quarta-feira, 28 de maio de 2014

O sábio mestre

Certo dia, perturbado com as minhas inquietações, consultei o sábio mestre, perguntando-lhe o que ele entendia por silêncio e invisibilidade. Olhou-me nos olhos como quem vê o que está para além da linha do horizonte, e respondeu-me com duas intrigantes perguntas, dizendo: “Meu filho, quantos surdos conseguem entender aquilo que não queres ouvir? E quantos cegos conseguem enxergar o que não queres ver?” Simplesmente emudeci, e pude perceber que a autopiedade e o egocentrismo, muitas vezes nos impedem de ver a miséria que nos rodeia, e de ouvir o clamor dos que sofrem mais do que nós.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

O Homem, também, é carne

“Não contenderá o meu Espírito para sempre com o Homem; porque ele, também, é carne.” Gn 6:3
Consultei diferentes versões da Bíblia, sobre este texto das sagradas escrituras, mas o meu favoritismo recaiu sobre a versão revista e corrigida de João Ferreira de Almeida, não por causa do tradutor em si, mas sim pela abordagem detalhada das duas naturezas que compõem o ser humano. Não sou da opinião que a diferentes versões bíblicas, se opõem ou se contradizem, mas creio que algumas são mais claras e outras mais completas em seus textos, sem no entanto adulterarem o contexto geral do Livro Sagrado.
Para além do termo carne, também se referir à nossa realidade física, regra geral ele aparece na Bíblia, no sentido de que o ser humano tem uma inclinação natural para o mal, ou simplesmente significa fragilidade, conforme afirma Jesus: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação: na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca.” MT 26:41. Também no livro dos Salmos lemos o seguinte: “Mas Deus, que é misericordioso, perdoou a sua iniquidade, e não os destruiu; antes, muitas vezes desviou deles a sua cólera, e não deixou despertar toda a sua ira. Porque se lembrou de que eram carne, um vento que passa e não volta.” Sl 78:38, 39.
O texto bíblico de referência deixa bem claro o desalento do criador, a sua decepção em relação ao Homem que criou chegou ao extremo, e ao olhar para ele, somente via que a maldade se multiplicava, e que toda a imaginação dos pensamentos do seu coração era só má continuamente. E arrependeu-se de haver feito o Homem, e isto pesou-lhe em seu coração. Gn 6:1-6
Até então, segundo os registos bíblicos genealógicos, a média de vida do ser humano era muito alta, muitos homens viveram mais de novecentos anos, sendo Metusala o recordista, o qual era filho de um homem que se destaca em toda a genealogia pela sua breve existência, Henoch, apenas 365 anos, e não havendo registo da sua morte, dele está escrito o seguinte: “E andou Henoch com Deus; e não se viu mais; porquanto Deus para si o tomou.” Gn 5:24. Certamente este homem não conseguia enxergar mais nada na vida, ao ponto de Deus concluir que seria uma perca de tempo esperar que ele morresse, e assim permitiu que Henoch caminhasse com Ele até que se perdeu de vista. Algo de semelhante, também se passou com o profeta Elias muitos anos mais tarde. II Reis 2:1-11
Algo leva-me a pensar que a longevidade do ser humano era uma tentativa do criador, no sentido de que o homem tivesse tempo para se redimir, ou no mínimo ter a mesma atitude de Henoch, que não desgrudava do seu Senhor e alcançou testemunho de que agradara a Deus. Hb 11:5.
Agora sobre o texto inicial, importa realçar, que a maioria das traduções só transmite uma ideia, por exemplo: “Meu Espírito não permanecerá no Homem, pois ele é carne.” – Bíblia de Jerusalém. Não vou proteger o Homem por muito tempo. Ele é mortal.” – Versão ecuménica. “O meu Espírito não permanecerá indefinidamente no Homem, pois o Homem é carne.” – Missionários capuchinhos, edição de 1978. “O meu Espírito não continuará a ser desonrado pelo Homem, visto que todo ele é mau.” – O Livro – a Bíblia para Hoje, etc.
Aqui neste texto, João de Almeida destaca-se, através dos detalhes do seu texto dizendo: “Porque ele, o Homem, também é carne. E assim surge a dupla ideia de que o Homem não é somente carne.
Também no evangelho de S. Mateus, Jesus transmite-nos a mesma ideia: “E tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome; e, chegando-se a ele o tentador disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães. Ele porém respondendo disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o Homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.” MT 4:2-4
A nossa realidade física não deve ser subestimada, no entanto é passageira e de pouco sentido se negligenciarmos a nossa realidade espiritual.
Muitas vezes devido à nossa ignorância, fazemos afirmações como esta: o mais importante é ter saúde! Pois sem ela não se pode trabalhar, se não trabalharmos, não produzimos, se não produzimos, também não colhemos, se não colhemos, não temos alimento, e sem alimento o corpo debilita-se e adoece, e assim torna-se um ciclo vicioso, como se fôssemos um cachorro correndo atrás do seu próprio rabo, andando em círculos contínuos sem nunca sair do mesmo lugar. Através da sua experiência no deserto, Jesus dá-nos um choque de lucidez, Ele também era homem sujeito às mesmas carências e tentações que todos nós. Hb 4:15 E mesmo assim ao fim de quarenta dias de jejum só pôde reconhecer que o único alimento do qual o Homem não pode prescindir, é toda a palavra que sai da boca de Deus.
Duvido muito que certos cristãos levem isto a sério, trabalha-se seis e a sete dias na semana, quase nunca se põe os pés numa igreja, lêem-se muitos livros, jornais e até certas revistas de conteúdo duvidoso, mas a Bíblia despreza-se e por causa disto se fazem outras afirmações, como por exemplo: o que está para lá da morte é um mistério que ninguém sabe, muitos já partiram deste mundo, mas nunca nos vieram trazer notícias do outro. Nem é de estranhar que assim se pense, pois o único livro que fala com verdade do que se passa para além da fronteira da morte é a Bíblia, não pode nem deve ser ignorada, não deve ser apenas um objecto decorativo preenchendo um lugar vago nas nossas bibliotecas privadas, que de quando em quando se pega nela apenas para limpar o pó.
Através do seu servo Moisés, Deus fala ao seu povo de Israel o seguinte: “Ouve, Israel, o Senhor, teu Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, tem Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder. E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as intimarás aos teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão e te serão por testeiras entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais da tua casa, e nas tuas portas.” Deut 6:4-9
Por tudo isto, só podemos concluir que a palavra de Deus é alimento completo e integral, espiritualmente aconselhável a todas as idades, deve ser habilmente regurgitada aos nossos filhos, como poesia deveria fluir dos nossos lábios, quer no aconchego dos nossos lares, quer caminhando ou trabalhando. Como a brisa da noite conforta-nos ao deitar, quando nos levantamos é estimulante como o orvalho da manhã. Transforma o nosso egoísmo em gestos de amor e solidariedade e no nosso semblante aumenta o brilho do nosso olhar.
Nos umbrais das nossas casas e nas suas portas, a palavra do Senhor, deveria ser gravada, para que dela nunca nos esquecêssemos, nem das misericórdias do nosso Deus.
O Homem não é somente carne, por isso carece de toda apalavra que sai da boca de Deus.

Disse H. Greeley: “É impossível escravizar mental ou socialmente um povo que leia a Bíblia.”

quarta-feira, 7 de maio de 2014

O Clamor de Deus

Clama a mim, e responder-te-ei, e anunciar-te-ei coisas grandes e firmes, que não sabes. Gr 33:3.
As posições parecem terem-se invertido, o povo já não mais buscava a Deus para obter misericórdia e orientação, mas é o Senhor que através do profeta Jeremias, incentiva o povo a reconsiderar a sua situação espiritual, clamando para que o busquem, porque quer anunciar-lhes coisas grandes e firmes que eles desconhecem.
Por mais que me esforce, a frustração de Deus em relação ao ser humano, está para além da minha compreensão, pois ela é imensa, pois já nada era mais como no princípio, o ser criado adulterara por completo os seus propósitos. O Todo Poderoso ao concluir a sua obra disse: “Eis que tudo é muito bom.” Gr 1:31.
Na verdade tudo se relacionava na perfeição, a harmonia existente entre criador e criatura era tal que nem se percebia a diferença entre os seres, na realidade o ser criado era conforme a imagem e semelhança daquele que o criou. Mas certo dia aquela rotina amistosa e paradisíaca foi quebrada, e o caus instalou-se, porque uma voz estranha se fez ouvir no Éden, que ardilosamente levou os nossos antepassados a transgredirem a ordem do seu Deus, e aquilo que a princípio parecia agradável aos olhos e desejável para dar entendimento, fez com que os nossos primeiros pais temessem Aquele que os amava acima de toda a criação. Aqui pela primeira vez o criador sentiu a frustração de um encontro anulado e a necessidade de perguntar: “Adão onde estás?”
Ao longo de toda a história, Deus sempre se empenhou em estabelecer um relacionamento amistoso com o ser humano, e estou certo de que o seu empenho não ficou limitado à era Bíblica, ele estende-se até nós e na oração que Jesus ensinou (o Pai nosso), fica claro que a mais soberana demonstração daquilo que Deus pretende, é um relacionamento íntimo, contínuo e com direito de exclusividade.
O clamor de Deus, vem muito a propósito para o nosso tempo, estamos a viver tempos difíceis a todos os níveis, o mundo parece ter entrado num beco sem saída e clama por uma resolução que o liberte. Disse G. Washington: “é impossível governar corretamente o mundo, sem Deus e sem a Bíblia.”
Estão-se a esgotar todas as hipótese e soluções, o mundo não sabe mais para que lado se virar e à semelhança daquilo que aconteceu no tempo do profeta Jeremias, Deus certamente está a procurar alguém que pratique a justiça e busque a verdade para que possa usar de misericórdia e perdão e assim revelar a sua grandeza, mas infelizmente muitas vezes só o buscamos como último recurso, ou para proveito próprio.
Não são raras as vezes em que a Santa palavra de Deus nos adverte seriamente para que sejamos modestos no que diz respeito às coisas concernentes a esta vida. Disse Jesus: “Não andeis cuidadosos, quanto à vossa vida, mas buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça e todas as coisas vos serão acrescentadas. MT 6. Mas no que respeita às coisas espirituais e verdadeiras, incita-nos a que nos cheguemos a Deus com confiança dizendo: “Pedi e dar-se-vos-á, buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á; porque qualquer que pede, recebe e quem busca acha; e a quem bate, abrir-se-lhe-á.” Lc 11:9,10.
“Buscai ao Senhor, enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto, porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos” – diz o Senhor. “Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos que os vossos caminhos e os meus pensamentos mais altos que os vossos pensamentos.” Is 55:6-9.
Mas no entanto o ser humano é propenso a inverter as prioridades. Certo dia reclamou Jesus daqueles que o seguiam dizendo: “Na verdade me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque que comestes do pão e vos saciastes. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará; porque a este, o Pai, Deus, o selou.” Jo 6:26, 27.
O contexto histórico em que Jesus viveu, era caótico, o povo Judeu havia perdido a sua identidade como nação, pois estava sob o domínio romano, já havia alguns séculos que estavam sem profeta, os líderes religiosos haviam-se corrompido e dividiam-se em algumas fracções, cada qual pensando e interpretando as escrituras segundo as suas conveniências, por isso até mesmo o povo não conseguia enxergar algo mais do que o ventre, estabilidade política, económica e social.
Jesus veio mesmo a propósito, parecia ser mágico, multiplicava pães e peixes, transformava água em vinho, curava todo o tipo de enfermidades, expulsava demónios e ressuscitava mortos, o que mais poderiam desejar, a não ser que ele fosse coroado rei e tudo seria perfeito. Até mesmo dois dos seus discípulos estavam tão entusiasmados, que queriam sentar-se, um à direita e outro à esquerda de Jesus no seu reino.
Para nós seres humanos, na verdade, os milagres, as curas, as expulsões demoníacas e as ressurreições, são coisas grandes e até devemos considerá-las e estar gratos e louvar o criador por tudo isso, mas para Ele, todas estas coisas são pequenas e temporais, porque os seus pensamentos e os seus caminhos são muito mais excelsos.
Actualmente muitos cristãos, infelizmente, pouco divergem do antepassado povo Judeu contemporâneo do Mestre da Galileia. O que os motiva quando se deslocam aos sumptuosos santuários, para além de se invocar outros deuses que não o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo? Com que objectivo alguns procuram centros de ajuda espiritual e outros curandeiros e bruxos? Certamente coisas demasiado pequenas e temporais. Dá-se ouvidos a outras vozes e não se consulta a Santa Bíblia. Busca-se muito mais o proveito próprio do que a glórias do Altíssimo Deus.
“Clama a mim e responder-te-ei”, é uma promessa também válida para os cristãos de hoje, se tão somente formos capazes de praticar a justiça e buscar as verdades eternas. Infelizmente na maioria dos casos somos religiosos frustrados, contentando-nos com as míseras migalhas que o inimigo oferece disfarçado de anjo.
Apropriadamente escreve o apóstolo Tiago: “Cobiçais e nada tendes, e nada tendes porque nada pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites.” Tg 4:2,3.
Coisas grandes e firmes são aquelas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu e que jamais subiram ao coração humano, essas mesmas são as que Deus preparou para aqueles que o amam. “Porque nos são reveladas pelo seu Espírito que penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus.” I Cor 2:9,10.

A sua avaliação não pode estar sujeita ao critério dos homens, mas unicamente ao padrão Divino.