E, passando Jesus, viu um homem, cego de nascença. E os seus
discípulos lhe perguntaram, dizendo: “Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para
que nascesse cego?”
Jesus respondeu: “Nem ele pecou, nem os seus pais; mas foi
assim para que se manifestem nele as obras de Deus.” João 9:1-3.
Há situações, que aparentemente simplesmente acontecem, não
conseguimos descortinar qual o propósito das mesmas, parecem-nos tão aberrantes,
que à semelhança daqueles discípulos de Jesus, apetece-nos atribuí-las a algo
muito mau que alguém tenha praticado.
Segundo o conceito da época de Jesus, o facto de algumas
pessoas nascerem com determinado problema físico, isso era atribuído a algum
tipo de pecado específico, pelo próprio ou dos seus progenitores. O grande
mestre teve imediatamente a preocupação de desfazer este equívoco.
Actualmente, o facto de se nascer cego, surdo, mudo,
mongoloide, etc., já ninguém atribui isto a qualquer tipo de pecado específico,
quer seja do próprio ou dos seus pais. Encara-se com toda a naturalidade tais
factos e até criam-se escolas de ensino especial, para que tais pessoas, no
futuro possam-se integrar na sociedade e conviverem com os demais, com toda a dignidade
possível. No entanto, existem outros fenómenos, que nos transcendem, por muito
bons cristãos que sejamos. Não creio que Deus, propositadamente permita ou crie
certas situações, para promover a sua glória, mas estou certo que Ele em sua
misericórdia, as toma em suas mãos e as transforma em algo de glorioso.
Identifico-me quase na perfeição com os personagens da
escritura inicialmente citada. Tenho dois filhos, e o primogénito é portador de
um problema genético, o qual, quase transcende a capacidade de aceitar
pacificamente de todos aqueles que mais de perto o rodeiam. Falo de mim próprio
e de minha esposa, que até como pais, nos sentimos apanhados de surpresa. Nunca
ninguém está totalmente preparado para o que der e vier. A vida sempre nos
prega partidas, mas é a misericórdia de Deus que ajuda-nos a superá-las. É
quando as situações nos acontecem, que percebemos o quanto limitados somos.
Quando as mesmas só acontecem na casa dos outros, sabemos tudo, especialmente,
julgar, criticar, excluir, marginalizar. Até damo-nos ao luxo de opinar e de
aconselhar, baseados em nossos conceitos, preconceitos ou naquilo que supomos
conhecer das escrituras extraindo das mesmas alguns textos, que isoladamente
podem muito bem servir como pedras para arremessarmos aqueles que já estão
moribundos, esquecendo-nos que Jesus é aquele que nunca esmaga a cana quebrada
nem apaga o pavio que fumega.
Deveríamos aprender com Jesus a fazer legítimo uso das
escrituras. Ele era o Filho de Deus, conhecia como ninguém toda a lei, conhecia
o coração de Deus e o mais profundo estado lastimável da alma humana, por isso
podia dizer: “Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o
mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” João 3:17.
Existe um grave problema no meio cristão, em alguns casos
parece não saber-se o que realmente é pecado, noutros faz-se vista grossa e em
muitos outros parece que alguns cristãos gostam de inventá-los. A ignorância é
um tremendo obstáculo para o crescimento espiritual de uma igreja e afecta profundamente
o seu desempenho no meio da sociedade. Se não conhecermos bem as escrituras,
também não podemos conhecer Deus. Quando assim falo, não estou a referir-me a
um conhecimento intelectual das mesmas, nem tão pouco ao simples facto de
conhecer-se versículos de cor e respectivas referências bíblicas, o diabo fez
uso desse método para tentar Jesus.
A igreja é a esposa de Cristo, ninguém melhor do que ela para
fazer uma correcta aplicação da santa palavra, é responsável por saber aquilo
que é ou não pecado, para que o mal não se propague no seu meio.
Durante vinte anos, eu e minha esposa, vivemos convictos de
que éramos pais de um casal de filhos. Um dia, aquele que supúnhamos ser a
nossa querida filha, veio-se a descobrir que afinal não era uma mulher, mas sim
um homem habitando o corpo errado. Parece estranho? É verdade! Choca-nos? Sem
dúvida alguma! Existe explicação possível? Simplesmente ultrapassa-me!
Segundo o relatório clínico do Centro Hospitalar Psiquiátrico
de Lisboa, temos o seguinte diagnóstico em relação à nossa filha: “Perturbação
de Identidade de Género (Transexualidade), não sofre de anomalia psíquica e tem
sido regularmente seguida em Consulta por Equipe Multidisciplinar de Sexologia
Clínica.”
É bem possível que à semelhança dos discípulos de Jesus,
alguém olhe para nós, questione-se e diga para si próprio: “certamente pecaram
gravemente, para que tal lhes tenha
sucedido.”
Sei que como pai, sou suspeito, mas também não quero que esse
facto, seja um entrave e me prive de escrever tudo aquilo que é de justiça.
Tentarei ser o mais imparcial possível, não é meu propósito tentar justificar
os pecados de quem quer que seja e muito menos os dos meus próprios filhos. Com
tal atitude poderia muito bem enganar o mundo, mas nunca a Deus. A Bíblia quando
fala de pecado, não faz aceção de pessoas, todos pecam de igual modo, ao
cometerem os mesmos erros. Também o pecado não muda de cor de acordo com os
tempos, aquilo que era considerado pecado por Jesus no seu tempo, continua a
sê-lo ainda hoje.
Como pai, sou o mais interessado em que nossos filhos tenham
uma vida espiritualmente saudável, ao ser o chefe de família, Deus também
incube-me do ofício sacerdotal e profético no meu próprio lar, não só sou
responsável por prover o sustento de toda a família, como também de a orientar
nos sagrados ensinamentos que nos conduzem à vida eterna. Não quero nem sonhar
com a possibilidade, de que no futuro além, ao estar junto do Senhor da glória,
que todos os meus possam estar num lugar bem diverso. Tenho plena consciência
da responsabilidade que me cabe. No campo material nem sempre pude dar aos
nossos filhos, tudo quanto necessitavam ou gostariam de possuir, mas no que diz
respeito às coisas espirituais, sempre esforcei-me até à exaustão. Como
consequência de tal atitude hoje o nosso outro filho é estudante de teologia em
um seminário teológico, assim como aspirante a futuro ministro eclesiástico.
Aquilo sobre o qual quero-me debruçar, não tem tanto a ver
com a realidade daquilo que nos aconteceu, mas sim com aquilo que ainda está
acontecendo e por acontecer.
Os cegos têm direito a ver, os surdos a ouvir, os coxos a
andar, mas aqueles que nascem com disforia de identidade, assim como o nosso
filho, outrora filha, têm que resignar-se, é o que alguns opinam.
A Perturbação de Identidade de Género, consiste em que um
indivíduo pode nascer visivelmente com corpo feminino, no entanto possuir um
cérebro 100% masculino, ou nascer com um corpo masculino e um cérebro 100%
feminino. As reacções de incompatibilidade entre ambos, corpo e cérebro, são
abruptas. Já muitos suicidaram-se, outros amputaram seus órgãos genitais e
ainda outros mutilavam-se, querendo de alguma forma libertarem-se de um corpo
estranho. Dou graças a Deus porque o nosso filho conseguiu resistir à tentação
do suicídio.
Neste momento já vão decorridos dois anos de tratamentos com
hormonas, à medida que o tempo passa o seu aspecto vai-se masculinizando,
também já libertou-se do pesadelo de possuir seios de mulher. Apesar de ainda
haver muito por fazer, o seu aspecto é o de um homem, possui barba e pelos nas
pernas como o seu pai.
É aqui neste ponto que muitos tropeçam em seus julgamentos,
especialmente os religiosos praticantes e ministros eclesiásticos. Zelo cego,
conhecimento generalizado das escrituras, sem ter-se em conta o contexto das
mesmas, acaba-se por fazer uma aplicação incorrecta do livro sagrado. Segundo
eles é grave pecado, alguém transformar o seu corpo, por tratar-se de um
atentado contra o mesmo, que é o templo do Espírito Santo.
Quanto a este particular terei oportunidade de escrever no
futuro, o que importa aqui, é saber o que realmente é pecado.
Segundo as escrituras, podemos seguramente considerar, três
tipos de pecados: “contra Deus, contra o próximo, e por fim contra nós
próprios.” Temos esta tese mais ou menos definida na parábola do filho pródigo,
que diz o seguinte: “Pai pequei contra o céu e perante ti.” Lc 15:21. E em I
cor 6:18; “Fugi da prostituição. Todo o pecado que o homem comete é fora do
corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo.” Quero salientar
que em primeira análise, todo o pecado é primariamente cometido contra Deus e
sua Santa Palavra, pois é somente Ele que através dela estabelece todas as
regras.
Alguns cristãos devotos, gostam de jogar pelo seguro, e então
opõem-se à transformação física dos casos atrás referidos pelo simples facto de
haver dúvidas quanto à natureza de tais procedimentos. Neste particular S.
Tiago em sua epístola nos aconselha: “todo aquele que tem falta de sabedoria
peça-a a Deus, que a todos a dá liberalmente e não lança em rosto.” Tg 1:5.
Desde a minha juventude que ouço dizer: “a palavra de Deus é
sempre actual.” Tenho consciência disso e creio piamente nisso. Mas o facto é
que ao surgir situações como as já mencionadas, muitos vacilam, justificando
que Jesus no seu tempo nunca se deparou com nenhuma situação semelhante que nos
possa servir de referência. Isto é verdade, mas também é verdade que o Senhor
fez discursos que podem muito bem ser aplicados nos nossos dias, se tão somente
considerarmos a seriedade de suas palavras. Disse ele: “Portanto, se o teu olho
direito te escandalizar, arranca-o, e atira-o para longe de ti, pois te é
melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no
inferno. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe
de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca, do que seja o teu
corpo lançado no inferno.” Mt 5:29, 30.
Creio que é de comum acordo, que o simples facto de se nascer
sem alguns dos membros, ou que por acidente percamos alguns deles, isso não é
impedimento para que possamos fazer parte do reino de Deus, nem que por essa
causa o Espírito Santo tenha dificuldade em habitar em nós. Apesar de o
contexto da escritura atrás mencionada, ter a ver com uma situação de
adultério, é de todo apropriado e legítimo fazer-se uma transposição, quanto à
sua aplicação, porque o que acontece com os casos de P. I. G. clinicamente
diagnosticados em nada transgride os princípios nela inseridos.
Creio ser oportuno desfazer-se a ideia de que os indivíduos
portadores de tal patologia, tenham a pretensão de alterar todo o seu corpo.
Isso não só é falso, como é simplesmente impossível. O máximo que se consegue
são apenas algumas modificações no seu aspecto externo, tudo o mais permanece
inalterável, assim como o ADN, impressões digitais, etc., etc.
O fenómeno de pequenas alterações em nosso corpo e seus
derivados, no nosso tempo, já nem se estranha. Por que razão nos escandalizamos
tanto com uma simples mudança de sexo? Afinal de contas os órgãos genitais nem
conseguem definir nossa identidade masculina ou feminina com precisão, pois é o
cérebro quem comanda as operações e define aquilo que realmente somos. Hoje
fazem-se operações plásticas, vasectomias, transplantes de órgãos, aplicam-se
próteses, laqueiam-se trompas, usam-se preservativos, tomam-se pílulas, etc.
Fazem-se um sem número de coisas e isto até mesmo por bons cristãos e não se
estranha. É a ciência que se multiplicou e está ao serviço do ser humano para
maior comodidade. Será tudo isto pecado, uma vez que se altera de alguma forma
o curso natural da natureza humana? A escritura afirma-nos, que onde não há
lei, também não há transgressão. No entanto a mesma escritura é bem clara, que
não podemos fazer tudo o que bem queremos com o nosso corpo. “Pois ele é o
templo do Espírito Santo, que habita em nós, proveniente de Deus. Não somos de
nós próprios, pois fomos comprados por bom preço. É nossa obrigação
glorificarmos a Deus, em nosso corpo e espírito, os quais pertencem a Deus.” I
cor 6: 19, 20.
Mas para que tal aconteça é necessário que nos sintamos bem
com nós mesmos. Não é normal um cego não querer ver, nem um surdo acomodar-se à
surdez, ou um coxo resignar-se à sua situação. Todos eles almejam viver na
plenitude das suas funções. Da mesma forma se comportam os que sofrem de
Perturbação de Identidade de Género, P. I. G.
Os que sofrem de P. I. G., até que nem são pessoas muito
exigentes. Simplesmente não exigem nada de ninguém. Não precisam de doação de
órgãos, unicamente querem ter livre acesso aos técnicos de saúde para que dessa
forma possam afinar a sua verdadeira identidade, usando como matéria-prima o
seu próprio corpo. É evidente que não podemos cometer atentados contra o nosso
corpo, devemos sim cuidá-lo e não maltratá-lo, mas temos o direito de nos
sentirmos bem com o mesmo. Por essa causa, em seu ministério, Jesus deu vista
aos cegos, fez andar os paralíticos, limpou leprosos, abriu a boca aos mudos,
etc., e até afirmou o seguinte: “O que contamina o Homem não é o que entra pela
boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o Homem.” Mt 15:11. Isto só
para dizer que nos devemos ocupar com aquilo que realmente é preocupante.
No nosso mundo livre, onde há plena liberdade religiosa,
prolifera com abundância a heresia, a idolatria e os dogmas forjados,
assistimos a tudo isso passivamente sem nos escandalizarmos. Estas coisas na
verdade não só contaminam os que as promovem, como também todos os que as
praticam. Isto sim é preocupante. Mas é mais cómodo distrairmo-nos com coisas
insignificantes tais como: “não comas, não bebas, não vistas, não fumas, não
transformes, etc., etc., etc.
Por vezes gostamos muito de ser árbitros de futilidades, para
darmos a imagem de que somos sérios e rigorosos, quando apenas coamos mosquitos
e engolimos enormes camelos doutrinários. Isto sim, digo-o novamente, é deveras
preocupante. Creio que quando a igreja ocupar-se daquilo que é realmente
importante e primar por pureza doutrinária e uma teologia não só académica, mas
que nos leve a um conhecimento mais perfeito de Deus, aí sim, creio que tudo o
mais se resolverá, como uma consequência natural de quem realmente teme a Deus.
O Senhor Jesus sempre primou por ser selectivo, preciso, e
objectivo em seus ensinamentos. Ser-se vago e generalista, nunca ensinou nem
ajudou ninguém, antes pelo contrário, gera confusão, insegurança e incerteza.
Aquilo que agora escrevo sobre a patologia P. I. G., não o faço por necessidade
pessoal ou familiar, mas é o resultado de tudo aquilo que pude aprender com uma
situação por demais desagradável, que infelizmente está a tornar-se muito comum
em nosso tempo. É necessário que alguém com um mínimo de lucidez se manifeste
sobre o assunto e assim possa contribuir para que outros nas mesmas
circunstâncias que nós, possam encontrar um pouco de compreensão, alento e
ajuda.
Dou graças ao Criador de todas as coisas, que durante toda
esta situação, nunca nos desamparou e já lá vão quatro anos e meio desde que
tudo começou. Na verdade, nós não conseguimos enxergar desde o início tudo com
a mesma clareza, isto que agora escrevo é apenas o resultado de um longo tempo
de muito sofrimento, clamor e lágrimas, angústias, incertezas e sentimento de
abandono do próprio Criador. Tudo surgiu como se fosse um tsunami, ao mesmo
tempo que parecia faltar-nos o mundo debaixo dos nossos pés. A situação parecia
única, nunca ouvíramos falar de tal coisa, de início chegou-se a pensar que
nossa filha era lésbica. Para a comunidade cristã na qual estamos inseridos,
também tudo apareceu como novidade, nunca tal tinha acontecido no seu meio, no
entanto nunca houve alarmismos, tudo foi sendo ponderado segundo a orientação
do Espírito Santo e buscando na santa palavra de Deus as melhores directrizes.
Nunca nos sentimos descriminados, antes pelo contrário,
incluídos e amados. O nosso filho, outrora filha, participa com toda a naturalidade na comunhão do corpo e sangue de
nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, assim como também é regularmente
solicitado para participar em eventos especiais, tocando sua guitarra e
cantando algumas composições de sua autoria. Tudo aquilo que parecia ser o fim
do mundo, agora está a ter um novo sabor. Nossa fé foi fortalecida e uma nova
lição foi aprendida. O que dizer daquelas pessoas que por capricho, vaidade ou
simples curiosidade se submetem à prática da mudança de sexo? Quem não teme a
Deus, também não tem que sujeitar-se às suas leis, certamente que Deus as
julgará no último dia com rigor e justiça.
Quanto a nós, nossa consciência está tranquila, todo o
processo do nosso filho está a ser acompanhado por técnicos de saúde
qualificados e responsáveis, que ao mesmo tempo estão a lutar para que no
futuro, todos os casos clinicamente diagnosticados, possam ser comparticipados
pelo estado. É muito caro tratar estas situações, ainda não sabemos como vamos
conseguir todo o dinheiro necessário para ajudar o nosso filho a concluir todo
o seu processo de transformação, simplesmente confiamos na misericórdia de
Deus.
Gostaria agora que recuássemos à escritura que deu início a
este texto, pois dela podemos ainda tirar outras conclusões, que nos podem
ajudar a termos um conceito de Deus muito mais enriquecido. Segundo a
perspectiva dos discípulos, aquele homem cego, estava a ser alvo por tabela, da
ira de Deus, segundo o conceito de Jesus, a mesma pessoa era agraciada por Deus
para que através dela se manifestassem as suas obras.
Alguns dias atrás, ao conversar com o nosso filho, sobre a
sua situação, fiquei muito triste por ele considerar-se um castigado por Deus,
pelo simples facto de não ter nascido já um homem completo. Mas é natural que
assim se sinta, também o cego que Jesus curou, não sentia-se propriamente a
pessoa mais feliz do mundo. Nas situações adversas só Deus consegue enxergar os
prós, nós apenas só nos lamentamos com os contras. Ser-se instrumento de Deus,
nem sempre é motivo de regozijo, quase nos custa os olhos da cara, a Jesus
custou-lhe a própria vida.
Caro leitor, também não estranhe nestas dóceis criaturas,
reacções ou atitudes que de início por vezes nos pareçam ridículas ou
exibicionistas, pois estão a aprender a conviver com a sua nova realidade de
forma já tardia. Devemos também ter todo o cuidado para que não façamos destas
tristes situações, motivo de brincadeiras de mau gosto em páginas de facebook.
Tudo isto está muito longe de ser diversão, elas passam pelas tormentas do
inferno numa sociedade comodista, consumista e desamorosa, em que cada um
apenas olha para o seu umbigo untado.
Tenho conhecimento de que algumas pessoas com o mesmo
problema de nosso filho, optaram pela não transformação, admiro-as e não as
censuro, a escolha é pessoal, cada um deve ser coerente com o dom que Deus lhe
dá. No entanto não devemos pensar que os tais são mais espirituais ou tementes
a Deus, assim como os que se submetem à transformação, também não são mais
corajosos, porque aparentemente parecem desafiar o mundo, a família e a igreja.
Em ambos os casos é necessário, coragem, fé, e muito temor a Deus, para que
possam viver uma vida casta e assim, glorifiquem o Criador em seus próprios
corpos não os entregando à prostituição. Ninguém deve gloriar-se a não ser na
cruz de Cristo. Tudo o que aqui está a ser tratado é uma questão de saúde e não
um capricho, vaidade ou simples curiosidade.
Depois de tudo isto que acabo de escrever, se ainda há alguém
que possa ficar séptico, gostaria de adiantar mais o seguinte: “Se aqueles que
promovem a idolatria, estimulando multidões a dirigirem-se a grandes santuários
para adorarem deuses falsos, que são semelhança de homens, mas que não veem,
não falam, não ouvem, não conseguem andar se não forem carregados
às costas e os que se levantam contra a sacramentalidade do baptismo e ceia do Senhor, se os tais acham-se por dignos de entrar no reino dos céus, digo-o com alguma ironia: qualquer transexual temente a Deus chega lá primeiro do que eles, mesmo a pé-coxinho. Foi Jesus quem o disse: “que muitos dos últimos seriam os primeiros.”
às costas e os que se levantam contra a sacramentalidade do baptismo e ceia do Senhor, se os tais acham-se por dignos de entrar no reino dos céus, digo-o com alguma ironia: qualquer transexual temente a Deus chega lá primeiro do que eles, mesmo a pé-coxinho. Foi Jesus quem o disse: “que muitos dos últimos seriam os primeiros.”
Certo dia, alguém tentou persuadir nosso filho a que
desistisse dos tratamentos hormonais, porque os mesmos podem ser altamente
prejudiciais à saúde, pois podem atacar o fígado. Nosso filho simplesmente
nos disse o seguinte: “Se algum dia um médico me disser que terei de parar o tratamento hormonal por algum motivo de saúde, para que a minha esperança de vida melhore, eu recuso-me a fazê-lo. Farei tudo o que poder para ser saudável, mas parar o tratamento, não. Não voltarei atrás. Porque eu recuso-me a morrer como sendo outra coisa além de homem. Morrerei sendo homem, mesmo que sê-lo me mate!.” A mim como
pai doeu-me muito ouvi-lo proferir estas palavras, não pelo facto de elas
parecerem-me suicidas, mas por perceber a luta interior e intensa que ele trava
a cada dia, por preservar a sua verdadeira identidade, mesmo que para isso
tenha que pagar um preço muito alto.
É bem possível que muitos em nosso lugar já tivessem
consultado médiuns, bruxos, cartomantes, astrólogos, milagreiros, frequentado
centros de ajuda espiritial, feito promessas a anjos e a santos. Mas preferimos
confiar no Senhor que disse: “Não necessitam de médico os sãos, mas sim os
doentes.” É ingratidão para com o Criador subestimar a medicina, como se ela
não fosse seu instrumento para executar as suas obras. S. Paulo, o grande
apóstolo dos gentios, que operou milagres e curas, em grande parte do seu
ministério fez-se acompanhar por Lucas, a quem ele chamou de o médico amado. Cl
4:14. É compreensível que na hora da aflição, sejamos tenntados a buscar ajuda
na porta errada, o diabo nessas ocasiões sempre se disponibiliza para nos
ajudar a resolver tudo da forma mais fácil. É frequente ver-se seus
colaboradores nas esquinas de nossa cidade distribuindo cartões publicitando
suas virtudes mediúnicas. Que Deus nos guarde e nos dê sempre discernimento, e
que possamos sempre confessar: “Elevo os meus olhos para os montes: de onde me
virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra.” Salmo
121:1, 2.
Dedico este texto primeiramente ao meu querido filho: David
Barcelos, outrora, Sílvia Barcelos, ao meu querido filho: Miguel Barcelos e sua
namorada Carolina Martins, à minha querida e sempre fiel esposa Berta Barcelos,
à minha querida mãe, à comunidade I. E. L. P. – Igreja Evangélica Luterana
Portuguesa, pelo amor cristão que sempre nos dedicou, ao Eng.º Evandro
Bettencourt e família, que para além de ser nosso funcionário, tem sido
colaborador dedicado na elaboração dos meus textos, para que seja possível sua
publicação com o mínimo de qualidade. Também quero dedicá-lo às pessoas amigas
e familiares que nunca nos viraram o rosto. À Dr.ª Catarina, Dr.ª Margarida,
Dr. Décio e seus colaboradores, que dedicadamente têm acompanhado o evoluir de
todo o processo do nosso filho.
Por fim dedico todo este meu trabalho, a todos aqueles que
sofrem de P. I. G. – Perturbação de Identidade de Género.