblicas atrás citadas da
seguinte forma: O Espírito Santo procede do Pai e do Filho, juntamente com o
Pai e o Filho é adorado e glorificado. Logo toda a veneração e adoração isolada
de tão nobre divindade são inadequadas e heréticas.
Para além de tudo o que já escrevi, gostaria de salientar a
acção do Espírito Santo na igreja do primeiro século onde ele era predominante.
Podemos observar de forma clara no livro dos actos, que a igreja crescia
espontaneamente, caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o
Senhor à igreja, aqueles que se haviam de salvar. Estou a falar de uma igreja,
cujos líderes não tinham qualquer tipo de formação a nível universitário, ou
mesmo de seminários teológicos, mas tinham o melhor dos professores. Disse
Jesus: “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome,
esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho
dito.” João 14:26.
Não quero de forma alguma subestimar o valor das instituições
universitárias e teológicas, somente lamento que se dependa demasiado delas em
detrimento do nobre Ensinador, onde na maioria dos casos formam-se líderes de
paróquias cujos templos estão cada vez mais vazios e os poucos que lá
frequentam, apenas assistem ao serviço religioso por mera tradição e obrigação.
O que é feito do Espírito Santo em nossos dias? Será que Ele
apenas existiu para a era apostólica? Disse o apóstolo S. Pedro à multidão que
o ouvira pregar no ditoso dia: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja baptizado
em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito
Santo; porque a promessa vos diz respeito a vós a vossos filhos e a todos os
que estão longe; a tantos quantos Deus, nosso Senhor chamar.” AT 2:38, 39.
“Pentecostes não pode significar extinção do Espírito Santo,
ele é o fiel servidor da causa divina e as escrituras e a igreja e os santos
sacramentos são os seus instrumentos. Auxilia-nos em nossas fraquezas; porque não
sabemos o que havemos de pedir, como convém, mas o mesmo Espírito intercede por
nós, com gemidos inexprimíveis.” Rom 8:26.
A igreja do século XXI não pode prescindir do Espírito Santo,
só ele pode convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo.” João 16:8. Só
ele consegue transformar simples diáconos como Estevão e Filipe em príncipes
pregadores, destemidos e ousados. Estevão foi até às últimas consequências
sendo morto à pedrada.
Uma igreja cheia do Espírito Santo, à semelhança de Estevão,
fixaria seus olhos no céu e ele se abriria e contemplaríamos a glória de Deus e
a Jesus Cristo que está à sua direita. Os cristãos da actualidade estão
demasiado passivos, e a igreja do presente não irá muito longe com crentes
domingueiros, espectadores de bancos de igreja, que nos demais dias são tão iguais
aos que não têm esperança. Com razão disse Keith Green: “Cristo morreu de
braços abertos, será que podemos viver uma vida espiritual de braços cruzados?”
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