sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Não existem Igrejas sem erros!

Já tenho ouvido de várias pessoas a seguinte afirmação: “Não existem Igrejas sem erros!”. Nunca atrevi-me a perguntar-lhes a que se referem. No entanto gostaria de aproveitar a deixa, para fazer algumas considerações.
Se quando tal afirmam, estão a referir-se ao facto de que as Igrejas são formadas por pessoas pecadoras e por isso falíveis, concordo plenamente com a dita afirmação, pois até mesmo Jesus não tinha um grupo perfeito. Ele escolheu uma elite completamente desajustada. Durante todo o seu ministério teve que lidar com os contras da sua própria escolha, por não ter seguido um rigoroso critério de liderança. Fez questão de pegar em pedra bruta e então aí, com a sua própria mão esculpir cada um para aquilo que pretendia.
Mas se alguém porventura está a tentar insinuar que todas as Igrejas têm erros doutrinários, é melhor que se pondere um pouco. Este tipo de afirmação, não pode, nem deve ser feito de forma leviana. É necessário ter-se conhecimento de causa, a Igreja do Senhor não é uma organização humanitária, ela é o seu corpo visível na Terra. Ele entregou-se a si mesmo por ela para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra. “Para a apresentar a si mesmo, Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.” Ef 5:25-27.
Alguns cristãos atribuem estas características à Igreja invisível ou universal, a qual é constituída pelos verdadeiros salvos de todas as denominações cristãs, e esses só Jesus os conhece, enquanto que a Igreja visível ou local, é constituída por pessoas salvas, e outras que não o são verdadeiramente. Confesso que durante muito tempo partilhei desta opinião, mesmo como luterano. Hoje, simplesmente para mim, ela não faz o mínimo sentido. Como posso pensar na possibilidade de que o meu Senhor não foi capaz de salvar plenamente pessoas que foram baptizadas, frequentam os cultos e comungam do seu corpo e sangue?
Quando o Senhor Jesus deu a grande comissão aos seus discípulos de irem por todo o mundo pregar o evangelho a todas as nações, baptizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, Mt 28:19, eu não estou a ver aqui qualquer possibilidade de se poder imaginar dois tipos de Igreja, uma visível, e outra invisível. A fórmula triúnica e perfeita do baptismo, só me dá a ideia de que só pode haver uma única Igreja, que é visível, e que é constituída por pessoas plenamente salvas.
Creio ser oportuno confessar que a minha falta de coragem para perguntar a essas pessoas por que razão assim pensam, está no facto de eu perceber até onde querem chegar. É muito comum nós tentarmos justificar os nossos erros, expondo os dos outros. Em relação às nossas crenças religiosas, também corremos o risco de procedermos da mesma forma. Até algumas pessoas são tão enfáticas, que são capazes de afirmar de forma contundente, que não acreditam que hajam Igrejas sem erros ou defeitos. Isto aqui ainda é mais sério, é completamente o contrário daquilo que lemos anteriormente em efésios cap. 5. Se tal se afirma, é melhor que se admita, que Cristo já não tem Igreja sobre a face da Terra. O mundo está irremediavelmente perdido. Já não existe mais esperança possível, perto está o fim.
Agora vou ser um pouco mais específico, se alguém está a tentar dizer-me que a Igreja a que eu pertenço também tem erros doutrinários, é bom que sejamos claros. Já deixei para trás algumas Igrejas que tinham erros, não simples falhas humanas, mas verdadeiros erros doutrinários. Não tenho qualquer problema em continuar a proceder da mesma forma, até que encontre uma Igreja que se assemelhe no mínimo àquilo que é exigido nas escrituras. Se a Igreja a que eu pertenço tem realmente graves erros doutrinários e eu não os consigo descobrir, é bom que alguém me possa provar pela escritura, para que assim eu possa tomar uma posição justa e coerente com aquilo a que sempre me propus ser. Em questões espirituais não tenho amores de parte, tenho que usar de justiça para com todas as Igrejas por onde já passei, se até aqui as questões doutrinárias eram de suma importância, agora mais do que nunca o são muito mais.
Já tive oportunidade de dizer para alguém que na Igreja luterana encontrei o meu próprio espaço, é a minha zona de conforto e bem estar, nada me falta no campo espiritual, durante 21 anos sempre respeitaram a minha forma independente de ser, não estou ligado a ela por uma questão de favoritismo, mas pelo simples facto de termos algo em comum. Também já afirmei que não sou propriedade luterana, nem tão pouco seu funcionário, o meu Senhor é Cristo, somente a Ele sirvo e servirei, em conjunto com a comunidade luterana, enquanto não me sentir traído. Não quero dar a ideia de que os luteranos são os únicos detentores da verdade. Creio que ainda devem existir mais algumas Igrejas sérias. Já tive acesso a boa literatura presbiteriana, dialoguei casualmente com um membro da Igreja ortodoxa e fiquei bem impressionado, mas nunca fiquei com a ideia de que estava mal colocado.~
Lamento que os cristãos tenham chegado a tão lastimável estado que se acomodam ao facto de que todas as Igrejas têm erros, e não fazem absolutamente nada para contrariar essa situação. Os cristãos assistem aos cultos com suas bíblias abertas nas mãos, impávidos, os seus líderes pregam as maiores heresias dos seu púlpitos, e os membros não as sabem identificar, outros não se querem incomodar, e assim vão caminhando confortavelmente para o inferno. A Igreja jamais pode ser um clã de espectadores. O apóstolo S. Paulo ao tentar pôr um pouco de ordem na tão desorganizada Igreja de corinto, ele adverte: “e falem dois ou três profetas, e os outros julguem”, I cor 14:29, um pouco mais atrás ele diz o seguinte: “ Irmãos não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no entendimento.” 14:20. Quando Paulo assim adverte, ele não está apelando a um espírito crítico mordaz nem a julgamentos sem causa, mas quer que todos se certifiquem de que a doutrina é pura. A Igreja tem o dever de ser mestra na palavra, tem que ser guerreira no combate contra as astutas ciladas do diabo, fortalecendo-se no seu Senhor e na força do seu poder. Revestindo-se de toda a armadura de Deus para que possa estar firme.” Porque não tem que lutar contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” Efésios 6:10-12.
Por tudo isto, não posso admitir que na minha Igreja hajam erros no que diz respeito à sã doutrina. Todo o cristão trava uma autêntica batalha de alta competição nos lugares celestiais contra todos os espíritos das trevas. O mais pequeno deslize pode ser fatal, o inimigo não dá tréguas, não dorme, não descansa, o seu único objectivo é destruir a Igreja, usando todos os meios possíveis e imaginários, inclusive a própria escritura, deturpando os seus ensinamentos, desvirtuando os sacramentos e apelando a uma falsa espiritualidade baseada em supostos dons de cura, línguas estranhas, emoções fortes e cânticos de louvor que mais glorificam o ego humano do que a Deus.
Em todo o meu percurso eclesiástico já tive oportunidade de ouvir elementos, expressarem-se da seguinte forma: “Hoje senti Deus na minha vida. Quando estava em oração, eu senti a presença do Senhor.” Etc, etc.
Até o meu filho Miguel, certa vez ao conversar comigo, estava um pouco intrigado, e disse-me: “Pai, eu não entendo certas pessoas quando me dizem: “eu sinto Deus na minha vida!”, com a idade que tenho hoje, não sei o que isso é, nunca senti Deus. Naquele momento não lhe adiantei muito, foi uma conversa inesperada, para a qual eu não tinha respostas prontas, embora divagássemos um pouco mais sobre o assunto. Passado algum tempo, ao conversarmos novamente, e desta vez pelo telefone, eu disse-lhe: “Meu filho, tu és um bem-aventurado, nunca sentiste Deus, mesmo assim crês nele, isso é fé.” Disse Jesus a Tomé: “Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram.” João 20:29.
Jesus nunca deu a entender que a nossa espiritualidade é baseada nos nossos sentidos físicos, mas unicamente na fé. Quanto aos sentimentos diz-nos a escritura: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso: quem o conhecerá?” Jer 17:9.
Tudo o que já escrevi até aqui em relação à Igreja, o mesmo também se aplica à família e a cada um em particular. A Igreja do Senhor tem que ser santa e irrepreensível, a família cristã é do Senhor, também não pode ser de outra forma senão santa e irrepreensível, e todo aquele que usa o bom nome de Cristo, tem por obrigação ser perfeito, como perfeito é o Pai que está no céu. Nós somos a carta de Cristo, escrita com o seu próprio sangue. Nossas vidas têm de ser um autêntico livro aberto, um autêntico manjar de Deus servido ao mundo para que se possam banquetear e glorificar ao Criador. “Tudo o que temos e podemos esconder, é a sua santa palavra em nosso coração, para não pecarmos contra Ele.” Salmo 119:11.
Agora eu gostaria de distinguir dois tipos de Igreja: Igreja triunfante e Igreja militante. A primeira talvez lhe possa também chamar de Igreja invisível., pois é constituída por todos aqueles cristãos que perseveraram até ao fim, e que foram fiéis até à morte, pois todos eles deixaram de estar ao alcance dos nossos olhos físicos, passaram para uma dimensão, da qual não há mais retorno, estão na presença do Pai da eternidade. Quanto à Igreja militante, ela é constituída por cristãos plenamente salvos pelo precioso sangue de Jesus Cristo, mas que ainda estão em pleno campo de batalha, lutando contra a carne, contra o pecado, contra o próprio diabo e seus aliados. Infelizmente nesta guerra existem baixas. Existem aqueles que não perseveram até ao       fim, que não conseguem ser fiéis até à morte. Com muita tristeza, o Senhor lhes recusa a coroa da vida. “Nesta luta renhida, devemos resistir até ao sangue, combatendo contra o pecado.” Hb 12:4. Só o verdadeiro cristão corre grave risco, o inimigo não lhe dará descanso enquanto não o derrotar, por isso ele terá que se fortalecer na força do Seu Senhor. Quanto aos perdidos, não pior das hipóteses, correm o risco de serem salvos.
Na Igreja militante os erros humanos são inevitáveis, ninguém é propriamente perfeito no que diz respeito ao entendimento das coisas, nem sempre a aplicação daquilo que se entende é feita da melhor forma, mas os ensinamentos do Senhor são perfeitos e justos. Podemos sim dizer que não existem Igrejas sem erros humanos, mas não podemos consentir que na Igreja do Senhor hajam falsas doutrinas. Na Igreja de Cristo podem haver pequenas discordâncias, desde que isso não envolva os fundamentos da fé cristã. Os cristãos não são obrigados a observarem as mesmas tradições litúrgicas e idumentárias, são coisas de segunda importância. Têm apenas significados simbólicos, ou representam algo que nos sustem a fé.
Seria muito vantajoso se os cristãos deixassem a hipocrisia e investissem toda a sua energia naquilo que é realmente verdadeiro.
Hoje mais do que nunca, o diabo está a usar as escrituras sagradas contra o próprio Deus. Ele fez isso com Adão e Eva no Éden, fez isso com Jesus no deserto, e neste tempo presente o diabo tem-se instalado de tal forma no meio cristão como nunca tal aconteceu em toda a história.
Vivo numa pequena ilha, a ilha Terceira de Jesus Cristo, lamento dizê-lo, mas não o consigo evitar: somos um povo astutamente enganado por políticos e por religiosos. Todos pregam o seu próprio Deus, e não há quem pregue o verdadeiro Deus das sagradas escrituras, com um mínimo de imparcialidade e honestidade. Tenho-me sentido só neste combate sem tréguas e apertado de todos os lados, por vezes quase me faltam as forças, mas confio no Senhor, que me fará justiça. Ele me erguerá das cinzas e fará triunfar o Seu Santo Nome.

Meu pai, meu Pai, meu Pai
Caminhar só, já não consigo
Para que em mim se cale este, ai
Quero caminhar somente contigo

Oh Filho do Altíssimo Deus
Oh meu Salvador Jesus
Ajuda-me a dar testemunho aos meus
Ajuda-me a carregar a cruz

Consolador, Consolador, Consolador
Tu que és  eternamente Santo
Conforta a minha alma na dor
E enxuga os meus olhos no pranto