segunda-feira, 8 de agosto de 2016

O Mosquito e o Camelo

Inicialmente, isto poderá parecer uma história de embalar, divertida e para crianças. Os dois personagens do título deste texto, têm pouco ou quase nada em comum. Um é muito grande, o outro, muito pequeno, um é animal ruminante, o outro um simples insecto, o camelo é animal de carga, o mosquito poderá ser apenas um picador molestante. No entanto Jesus os inclui a ambos entre os ais que proferiu contra os escribas e fariseus hipócritas, dizendo: Condutores cegos! Que coais um mosquito, e engolis um camelo. MT 23:24.
Na verdade, um mosquito pode muito bem ser algo desagradável, se nos depararmos com ele na sopa ou no nosso leite achocolatado. O camelo é um animal que pode ser muito útil no trabalho, mas Jesus usa cada um deles, traçando-lhes uma linha comum de forma figurada para ensinar o povo contra os falsos mestres.
               Tendo em conta que os escribas e fariseus hipócritas contemporâneos de Jesus, sempre se fizeram representar na igreja ao longo de toda a história, os mesmos têm chegado até nós trajando-se de outras formas, mas sempre com o mesmo propósito, o de falsificar a santa palavra de Deus. Se nos ativermos às palavras do mestre, dando-lhes o devido valor, percebemos que ele nunca quis dizer que pequenos males devem ser ignorados e que somente devemos dirigir a nossa atenção para os grandes pecados. Simplesmente não devemos salientar coisas de segunda importância, quando nos escapam as grandes questões. Diz mais o Senhor: Ai de vós escribas e fariseus, hipócritas! Pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas MT 23:23.
               No reino de Deus, simplesmente não podemos nem devemos proceder de forma facciosa. O fato de nós sermos extremamente zelosos em alguns aspectos, isso não nos dispensa de sermos coerentes com todo o restante das exigências divinas. Jesus foi bem claro ao dizer: deveis, porém, fazer estas coisas, ou seja, as que são realmente importantes, sem, no entanto, pormos de parte as outras. Na verdade, no reino de Deus tudo é importante, se tão somente não subestimarmos a sua divina procedência.
               Ao lermos todo o capítulo 23 de S. Mateus, percebemos de imediato que Jesus está muito mais preocupado com a essência das coisas, do que com a sua aparência, embora a mesma também seja importante, mas não essencial.
               No nosso corpo, todos os membros são importantes para o bom funcionamento do mesmo e sua boa apresentação, mas se por algum motivo de saúde, algum deles tem de ser amputado, isso é bem preferível, do que todo o corpo fique contaminado. É necessário fazer-se bom uso da sabedoria, para que se possa tomar as decisões certas. Ao descuidarmos pequenos sintomas, eles podem tornar-se em grandes males. Um pequeno pecado tolerado, é como o fermento, que sendo em pouca quantidade, tem o poder de levedar toda a massa. O falso testemunho contra alguém, tem o poder devastador de um pequeno fogo no meio de uma floresta. A língua é um pequeno membro que se vangloria de grandes feitos, a mesma tem que ser continuamente refreada, para que possa servir os bons propósitos de Deus. O grão de mostarda, considerado por Jesus a mais pequena de todas as sementes, semeadas pelo homem é símbolo de todo o potencial da fé e do reino dos céus. A fé que em nós opera, tem poder transformador, jamais podemos ficar indiferentes quanto á sua divina procedência.
               Na sua censura aos escribas e fariseus, Jesus realça os três pontos fundamentais da lei, ou seja: o juízo, a misericórdia e a fé. O mestre não critica aquilo que faziam, mas o que não faziam. No exterior tudo parecia luzir, havia aparência de rigor, de santidade e de religiosidade, por isso eram hipócritas, porque na essência desprezavam o mais importante da lei. Uma mente carnal os dominava de tal forma que não conseguiam perceber as coisas do Espírito. Na actualidade uma grande parte do cristianismo tem enveredado pelo mesmo caminho dos religiosos contemporâneos do mestre da Galileia. Atam pesados fardos aos ombros dos seus semelhantes, mas nem com um dedo os ajudam a suportar a carga.
               A fé de que Jesus fala e que faço questão de realçar, é aquela que apesar de todas as adversidades, me mantém fiel ao meu Senhor custe o que custar, muito diferente daquela que pretende curas e milagres. Pois essa tem sido tão fraudulenta, que leva pessoas simples a crerem que até mesmo a senhora da burrinha opera maravilhas. Para muitos cristãos não se pode fumar porque isso contamina o corpo que é o templo do Espírito Santo, não se pode beber uma cerveja com os amigos numa taberna, porque isso dá mau testemunho, usar pressing ou um brinco na orelha escandaliza etc, etc. São muito apologistas da santidade, em pequenos pormenores exteriores, que nada têm a ver com a santidade, fazem de Jesus mentiroso, não crendo realmente em suas afirmações, contraditando-o com pretensas interpretações, fruto de raciocínios puramente humanos, para os quais a virtude da fé que atrás me refiro é algo que não lhes assenta.
               Não ignoro que o vício de fumar, prejudica gravemente a saúde, assim como o orçamento familiar. Também não ignoro que beber em excesso, pode alterar os comportamentos do indivíduo de forma negativa, mas quanto a piercings e brincos, já não sei o que pensar, uma vez que isso só fere os preconceitos de alguns. Nestes apectos, creio que cada um deve saber fazer uso da liberdade para a qual Jesus Cristo nos libertou e do amor ao próximo, respeitando a fé do mais fraco, não o induzindo a pecar contra a sua própria consciência, porque a todos Deus amou de igual modo.

               O mosquito e camelo, são dois personagens que o nosso bom Mestre usou, para nos ensinar a valorizar, o meio termo, a não subestimar as pequenas coisas e a não fugir das grandes questões.