sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Não existem Igrejas sem erros!

Já tenho ouvido de várias pessoas a seguinte afirmação: “Não existem Igrejas sem erros!”. Nunca atrevi-me a perguntar-lhes a que se referem. No entanto gostaria de aproveitar a deixa, para fazer algumas considerações.
Se quando tal afirmam, estão a referir-se ao facto de que as Igrejas são formadas por pessoas pecadoras e por isso falíveis, concordo plenamente com a dita afirmação, pois até mesmo Jesus não tinha um grupo perfeito. Ele escolheu uma elite completamente desajustada. Durante todo o seu ministério teve que lidar com os contras da sua própria escolha, por não ter seguido um rigoroso critério de liderança. Fez questão de pegar em pedra bruta e então aí, com a sua própria mão esculpir cada um para aquilo que pretendia.
Mas se alguém porventura está a tentar insinuar que todas as Igrejas têm erros doutrinários, é melhor que se pondere um pouco. Este tipo de afirmação, não pode, nem deve ser feito de forma leviana. É necessário ter-se conhecimento de causa, a Igreja do Senhor não é uma organização humanitária, ela é o seu corpo visível na Terra. Ele entregou-se a si mesmo por ela para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra. “Para a apresentar a si mesmo, Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.” Ef 5:25-27.
Alguns cristãos atribuem estas características à Igreja invisível ou universal, a qual é constituída pelos verdadeiros salvos de todas as denominações cristãs, e esses só Jesus os conhece, enquanto que a Igreja visível ou local, é constituída por pessoas salvas, e outras que não o são verdadeiramente. Confesso que durante muito tempo partilhei desta opinião, mesmo como luterano. Hoje, simplesmente para mim, ela não faz o mínimo sentido. Como posso pensar na possibilidade de que o meu Senhor não foi capaz de salvar plenamente pessoas que foram baptizadas, frequentam os cultos e comungam do seu corpo e sangue?
Quando o Senhor Jesus deu a grande comissão aos seus discípulos de irem por todo o mundo pregar o evangelho a todas as nações, baptizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, Mt 28:19, eu não estou a ver aqui qualquer possibilidade de se poder imaginar dois tipos de Igreja, uma visível, e outra invisível. A fórmula triúnica e perfeita do baptismo, só me dá a ideia de que só pode haver uma única Igreja, que é visível, e que é constituída por pessoas plenamente salvas.
Creio ser oportuno confessar que a minha falta de coragem para perguntar a essas pessoas por que razão assim pensam, está no facto de eu perceber até onde querem chegar. É muito comum nós tentarmos justificar os nossos erros, expondo os dos outros. Em relação às nossas crenças religiosas, também corremos o risco de procedermos da mesma forma. Até algumas pessoas são tão enfáticas, que são capazes de afirmar de forma contundente, que não acreditam que hajam Igrejas sem erros ou defeitos. Isto aqui ainda é mais sério, é completamente o contrário daquilo que lemos anteriormente em efésios cap. 5. Se tal se afirma, é melhor que se admita, que Cristo já não tem Igreja sobre a face da Terra. O mundo está irremediavelmente perdido. Já não existe mais esperança possível, perto está o fim.
Agora vou ser um pouco mais específico, se alguém está a tentar dizer-me que a Igreja a que eu pertenço também tem erros doutrinários, é bom que sejamos claros. Já deixei para trás algumas Igrejas que tinham erros, não simples falhas humanas, mas verdadeiros erros doutrinários. Não tenho qualquer problema em continuar a proceder da mesma forma, até que encontre uma Igreja que se assemelhe no mínimo àquilo que é exigido nas escrituras. Se a Igreja a que eu pertenço tem realmente graves erros doutrinários e eu não os consigo descobrir, é bom que alguém me possa provar pela escritura, para que assim eu possa tomar uma posição justa e coerente com aquilo a que sempre me propus ser. Em questões espirituais não tenho amores de parte, tenho que usar de justiça para com todas as Igrejas por onde já passei, se até aqui as questões doutrinárias eram de suma importância, agora mais do que nunca o são muito mais.
Já tive oportunidade de dizer para alguém que na Igreja luterana encontrei o meu próprio espaço, é a minha zona de conforto e bem estar, nada me falta no campo espiritual, durante 21 anos sempre respeitaram a minha forma independente de ser, não estou ligado a ela por uma questão de favoritismo, mas pelo simples facto de termos algo em comum. Também já afirmei que não sou propriedade luterana, nem tão pouco seu funcionário, o meu Senhor é Cristo, somente a Ele sirvo e servirei, em conjunto com a comunidade luterana, enquanto não me sentir traído. Não quero dar a ideia de que os luteranos são os únicos detentores da verdade. Creio que ainda devem existir mais algumas Igrejas sérias. Já tive acesso a boa literatura presbiteriana, dialoguei casualmente com um membro da Igreja ortodoxa e fiquei bem impressionado, mas nunca fiquei com a ideia de que estava mal colocado.~
Lamento que os cristãos tenham chegado a tão lastimável estado que se acomodam ao facto de que todas as Igrejas têm erros, e não fazem absolutamente nada para contrariar essa situação. Os cristãos assistem aos cultos com suas bíblias abertas nas mãos, impávidos, os seus líderes pregam as maiores heresias dos seu púlpitos, e os membros não as sabem identificar, outros não se querem incomodar, e assim vão caminhando confortavelmente para o inferno. A Igreja jamais pode ser um clã de espectadores. O apóstolo S. Paulo ao tentar pôr um pouco de ordem na tão desorganizada Igreja de corinto, ele adverte: “e falem dois ou três profetas, e os outros julguem”, I cor 14:29, um pouco mais atrás ele diz o seguinte: “ Irmãos não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no entendimento.” 14:20. Quando Paulo assim adverte, ele não está apelando a um espírito crítico mordaz nem a julgamentos sem causa, mas quer que todos se certifiquem de que a doutrina é pura. A Igreja tem o dever de ser mestra na palavra, tem que ser guerreira no combate contra as astutas ciladas do diabo, fortalecendo-se no seu Senhor e na força do seu poder. Revestindo-se de toda a armadura de Deus para que possa estar firme.” Porque não tem que lutar contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” Efésios 6:10-12.
Por tudo isto, não posso admitir que na minha Igreja hajam erros no que diz respeito à sã doutrina. Todo o cristão trava uma autêntica batalha de alta competição nos lugares celestiais contra todos os espíritos das trevas. O mais pequeno deslize pode ser fatal, o inimigo não dá tréguas, não dorme, não descansa, o seu único objectivo é destruir a Igreja, usando todos os meios possíveis e imaginários, inclusive a própria escritura, deturpando os seus ensinamentos, desvirtuando os sacramentos e apelando a uma falsa espiritualidade baseada em supostos dons de cura, línguas estranhas, emoções fortes e cânticos de louvor que mais glorificam o ego humano do que a Deus.
Em todo o meu percurso eclesiástico já tive oportunidade de ouvir elementos, expressarem-se da seguinte forma: “Hoje senti Deus na minha vida. Quando estava em oração, eu senti a presença do Senhor.” Etc, etc.
Até o meu filho Miguel, certa vez ao conversar comigo, estava um pouco intrigado, e disse-me: “Pai, eu não entendo certas pessoas quando me dizem: “eu sinto Deus na minha vida!”, com a idade que tenho hoje, não sei o que isso é, nunca senti Deus. Naquele momento não lhe adiantei muito, foi uma conversa inesperada, para a qual eu não tinha respostas prontas, embora divagássemos um pouco mais sobre o assunto. Passado algum tempo, ao conversarmos novamente, e desta vez pelo telefone, eu disse-lhe: “Meu filho, tu és um bem-aventurado, nunca sentiste Deus, mesmo assim crês nele, isso é fé.” Disse Jesus a Tomé: “Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram.” João 20:29.
Jesus nunca deu a entender que a nossa espiritualidade é baseada nos nossos sentidos físicos, mas unicamente na fé. Quanto aos sentimentos diz-nos a escritura: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso: quem o conhecerá?” Jer 17:9.
Tudo o que já escrevi até aqui em relação à Igreja, o mesmo também se aplica à família e a cada um em particular. A Igreja do Senhor tem que ser santa e irrepreensível, a família cristã é do Senhor, também não pode ser de outra forma senão santa e irrepreensível, e todo aquele que usa o bom nome de Cristo, tem por obrigação ser perfeito, como perfeito é o Pai que está no céu. Nós somos a carta de Cristo, escrita com o seu próprio sangue. Nossas vidas têm de ser um autêntico livro aberto, um autêntico manjar de Deus servido ao mundo para que se possam banquetear e glorificar ao Criador. “Tudo o que temos e podemos esconder, é a sua santa palavra em nosso coração, para não pecarmos contra Ele.” Salmo 119:11.
Agora eu gostaria de distinguir dois tipos de Igreja: Igreja triunfante e Igreja militante. A primeira talvez lhe possa também chamar de Igreja invisível., pois é constituída por todos aqueles cristãos que perseveraram até ao fim, e que foram fiéis até à morte, pois todos eles deixaram de estar ao alcance dos nossos olhos físicos, passaram para uma dimensão, da qual não há mais retorno, estão na presença do Pai da eternidade. Quanto à Igreja militante, ela é constituída por cristãos plenamente salvos pelo precioso sangue de Jesus Cristo, mas que ainda estão em pleno campo de batalha, lutando contra a carne, contra o pecado, contra o próprio diabo e seus aliados. Infelizmente nesta guerra existem baixas. Existem aqueles que não perseveram até ao       fim, que não conseguem ser fiéis até à morte. Com muita tristeza, o Senhor lhes recusa a coroa da vida. “Nesta luta renhida, devemos resistir até ao sangue, combatendo contra o pecado.” Hb 12:4. Só o verdadeiro cristão corre grave risco, o inimigo não lhe dará descanso enquanto não o derrotar, por isso ele terá que se fortalecer na força do Seu Senhor. Quanto aos perdidos, não pior das hipóteses, correm o risco de serem salvos.
Na Igreja militante os erros humanos são inevitáveis, ninguém é propriamente perfeito no que diz respeito ao entendimento das coisas, nem sempre a aplicação daquilo que se entende é feita da melhor forma, mas os ensinamentos do Senhor são perfeitos e justos. Podemos sim dizer que não existem Igrejas sem erros humanos, mas não podemos consentir que na Igreja do Senhor hajam falsas doutrinas. Na Igreja de Cristo podem haver pequenas discordâncias, desde que isso não envolva os fundamentos da fé cristã. Os cristãos não são obrigados a observarem as mesmas tradições litúrgicas e idumentárias, são coisas de segunda importância. Têm apenas significados simbólicos, ou representam algo que nos sustem a fé.
Seria muito vantajoso se os cristãos deixassem a hipocrisia e investissem toda a sua energia naquilo que é realmente verdadeiro.
Hoje mais do que nunca, o diabo está a usar as escrituras sagradas contra o próprio Deus. Ele fez isso com Adão e Eva no Éden, fez isso com Jesus no deserto, e neste tempo presente o diabo tem-se instalado de tal forma no meio cristão como nunca tal aconteceu em toda a história.
Vivo numa pequena ilha, a ilha Terceira de Jesus Cristo, lamento dizê-lo, mas não o consigo evitar: somos um povo astutamente enganado por políticos e por religiosos. Todos pregam o seu próprio Deus, e não há quem pregue o verdadeiro Deus das sagradas escrituras, com um mínimo de imparcialidade e honestidade. Tenho-me sentido só neste combate sem tréguas e apertado de todos os lados, por vezes quase me faltam as forças, mas confio no Senhor, que me fará justiça. Ele me erguerá das cinzas e fará triunfar o Seu Santo Nome.

Meu pai, meu Pai, meu Pai
Caminhar só, já não consigo
Para que em mim se cale este, ai
Quero caminhar somente contigo

Oh Filho do Altíssimo Deus
Oh meu Salvador Jesus
Ajuda-me a dar testemunho aos meus
Ajuda-me a carregar a cruz

Consolador, Consolador, Consolador
Tu que és  eternamente Santo
Conforta a minha alma na dor
E enxuga os meus olhos no pranto

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Guerreiro de alta competição - Autobiografia

Sou camponês, filho de camponeses, meu avô paterno vendia peixe de porta em porta, carregando-o aos ombros com pau de carreto e cestos de vime. Meu avô materno era camponês e também conhecedor da arte de carpinteiro e marceneiro. Meu pai era analfabeto, no entanto sabia assinar o seu nome fazia contas de cálculo mental como poucos. Minha mãe completou a 4ª classe, assim como todos os seus filhos, foi este o mais alto grau de escolaridade que nos conseguiram dar. Além disto como açorianos que somos, temos alguma tradição religiosa, tanto quanto sei, todos os nossos antepassados, eram católicos romanos.
Nunca fui muito assíduo às missas, mas também meus pais não me davam o melhor exemplo. De meu pai não tenho memória de que alguma vez acompanhasse a família à igreja, à excepção de alguns funerais ou casamentos. De minha mãe lembro-me de que algumas vezes nos acompanhava, mas na maioria dos casos eu ia à missa sozinho. De meus pais e padrinhos, tenho o testemunho de que fui submetido ao Santo Baptismo na minha infância. Também fiz catequese e primeira comunhão. Ao passar pela fase da rebeldia, simplesmente recusei-me a fazer o crisma.
Minha querida mãe, apesar de ter que lidar com algumas adversidades em relação ao seu matrimónio, nunca descuidou a educação moral e religiosa dos seus cinco filhos, dos quais eu sou o primogénito, seguido de quatro irmãs. Em nossa casa havia um novo testamento e também um volume só com os quatro evangelhos. Lembro-me perfeitamente de um dia nossa mãe escrever os dez mandamentos, cada um deles na sua cor, usando nossas canetas de feltro escolares. Da mesma forma procedeu com as obras de misericórdia, emoldurando cada uma das peças, colocando-as numa parede bem visível da nossa cozinha. Recordo com alegria aqueles momentos em que antes do deitar, líamos em conjunto estas autênticas obras de arte materna.
Regularmente também ouvíamos programas religiosos na rádio tais como: “Voz Baptista açoriana”, “Voz da esperança”, da Igreja Adventista e “Novas de alegria”, um programa da Igreja Pentecostal, “Assembleia de Deus”.
Como consequência de tal busca espiritual, nosso conhecimento das escrituras foi crescendo, assim como uma sede cada vez maior, de pureza e verdade em relação às coisas de Deus. Certo dia, nossa mãe tomou a iniciativa de escrever para o programa “Novas de alegria”, para que nos enviassem alguma literatura, por fim acabámos por receber a visita do pastor da Igreja assembleia de Deus, o qual nos convidou a assistirmos a um dos cultos em Angra do Heroísmo, na Rua do Cardoso. A partir daqui tornámo-nos todos membros activos dessa mesma Igreja, à excepção do nosso pai.
O nosso percurso dentro desta comunidade, durou cerca de oito anos, onde acabei por exercer cargo de liderança junto com o pastor. Ao fim de quase seis anos, começou a haver algum desconforto entre nós os dois, não por questões doutrinárias, pois o meu entendimento das escrituras ainda não chegava a tanto, nem tão pouco por questões de liderança, mas por má conduta do líder, que aos poucos ia-me decepcionando.
Durante esse período de descontentamento, recebi um convite por escrito de uma organização chamada “Associação de Igrejas de Cristo”, para assistir a uma conferência para o crescimento da Igreja, a realizar-se no Centro Bíblico de Esmoriz, com oradores vindos dos Estados Unidos da América. Nessa altura já havia abandonado a casa do meu pai, infelizmente por má influência daquele que se dizia ser meu pastor. Um dia este senhor teve a ousadia de dizer de forma arrogante, perante toda a congregação que se quisesse enganaria todos os membros com a Bíblia na mão. Quando tal proferiu eu até achei graça, acreditava nele cegamente sem questionar, nunca pensei que fosse capaz de o fazer. Mas a partir do momento em que comecei a perceber que a minha confiança estava a ser traída, prometi a mim mesmo, que um dia havia de conhecer tão bem as escrituras sagradas e manejá-las de tal forma, que jamais alguém ousaria enganar-me.
Como consequência dos meus próprios actos, aquele que antes vivia confortável na casa do seu pai, trabalhando honestamente como camponês, agora não tinha emprego e também não tinha dinheiro. No entanto aquele convite parecia-me a porta de escape, para ver-me livre de toda aquela desilusão. Desabafei com minha mãe, para minha surpresa ela também concordava que a solução era eu ter que sair da Ilha por algum tempo. Prontamente ela e minhas irmãs providenciaram o necessário para a minha viagem.
A passagem de avião foi comprada no valor de ida e volta, mas sem data marcada para o meu regresso. Apesar de saber que tinha tudo garantido por uma semana a cargo da A. I. C., esse tempo era demasiado curto para quem precisava desesperadamente cortar radicalmente com certos laços nocivos. Quis acreditar fortemente que durante este curto espaço de tempo, algo mais haveria de acontecer, porque simplesmente tinha que acontecer.
Minha partida para Lisboa deu-se a 21 de Fevereiro de 1988, no dia seguinte tomei de novo avião rumo ao Porto. Ao tomar um táxi dirigi-me para o C. B. E, onde receberam-me de braços abertos e fui simpaticamente instalado. Nesse mesmo dia a conferência foi iniciada depois do almoço. Aí conheci um senhor do qual me tornei amigo quase inseparável. Durante todo o tempo em que decorreu a conferência em Esmoriz, também todos os dias à noite realizava-se no Auditório de Espinho um evento especial com os mesmos oradores. Foi aí que, a 22 de Fevereiro do mesmo ano, fui apresentado pelo meu amigo a uma bonita e simpática jovem, que estava toda atarefada cuidando dos arranjos florais no Auditório, da seguinte forma: “Eduarda, este jovem é dos Açores, peço-te que tomes conta dele, para que não se sinta deslocado.” E assim foi, até ao dia de hoje.
Também no Auditório de Espinho, fui apresentado pela jovem Eduarda, a uma amiga sua, um pouco mais velha do que minha mãe, a qual perguntou-me por quanto tempo eu pretendia ficar no Continente. Eu não conseguia acreditar no que estava a ouvir, era a minha deixa, a minha única oportunidade, para que fosse possível ficar longe da família por mais algum tempo. Prontamente respondi-lhe que se houvesse alguém que me quisesse adoptar por algum tempo, eu ficaria. No dia seguinte esta senhora, depois de haver falado com o marido, deu-me resposta positiva, e durante cinco meses fui muito bem acolhido como filho, num novo lar, longe daqueles que mais amava e da minha querida Ilha, torrão no meio do Atlântico, com cheiro a terra e de mar, que faz vibrar todo o meu ser.
Em todo esse tempo em que residi no meu novo lar, na freguesia de Paramos, frequentei um curso bíblico em Vila Nova de Gaia. A par disto, dominicalmente, eu e minha noiva colaborávamos junto com outros líderes dando apoio em serviços religiosos em Vila Nova de Cerveira, Paredes de Coura, Régua e Lamego. Concluído o instituto bíblico em Gaia, era já chegada a hora de regressar novamente à Ilha. A 5 de Agosto de 1988 eu e Eduarda casámo-nos pelo Registo Civil de Espinho, e no dia 7 do mesmo mês, já casado com minha jovem esposa Berta, viajámos rumo à Terceira, onde realizámos a cerimónia religiosa a 25 de Setembro do mesmo ano, na Igreja Evangélica assembleia de Deus.
Após quase seis meses de ausência, nada parecia haver mudado. Apenas eu deixara de ser um jovem solteiro, e passara a ser um homem casado. Ainda ligados a esta denominação, nasceram os nosso dois filhos. Por fim, dadas as circunstâncias, tornou-se impossível continuar a fazer parte desta comunidade, a iniquidade estava a tornar-se tal, que não levaria muito tempo e eu seria confundido com  situações que em nada me diziam respeito.
Como já tínhamos desenvolvido alguma amizade com alguns membros da Igreja Evangélica Baptista, muito em especial com o seu pastor, Lúcio Casassanta, o qual representou o papel de pai de minha esposa no dia do nosso casamento, o mesmo senhor algumas vezes nos convidava para que participássemos na sua Igreja com alguns cânticos, pois achava-nos especialmente dotados no campo da música. Guardamos com grata satisfação esses breves momentos. Por esta causa, eu, minha esposa e filhos começámos a frequentar com regularidade esta Igreja, agora já sob a liderança de outro pastor. Pouco tempo depois, minha mãe e irmãs seguiram-nos o exemplo. Nossa assiduidade tornou-se notória, e foi-nos feito o convite para que nos tornássemos membros oficiais, de bom grado aceitámos e assim permanecemos por uns bons quatro anos. Também aqui exerci cargos de liderança, fui professor de escola bíblica dominical para adultos, promovi alguns concursos bíblicos, minha esposa chegou a ser líder daquilo a que chamavam de união feminina, órgão esse que se ocupava de alguns eventos especiais. Durante o nosso percurso nesta nova comunidade, aconteceu algo que para mim foi muito importante: a família voltava novamente a estar toda junta, pois quando abandonei meu pai, pouco tempo depois, minha mãe e irmãs seguiram-me o mau exemplo, e tudo isto em nome de Jesus.
É verdade que às vezes meu pai tornava-se implicativo por causa da religião, mas também lá tinha os seus motivos, o pastor da Igreja assembleia de Deus era muito convencido, gabava-se de que todas as mulheres da sua Igreja apaixonavam-se por ele. Também gabava-se de já haver separado muitas famílias, e ainda haveria de separar muitas mais, “tudo isto em nome de Jesus e por amor a Ele”.
Parece inacreditável, se tudo isto não fizesse parte da minha história, eu diria que alguém estaria a inventar. Mas estou grato a Deus, porque novamente nos reuniu, usando para isso minha jovem esposa e o pastor da nossa nova Igreja. Lamento que por esta causa, minha querida mãe tivesse que sofrer mais algumas situações desagradáveis, pois meu pai era muito ciumento e um pouco ganancioso. Este era o pai que eu tinha, simplesmente eu não o conseguia odiar.
Por fim a 25 de Novembro de 1993, meu pai faleceu com apenas 61 anos de idade, vítima de uma embolia. Muitas vezes quando entro em depressão, quase sempre sinto-me culpado pela sua morte prematura. Fico a pensar que talvez o choque da separação da família, possa ter acelerado todo o processo que o vitimou. Por tudo isto, já pedi perdão ao meu bom Deus, e espero que no último dia, o dia da sua grande glória, Ele não me expulse de sua presença.
Como consequência desta situação fúnebre, começámos a ter um relacionamento mais próximo com um primo meu, para nossa surpresa ficámos a saber que ele era luterano, e o único naquela altura cá na Ilha. Como é óbvio, começámos a dialogar sobre temas religiosos, até que chegámos ao ponto de falarmos sobre assuntos doutrinários, inclusive o baptismo de crianças. Ao ingressar no mundo evangélico, fiquei convicto de que o baptismo de adultos era o único correcto, e que o baptismo infantil, era pura invenção da Igreja Romana. Ao conversar profundamente sobre esta temática com o meu primo, tive que repensar todas as minhas convicções. Tínhamos dois filhos pequenos, o mais velho com 4 anos e o outro com 3 anos de idade. Se ele tinha razão naquilo que afirmava crer, eu estava profundamente em falta para com os nossos filhos. A partir deste momento e durante um ano, não fiz outra coisa que não fosse debruçar-me sobre a questão do baptismo de crianças. Consultei as escrituras e a própria história da Igreja, para encontrar o elo de ligação. Tirada a conclusão propus a toda Igreja o desafio de debatermos todo este assunto de forma séria, para que a situação dos nossos filhos fosse regularizada. Exigi também a presença de líderes responsáveis vindos do Continente, pois queria a todo o custo que alguém me justificasse com que autoridade negavam o baptismo às crianças, e com que autoridade também afirmavam que o baptismo nada tem a ver com a salvação. Posto isto, a esposa do pastor perguntou-nos se os nossos filhos fossem baptizados, se tudo ficaria resolvido. Eu respondi-lhe que não, pois a minha luta já deixara de ser familiar, também tinha em vista todas as crianças a quem lhes era negado este sacramento.
Finalmente em finais de Novembro de 1994, foi convocada uma reunião extraordinária com a presença de um pastor vindo da Ilha do Faial. Foi-me dito ser impossível a vinda de líderes continentais. Aceitei da mesma forma o desafio, já sentia-me cansado de tanta luta, a situação dos nossos filhos, simplesmente tinha que ser resolvida. Ao saber da data do evento, limitei-me a reunir tudo aquilo que tinha aprendido durante um ano de busca exaustiva por pureza e verdade nesta matéria. Chegado o dito dia, havia suspense em todo o meu ser, e muito nervosismo à mistura, tudo em mim estava expectante quanto ao desenrolar dos acontecimentos.
A princípio o pastor queria começar por debater os temas, criando assim um ambiente de discussão. Eu me opus, argumentando que queria unicamente ser ouvido, quanto às minhas questões e que então no final a Igreja avaliasse e desse o seu veredicto. Depois de alguma hesitação, lá me foi permitido que expusesse as minhas ideias. Tomei a palavra, e comecei a expor tudo quanto havia na minha alma, mas não demorou muito e começaram a interromper-me, não só os líderes, mas também os filhos do pastor. Simplesmente não me queriam ouvir, com tal atitude recusavam-me a oportunidade de concluir os meus raciocínios, queriam a todo o custo defender de forma cega os seus princípios doutrinários infundamentados, no que diz respeito às escrituras sagradas. Depois de algum tempo o ambiente tornou-se tal que era-me impossível continuar. À minha frente só conseguia ver pessoas meneando a cabeça, outras sussurravam e ainda outras quase queriam fazer gozo com a situação. Por fim, a muito custo, restou-me apenas oportunidade para dizer a todos os presentes, que a partir daquele momento, eu, minha esposa e filhos, deixaríamos de fazer parte daquela Igreja. Desta feita, tanto minha mãe, como irmãs, não nos seguiram o exemplo.
Sei que parece ousado alguém que se encontra em clara minoria, fazer frente a falsas doutrinas que já têm séculos de existência, mas o facto é que Deus nunca está do lado do maior ou menor número, unicamente nós é que podemos estar do lado Dele ou contra Ele. Eu preferi escolher a melhor parte. Só com Deus poderei ser mais do que vencedor. Só Ele é o único triunfador em causas perdidas. É o único que nos capacita, para derrotarmos gigantes com um simples seixo e uma funda. Este é o poder da sua santa palavra.
Dois ou três dias depois de havermos tomado esta decisão, alguém telefonou à minha esposa, aconselhando-a a ir à Igreja com os nossos filhos, deixando-me desta forma completamente sozinho e desarmado, com uma luta sem causa. Este era o último trunfo do inimigo: dividir para poder reinar. Louvo a Deus por ela, por nunca me ter abandonado, nem à família, sempre confiou na minha liderança espiritual e até me estimulava a que incessantemente buscasse verdade no que dizia respeito ao baptismo dos nossos filhos, para que tudo se resolvesse o mais breve possível.
Apesar de estar demasiado desgastado com esta situação, não podia de forma alguma baixar os braços, os nossos filhos precisavam urgentemente de serem baptizados. Para tornar isto possível adquiri o contacto telefónico do pastor luterano em Portugal, através do meu primo.
Neste entretanto, o pastor baptista tentou por formas indirectas e incorrectas que voltássemos atrás na nossa decisão. Frustrada a sua expectativa resolveu então escrever-nos uma carta pastoral, que nos veio ter a casa via correio, para dar-nos a notícia de que estávamos a ser dirigidos pelo diabo, carta essa, que ainda hoje a tenho guardada como documento e triste recordação. Se realmente fomos orientados pelo diabo, quanto à intenção de baptizarmos os nossos filhos, neste rol também devem ser incluídos todos os católicos, luteranos, ortodoxos, anglicanos, presbiterianos e metodistas, todos eles baptizam crianças, e segundo reza a história, esta bela tradição tem suas raízes na era apostólica, tendo como base todo o apoio implícito das escrituras.
Decididamente resolvi então telefonar para o pastor luterano, Adalberto Hiller, ao qual expliquei toda a nossa situação e intenção de baptizarmos nossos filhos, sem termos que forçosamente tornarmo-nos membros da Igreja Luterana. Ele aceitou o desafio, pois o que realmente era importante no momento, era regularizar a situação espiritual dos nossos filhos.
No primeiro fim-de-semana de Janeiro de 1995, aquele simpático senhor apresentou-se em nossa casa, junto com o meu primo que no-lo apresentou. Nesta altura morávamos com minha avó desde o nosso casamento. Tivemos oportunidade para conversarmos sobre alguns assuntos pendentes, inclusive reafirmei nossa intenção de não nos filiarmos à Igreja Luterana, dado o meu historial. Fora católico durante quase dezanove anos, pentecostal durante oito anos e baptista quatro anos, agora receava não conseguir atingir ao menos dois como luterano. Sentia-me demasiado cansado de religião, para voltar a meter-me noutra. Por fim, ele perguntou-me: “Depois de baptizados os vossos filhos, que tipo de alimento espiritual pretendes dar a eles?” Isso fez-me reflectir seriamente. Jamais poderia andar para trás, isso seria proceder como a porca lavada, que sempre volta à lama, e como o cão que novamente ingere o seu próprio vómito. Reflectido isto, decidimos então, no dia do baptismo dos nossos filhos tornarmo-nos membros oficiais da Igreja Evangélica Luterana Portuguesa. Até este momento já decorreram quase 21 anos.
Agora quero aqui dedicar um espaço muito especial a um mui nobre gesto por parte do reverendo Adalberto Hiller, antes de baptizar os nossos filhos e de nos aceitar como luteranos, pediu-me o contacto do pastor baptista, telefonou-lhe a marcar um encontro entre ambos, para justificar a razão pela qual estava a proceder para connosco de tal forma. Guardo com doce lembrança, tão nobre gesto, tornou-se para mim, uma lição de vida.
Agora finalmente regularizada toda a situação espiritual familiar, era oportuno reorganizar a Igreja, que há alguns anos havia-se desfeito, por má conduta de um antigo líder, que por cá havia passado.
Como o pastor não podia ter cá permanência, nem deslocar-se à Ilha com regular frequência, decidimos eleger o estimado primo como nosso líder espiritual, pois ele já dera provas de que era muito convicto e sabedor dos princípios básicos e fundamentais da doutrina cristã. Também a partir daqui, minha avó juntou-se a nós, não como membro oficial, mas sim como alguém sempre presente. Participava de todas as reuniões, contribuía voluntariamente nas colectas, e quando o pastor nos visitava, comungava junto connosco do corpo e sangue de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Depois de uns bons quase dezoito anos que vivemos junto com a minha avó Florinda, partilhando a mesma casa, em 2006 mudámo-nos para casa própria, sempre sob a liderança do mui estimado primo. Ele não só fazia estudos bíblicos connosco, como também ensinou o catecismo aos nossos filhos, preparando-os desta forma não só para a 1ª comunhão, como também para a confirmação de fé. Neste mesmo ano o meu primo conheceu na base aérea das Lajes, onde era funcionário, uma jovem luterana vinda dos Estados Unidos da América, como terapeuta da fala. Ela também juntou-se ao grupo e abrilhantava-nos as reuniões e cultos tocando o seu violino. O seu pai também é pastor luterano nos Estados Unidos da América. Esta jovem dotada de dinâmica muito própria, começou a interessar-se a sério pela expansão luterana cá na Ilha, e tanto ela como o seu pai, providenciaram tudo para que se  tornasse possível termos cá um pastor residente. Em Abril de 2007, tudo isso tornou-se realidade e a 10 de Junho do mesmo ano, inaugurámos a nossa própria capela, assim como realizou-se a cerimónia da instalação oficial do novo pastor. Até Maio de 2009, foi esta a nossa nova realidade. Para além de membro sempre presente, eu dava também meu contributo nos cultos e reuniões de estudo bíblico, acompanhando os cânticos com o meu violão. Foram para mim uns bons catorze anos de aprendizado, onde nunca ocupei nenhum cargo de liderança.
Com a desinstalação do pastor residente e a impossibilidade financeira de se chamar outro para o substituir, voltámos ao sistema anterior, desta vez sob a minha liderança, eleito de forma legítima pela congregação Bom Pastor. Sob a nova liderança o destino desta comunidade parecia estar condenado ao fracasso, aos poucos ela foi mingando, a jovem americana teve que regressar ao seu país, os nossos filhos foram estudar para Lisboa e o estimado primo também aos poucos foi-se desligando por razões de foro íntimo. Por último restava-me apenas minha esposa, uma outra senhora e a querida avó Florinda, que com os seus mais de noventa anos, fazia questão que a fôssemos buscar para reunir-se connosco. Agravando-se o seu estado de saúde, passámos nós a ir à sua casa, para assim nos reunirmos, realizando desta forma os nossos estudos bíblicos, onde por vezes tínhamos a presença de uma tia irmã de minha mãe, ou a presença dos meus padrinhos de baptismo quando cá estavam vindos dos Estados Unidos da América.
Esta rotina manteve-se até Fevereiro de 2011. Era sexta-feira, dia 4 do mês, quando recebemos a notícia, através do nosso filho Miguel, de que o irmão estava com P. I. G. – Perturbação de Identidade de Género (transexualidade). Aqui o inimigo aproveitou-se bem para nos dar a golpada fatal. Ficámos de rastos, parecia-nos faltar o mundo debaixo dos nossos pés. Deixámos de ter condições de poder continuar a dar assistência espiritual à querida avó. A situação parecia-nos tão sufocante e inédita, que nem a conseguíamos partilhar com ninguém, nem mesmo com familiares, isolámo-nos por completo.
Passado algum tempo, esta mui querida anciã, dá-nos um convite para assistirmos ao seu baptismo na Igreja Evangélica Baptista de Angra do Heroísmo. Parecia que o inimigo não se cansava de golpear-nos, já estávamos tão dormentes de tanta dor, que nem conseguíamos reagir a nada. Não lhe fizemos desfeita, sua idade já era demasiado avançada para que eu me desse ao luxo de a tentar chamar à razão, por isso comparecemos e abraçámo-la. A minha grande mágoa não vem dela, ela nunca foi membro oficial da Igreja Luterana, sempre respeitei a sua posição, no entanto era minha ovelha. A minha intensa dor estava intimamente ligada à escritura que diz: “Fere o Pastor, e espalhar-se-ão as ovelhas.” Zac 13:7. Eu simplesmente não tinha muitas ovelhas para espalhar, arrebataram-me unicamente a ovelhinha gorda que eu tinha. Não só nos fizemos presentes no seu batismo, como também no seu funeral em Setembro de 2014. Em ambas as cerimónias estivemos presentes e nunca houve ninguém que viesse até nós, nem mesmo o líder desta dita Igreja, para que no mínimo nos desse alguma explicação para tudo aquilo que estava a acontecer. Com um simples gesto nobre, muita dor tinha sido evitada, assim como alguma tinta derramada, numa autobiografia que poderia muito bem ser escusada.
Agora todo o meu ser clama por justiça, sinto-me traído por aqueles que dizem-se meus irmãos na fé, golpearam-me pelas costas, aproveitando-se de um momento de debilidade. Subestimaram minha liderança espiritual. Consideraram que durante todo o tempo em que minha avó esteve sob o meu cuidado, nunca esteve realmente salva e que somente através deles, teve acesso ao verdadeiro plano de salvação. Há 21 anos atrás, deixaram-nos partir, negando aos nossos filhos a entrada no reino dos céus, através das águas do baptismo, agora arrebatam uma ovelha minha de forma pouco ortodoxa. Chegou a hora de clamar ao mundo inteiro e dizer: “Basta!”.
Nas escrituras encontro este conforto: “mas volverei a minha mão para os pequenos.” Zac 13:7; e, “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos.” MT 5:6.
Nesta minha autobiografia, quero salvaguardar um único líder evangélico. Na altura em que se deu a cisão entre nós e a Igreja Baptista, houve um jovem estudante de teologia, que ao vir à Ilha de férias no Natal de 1994, tomando conhecimento de tudo o que se estava a passar, teve a delicadeza de vir a nossa casa falar connosco, demonstrando desta forma uma preocupação espiritual genuína e até paternal, embora seja um pouco mais novo do que eu.
Debatemos durante algum tempo os assuntos em questão, não chegando a algum entendimento possível, mas valeu a intenção e a sincera preocupação. Neste momento é o único líder evangélico, que perante mim tem moral e está autorizado a abordar-me sobre qualquer tema teológico ou doutrinário. Quando nos despedimos, proferiu estas palavras: “tu não brincas quando estás em serviço”.
Quando saímos da Igreja Pentecostal assembleia de Deus, o pastor procedeu como mercenário, de quem não são as ovelhas, simplesmente não nos procurou para inteirar-se de qual seria realmente a razão do nosso descontentamento, e o pastor baptista limitou-se a enviar-nos uma carta pastoral via correio, considerando-nos satânicos.
Alguns anos mais tarde, estando a Igreja Baptista já sob nova liderança pastoral, surgiu uma situação da qual não vou relatar os pormenores, mas o facto é que todos ficaram com a ideia de que nós queríamos regressar novamente à Igreja, mas o que eu realmente pretendia, era que pudéssemos agora, uma vez que os ânimos estavam mais calmos, voltar a pôr em cima da mesa os mesmo assuntos, que outrora ficaram pendentes. Afim de certificar-se qual era realmente a minha intenção, o novo pastor deslocou-se certo dia ao meu local de trabalho para falar comigo. Eu expus-lhe claramente qual o meu intuito, e ele tornou-me por resposta, de que iria falar com os diáconos da Igreja para ver o que se podia fazer. Ainda hoje estou curioso por saber qual foi o parecer da diaconia. Já se passaram mais alguns anos, esse senhor já está a pastorear uma outra Igreja no Continente. Fico deveras a pensar a quem servem realmente estes senhores.
Na actualidade, os evangélicos têm-se agigantado um pouco por todo o mundo, devendo-se esse facto à liberdade de expressão e às novas tecnologias. Não sei o suficiente da história para saber com precisão qual a origem destes que muito gostam de viver à sombra de Martinho Lutero. Até fazem questão de relembrar o dia 31 de Outubro, como marco histórico da reforma protestante, no entanto desprezam o mais importante dos seus ensinos.
Acham-se os salvadores do mundo, o facto de chamarem-se evangélicos, isso parece ser sinónimo de verdade absoluta, ninguém pode questionar os seus ensinos, sem que fique sob pena de represálias. Eles desvirtuaram por completo no seu meio, os verdadeiros sustentáculos da fé. Um cristianismo onde não se reconhece o baptismo como meio de graça para perdão dos pecados, Actos 2:38, e a ceia do Senhor como forma de termos real comunhão com o corpo e sangue do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, através do pão e vinho; pode muito bem ser religião, como também poderá ser política ou até mesmo uma filosofia humanista muito credível, mas vida eterna é algo que jamais poderá oferecer, com toda a certeza.
Achei ridícula a pretensão da mega operação evangelística: “Minha Esperança Portugal”. Tinham como alvo converter os portugueses a Cristo, como se o nosso país já não fosse cristianizado. O nosso povo não necessita de que se lhe fale de Cristo, mas sim daquilo que Ele ensinou. É neste aspecto que a Igreja Católica falha redondamente, assim como os evangélicos, pois nem uns, nem outros, ensinam coisa alguma. No mínimo o catolicismo ainda dá um bom começo aos seus fiéis submetendo-os ao santo baptismo desde a infância.
Se os evangélicos estão realmente preocupados com a situação espiritual do povo português, é bom que comecem por eles próprios e seus filhos. A A. P. E. C. – “Aliança Pró-evangelização de Crianças”, está vocacionada para evangeliza-las, façam bom uso dela para com os seus próprios filhos, pois são eles que não têm salvação, porque ainda não foram submetidos ao baptismo para remissão dos pecados. Por causa disto levam muita desvantagem em relação às crianças católicas, que no mínimo já receberam o selo do Espírito Santo.
Para ser-se um bom cristão, não é absolutamente necessário mudar de religião, basta darmos ouvidos somente a Cristo através de sua santa palavra. Minha querida avó Florinda era um bom exemplo disso, enquanto esteve sob o meu cuidado, nunca precisou de mudar de religião. Ela conhecia o Cristo e obedecia-lhe, para mim era o quanto bastava. Na sua infância recebera o santo baptismo para remissão dos pecados, connosco comungava do verdadeiro corpo e sangue de nosso Senhor Jesus Cristo. Tive o privilégio de ao longo de anos vê-la crescer espiritualmente. Aos poucos foi-se libertando de imagens de culto, deixou de orar a anjos e a santos, todos os dias orava ao seu Senhor pelos seus mais chegados e ausentes, era uma autêntica anciã. Por fim acabou morrendo um pouco mais pobre, a idade também não perdoa, e o seu entendimento espiritual retrocedeu, talvez por culpa minha, por não estar apto para lidar com as astutas investidas do inimigo.
Um outro bom exemplo é o jovem Evandro Bettencourt. Já fez dois anos em Agosto que começou a trabalhar para nós. Logo no primeiro dia, fiz questão de sentar-me com ele e abri-me de tal forma, para que não houvesse dúvidas, quanto aquilo que sou e creio. Depois de alguns momentos de conversa, ele confessou que nunca ninguém lhe havia falado de religião como eu. Passado algum tempo disse-me: “desde que estou convosco, já aprendi muito mais, do que durante todo o tempo em que estive num colégio de freiras”.
Em Abril do ano passado quando decidimos criar o nosso blog, tudo ficou ao seu encargo, inclusive o título do mesmo: “Deus nas escrituras”. Como auxílio para tudo isto, ele também socorreu-se a um irmão seu, ao qual também estou muito grato.
Que mais posso eu exigir de uma pessoa assim? Também já foi baptizado na sua infância, assim como sua esposa e filho, escusam de fazê-lo novamente. Colabora comigo dedicadamente na elaboração dos meus textos junto com sua esposa, através dos quais também recebem alguma instrução. O único pormenor que me preocupa, é o facto de nunca terem comungado do verdadeiro corpo e sangue de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois infelizmente na Igreja Católica, só se oferece o corpo de Cristo aos leigos, o sangue de Cristo, esse é só para os sacerdotes.
Quando assim se procede, aquilo que é realmente sério, passou a ser brincadeira de mau gosto. Mas se porventura, alguma vez mostrarem o desejo de comungar connosco, nunca lhes será exigido, que se tornem luteranos, isso seria pura chantagem, ao mais baixo nível.
Neste momento creio já ter chegado àquele nível em que ninguém deverá ter a ousadia de tentar enganar-me com a Bíblia na mão. Tornei-me perito no seu manuseamento, o Senhor não me deu tréguas enquanto não fez de mim guerreiro de alta competição, embora já tardio, Efésios 6:10-20. Não tenho a certeza de que esteja preparado para ensinar quem quer que seja, no mínimo vou cuidar dos meus até ao fim, e enquanto o Senhor da glória não me chamar, certamente que não me irei calar.
Dedico toda esta autobiografia, primeiramente aos meus dois filhos, por lhes ter sido rejeitado o baptismo na sua infância e também a todas as crianças às quais lhes é negado o mesmo. Minha luta por elas ainda não terminou. Ao longo destes 21 anos, nunca deixei de debruçar-me sobre a sua situação. Sempre de novo ouço Jesus dizer: “Deixai vir os meninos a mim, e não os impeçais; porque dos tais é o reino de Deus”. Mc 10:14. O Senhor nunca pretendeu dizer que o facto de se ser criança era um mérito para que elas de imediato tivessem acesso directo ao reino. Claro está em suas palavras, que elas primeiro têm que passar por Ele, foi o mesmo Jesus que disse: “Ninguém vem ao Pai senão por mim”. João 14:6.

 E isto só pode acontecer mediante o baptismo, onde o Senhor Jesus, o Pai e o Espírito Santo se fazem representar pelo ministro. Jamais o ritual evangélico de se entregar as crianças a Jesus, poderá substituir o meio da graça que Ele instituiu, pois trata-se de pura tradição religiosa, desprovida de qualquer tipo de promessa divina. As crianças não só fazem parte do alvo da grande comissão dada por Jesus aos seus discípulos, relatada em Mt 28:19, como também constam na escritura que diz: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus… como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim, também, a morte passou a todos os homens, até sobre aqueles que não pecaram à semelhança de Adão… por isso todos pecaram… o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor”. Rom 3:23; 5:12, 14; 6:23.
Se a maldição recai sobre as crianças, mesmo sem que elas tenham consciência do pecado, porque não ministrar-lhes o dom gratuito, antes de atingirem a idade da razão?
Tenho plena consciência, e isto por experiência própria, que falar disto para um evangélico, é pura perca de tempo, nem vale a pena discutir. Mas qualquer cristão espiritual, entende a minha linguagem, por mais humilde que seja.
Finalmente dedico esta autobiografia à minha querida esposa por nunca ter-me desamparado em todas as provas, à memória da minha querida avó Florinda, que espero um dia lá na glória abraçar e à minha querida mãezinha, pois a ela devo muito daquilo que eu sou. Foi ela a primeira a ensinar-me que deveria amar a  Deus acima de todas as coisas.

Dou por concluído todo este meu trabalho, usando a seguinte escritura: “Agora, pois, temei ao Senhor, e servi-o com sinceridade e com verdade:… Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais:… porém, eu e a minha casa serviremos ao Senhor”. Josué 24:14, 15.


terça-feira, 27 de outubro de 2015

Lutero minha herança

Lutero, o sacerdote e monge
Lutero, o padre reformador
Tornou-se para nós, de longe
Um exemplo de grande fervor

Lutero em Deus achou graça
Lutero abraçou a escritura
Por ele o inimigo não passa
Sua fé em Deus é segura

Lutero da fé testemunho deu
Lutero pela fé fez história
Pela fé o inimigo venceu
A Jesus toda a glória

Lutero foi perseguido
Lutero quiseram queimar
Por muitos hoje é seguido
Outros já o querem canonizar

Martinho Lutero, Martinho Lutero
À tua memória faço invocação
Seguir-te o exemplo é o que eu mais quero
Tu és meu verdadeiro irmão

Lutero, se entre nós vivesse
Lutero, se para nós pregasse
Talvez muito cristão se escondesse
E um outro tanto se calasse                                                                                                             
Lutero, Sola Gratia
Lutero, Sola Fide
Lutero, Sola Scriptura
Lutero, a herança que eu tive.


terça-feira, 15 de setembro de 2015

Situações que simplesmente acontecem

E, passando Jesus, viu um homem, cego de nascença. E os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: “Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?”
Jesus respondeu: “Nem ele pecou, nem os seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus.” João 9:1-3.
Há situações, que aparentemente simplesmente acontecem, não conseguimos descortinar qual o propósito das mesmas, parecem-nos tão aberrantes, que à semelhança daqueles discípulos de Jesus, apetece-nos atribuí-las a algo muito mau que alguém tenha praticado.
Segundo o conceito da época de Jesus, o facto de algumas pessoas nascerem com determinado problema físico, isso era atribuído a algum tipo de pecado específico, pelo próprio ou dos seus progenitores. O grande mestre teve imediatamente a preocupação de desfazer este equívoco.
Actualmente, o facto de se nascer cego, surdo, mudo, mongoloide, etc., já ninguém atribui isto a qualquer tipo de pecado específico, quer seja do próprio ou dos seus pais. Encara-se com toda a naturalidade tais factos e até criam-se escolas de ensino especial, para que tais pessoas, no futuro possam-se integrar na sociedade e conviverem com os demais, com toda a dignidade possível. No entanto, existem outros fenómenos, que nos transcendem, por muito bons cristãos que sejamos. Não creio que Deus, propositadamente permita ou crie certas situações, para promover a sua glória, mas estou certo que Ele em sua misericórdia, as toma em suas mãos e as transforma em algo de glorioso.
Identifico-me quase na perfeição com os personagens da escritura inicialmente citada. Tenho dois filhos, e o primogénito é portador de um problema genético, o qual, quase transcende a capacidade de aceitar pacificamente de todos aqueles que mais de perto o rodeiam. Falo de mim próprio e de minha esposa, que até como pais, nos sentimos apanhados de surpresa. Nunca ninguém está totalmente preparado para o que der e vier. A vida sempre nos prega partidas, mas é a misericórdia de Deus que ajuda-nos a superá-las. É quando as situações nos acontecem, que percebemos o quanto limitados somos. Quando as mesmas só acontecem na casa dos outros, sabemos tudo, especialmente, julgar, criticar, excluir, marginalizar. Até damo-nos ao luxo de opinar e de aconselhar, baseados em nossos conceitos, preconceitos ou naquilo que supomos conhecer das escrituras extraindo das mesmas alguns textos, que isoladamente podem muito bem servir como pedras para arremessarmos aqueles que já estão moribundos, esquecendo-nos que Jesus é aquele que nunca esmaga a cana quebrada nem apaga o pavio que fumega.
Deveríamos aprender com Jesus a fazer legítimo uso das escrituras. Ele era o Filho de Deus, conhecia como ninguém toda a lei, conhecia o coração de Deus e o mais profundo estado lastimável da alma humana, por isso podia dizer: “Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” João 3:17.
Existe um grave problema no meio cristão, em alguns casos parece não saber-se o que realmente é pecado, noutros faz-se vista grossa e em muitos outros parece que alguns cristãos gostam de inventá-los. A ignorância é um tremendo obstáculo para o crescimento espiritual de uma igreja e afecta profundamente o seu desempenho no meio da sociedade. Se não conhecermos bem as escrituras, também não podemos conhecer Deus. Quando assim falo, não estou a referir-me a um conhecimento intelectual das mesmas, nem tão pouco ao simples facto de conhecer-se versículos de cor e respectivas referências bíblicas, o diabo fez uso desse método para tentar Jesus.
A igreja é a esposa de Cristo, ninguém melhor do que ela para fazer uma correcta aplicação da santa palavra, é responsável por saber aquilo que é ou não pecado, para que o mal não se propague no seu meio.
Durante vinte anos, eu e minha esposa, vivemos convictos de que éramos pais de um casal de filhos. Um dia, aquele que supúnhamos ser a nossa querida filha, veio-se a descobrir que afinal não era uma mulher, mas sim um homem habitando o corpo errado. Parece estranho? É verdade! Choca-nos? Sem dúvida alguma! Existe explicação possível? Simplesmente ultrapassa-me!
Segundo o relatório clínico do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, temos o seguinte diagnóstico em relação à nossa filha: “Perturbação de Identidade de Género (Transexualidade), não sofre de anomalia psíquica e tem sido regularmente seguida em Consulta por Equipe Multidisciplinar de Sexologia Clínica.”
É bem possível que à semelhança dos discípulos de Jesus, alguém olhe para nós, questione-se e diga para si próprio: “certamente pecaram gravemente, para que tal  lhes tenha sucedido.”
Sei que como pai, sou suspeito, mas também não quero que esse facto, seja um entrave e me prive de escrever tudo aquilo que é de justiça. Tentarei ser o mais imparcial possível, não é meu propósito tentar justificar os pecados de quem quer que seja e muito menos os dos meus próprios filhos. Com tal atitude poderia muito bem enganar o mundo, mas nunca a Deus. A Bíblia quando fala de pecado, não faz aceção de pessoas, todos pecam de igual modo, ao cometerem os mesmos erros. Também o pecado não muda de cor de acordo com os tempos, aquilo que era considerado pecado por Jesus no seu tempo, continua a sê-lo ainda hoje.
Como pai, sou o mais interessado em que nossos filhos tenham uma vida espiritualmente saudável, ao ser o chefe de família, Deus também incube-me do ofício sacerdotal e profético no meu próprio lar, não só sou responsável por prover o sustento de toda a família, como também de a orientar nos sagrados ensinamentos que nos conduzem à vida eterna. Não quero nem sonhar com a possibilidade, de que no futuro além, ao estar junto do Senhor da glória, que todos os meus possam estar num lugar bem diverso. Tenho plena consciência da responsabilidade que me cabe. No campo material nem sempre pude dar aos nossos filhos, tudo quanto necessitavam ou gostariam de possuir, mas no que diz respeito às coisas espirituais, sempre esforcei-me até à exaustão. Como consequência de tal atitude hoje o nosso outro filho é estudante de teologia em um seminário teológico, assim como aspirante a futuro ministro eclesiástico.
Aquilo sobre o qual quero-me debruçar, não tem tanto a ver com a realidade daquilo que nos aconteceu, mas sim com aquilo que ainda está acontecendo e por acontecer.
Os cegos têm direito a ver, os surdos a ouvir, os coxos a andar, mas aqueles que nascem com disforia de identidade, assim como o nosso filho, outrora filha, têm que resignar-se, é o que alguns opinam.
A Perturbação de Identidade de Género, consiste em que um indivíduo pode nascer visivelmente com corpo feminino, no entanto possuir um cérebro 100% masculino, ou nascer com um corpo masculino e um cérebro 100% feminino. As reacções de incompatibilidade entre ambos, corpo e cérebro, são abruptas. Já muitos suicidaram-se, outros amputaram seus órgãos genitais e ainda outros mutilavam-se, querendo de alguma forma libertarem-se de um corpo estranho. Dou graças a Deus porque o nosso filho conseguiu resistir à tentação do suicídio.
Neste momento já vão decorridos dois anos de tratamentos com hormonas, à medida que o tempo passa o seu aspecto vai-se masculinizando, também já libertou-se do pesadelo de possuir seios de mulher. Apesar de ainda haver muito por fazer, o seu aspecto é o de um homem, possui barba e pelos nas pernas como o seu pai.
É aqui neste ponto que muitos tropeçam em seus julgamentos, especialmente os religiosos praticantes e ministros eclesiásticos. Zelo cego, conhecimento generalizado das escrituras, sem ter-se em conta o contexto das mesmas, acaba-se por fazer uma aplicação incorrecta do livro sagrado. Segundo eles é grave pecado, alguém transformar o seu corpo, por tratar-se de um atentado contra o mesmo, que é o templo do Espírito Santo.
Quanto a este particular terei oportunidade de escrever no futuro, o que importa aqui, é saber o que realmente é pecado.
Segundo as escrituras, podemos seguramente considerar, três tipos de pecados: “contra Deus, contra o próximo, e por fim contra nós próprios.” Temos esta tese mais ou menos definida na parábola do filho pródigo, que diz o seguinte: “Pai pequei contra o céu e perante ti.” Lc 15:21. E em I cor 6:18; “Fugi da prostituição. Todo o pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo.” Quero salientar que em primeira análise, todo o pecado é primariamente cometido contra Deus e sua Santa Palavra, pois é somente Ele que através dela estabelece todas as regras.
Alguns cristãos devotos, gostam de jogar pelo seguro, e então opõem-se à transformação física dos casos atrás referidos pelo simples facto de haver dúvidas quanto à natureza de tais procedimentos. Neste particular S. Tiago em sua epístola nos aconselha: “todo aquele que tem falta de sabedoria peça-a a Deus, que a todos a dá liberalmente e não lança em rosto.” Tg 1:5.
Desde a minha juventude que ouço dizer: “a palavra de Deus é sempre actual.” Tenho consciência disso e creio piamente nisso. Mas o facto é que ao surgir situações como as já mencionadas, muitos vacilam, justificando que Jesus no seu tempo nunca se deparou com nenhuma situação semelhante que nos possa servir de referência. Isto é verdade, mas também é verdade que o Senhor fez discursos que podem muito bem ser aplicados nos nossos dias, se tão somente considerarmos a seriedade de suas palavras. Disse ele: “Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o, e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno. E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca, do que seja o teu corpo lançado no inferno.” Mt 5:29, 30.
Creio que é de comum acordo, que o simples facto de se nascer sem alguns dos membros, ou que por acidente percamos alguns deles, isso não é impedimento para que possamos fazer parte do reino de Deus, nem que por essa causa o Espírito Santo tenha dificuldade em habitar em nós. Apesar de o contexto da escritura atrás mencionada, ter a ver com uma situação de adultério, é de todo apropriado e legítimo fazer-se uma transposição, quanto à sua aplicação, porque o que acontece com os casos de P. I. G. clinicamente diagnosticados em nada transgride os princípios nela inseridos.
Creio ser oportuno desfazer-se a ideia de que os indivíduos portadores de tal patologia, tenham a pretensão de alterar todo o seu corpo. Isso não só é falso, como é simplesmente impossível. O máximo que se consegue são apenas algumas modificações no seu aspecto externo, tudo o mais permanece inalterável, assim como o ADN, impressões digitais, etc., etc.
O fenómeno de pequenas alterações em nosso corpo e seus derivados, no nosso tempo, já nem se estranha. Por que razão nos escandalizamos tanto com uma simples mudança de sexo? Afinal de contas os órgãos genitais nem conseguem definir nossa identidade masculina ou feminina com precisão, pois é o cérebro quem comanda as operações e define aquilo que realmente somos. Hoje fazem-se operações plásticas, vasectomias, transplantes de órgãos, aplicam-se próteses, laqueiam-se trompas, usam-se preservativos, tomam-se pílulas, etc. Fazem-se um sem número de coisas e isto até mesmo por bons cristãos e não se estranha. É a ciência que se multiplicou e está ao serviço do ser humano para maior comodidade. Será tudo isto pecado, uma vez que se altera de alguma forma o curso natural da natureza humana? A escritura afirma-nos, que onde não há lei, também não há transgressão. No entanto a mesma escritura é bem clara, que não podemos fazer tudo o que bem queremos com o nosso corpo. “Pois ele é o templo do Espírito Santo, que habita em nós, proveniente de Deus. Não somos de nós próprios, pois fomos comprados por bom preço. É nossa obrigação glorificarmos a Deus, em nosso corpo e espírito, os quais pertencem a Deus.” I cor 6: 19, 20.
Mas para que tal aconteça é necessário que nos sintamos bem com nós mesmos. Não é normal um cego não querer ver, nem um surdo acomodar-se à surdez, ou um coxo resignar-se à sua situação. Todos eles almejam viver na plenitude das suas funções. Da mesma forma se comportam os que sofrem de Perturbação de Identidade de Género, P. I. G.
Os que sofrem de P. I. G., até que nem são pessoas muito exigentes. Simplesmente não exigem nada de ninguém. Não precisam de doação de órgãos, unicamente querem ter livre acesso aos técnicos de saúde para que dessa forma possam afinar a sua verdadeira identidade, usando como matéria-prima o seu próprio corpo. É evidente que não podemos cometer atentados contra o nosso corpo, devemos sim cuidá-lo e não maltratá-lo, mas temos o direito de nos sentirmos bem com o mesmo. Por essa causa, em seu ministério, Jesus deu vista aos cegos, fez andar os paralíticos, limpou leprosos, abriu a boca aos mudos, etc., e até afirmou o seguinte: “O que contamina o Homem não é o que entra pela boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o Homem.” Mt 15:11. Isto só para dizer que nos devemos ocupar com aquilo que realmente é preocupante.
No nosso mundo livre, onde há plena liberdade religiosa, prolifera com abundância a heresia, a idolatria e os dogmas forjados, assistimos a tudo isso passivamente sem nos escandalizarmos. Estas coisas na verdade não só contaminam os que as promovem, como também todos os que as praticam. Isto sim é preocupante. Mas é mais cómodo distrairmo-nos com coisas insignificantes tais como: “não comas, não bebas, não vistas, não fumas, não transformes, etc., etc., etc.
Por vezes gostamos muito de ser árbitros de futilidades, para darmos a imagem de que somos sérios e rigorosos, quando apenas coamos mosquitos e engolimos enormes camelos doutrinários. Isto sim, digo-o novamente, é deveras preocupante. Creio que quando a igreja ocupar-se daquilo que é realmente importante e primar por pureza doutrinária e uma teologia não só académica, mas que nos leve a um conhecimento mais perfeito de Deus, aí sim, creio que tudo o mais se resolverá, como uma consequência natural de quem realmente teme a Deus.
O Senhor Jesus sempre primou por ser selectivo, preciso, e objectivo em seus ensinamentos. Ser-se vago e generalista, nunca ensinou nem ajudou ninguém, antes pelo contrário, gera confusão, insegurança e incerteza. Aquilo que agora escrevo sobre a patologia P. I. G., não o faço por necessidade pessoal ou familiar, mas é o resultado de tudo aquilo que pude aprender com uma situação por demais desagradável, que infelizmente está a tornar-se muito comum em nosso tempo. É necessário que alguém com um mínimo de lucidez se manifeste sobre o assunto e assim possa contribuir para que outros nas mesmas circunstâncias que nós, possam encontrar um pouco de compreensão, alento e ajuda.
Dou graças ao Criador de todas as coisas, que durante toda esta situação, nunca nos desamparou e já lá vão quatro anos e meio desde que tudo começou. Na verdade, nós não conseguimos enxergar desde o início tudo com a mesma clareza, isto que agora escrevo é apenas o resultado de um longo tempo de muito sofrimento, clamor e lágrimas, angústias, incertezas e sentimento de abandono do próprio Criador. Tudo surgiu como se fosse um tsunami, ao mesmo tempo que parecia faltar-nos o mundo debaixo dos nossos pés. A situação parecia única, nunca ouvíramos falar de tal coisa, de início chegou-se a pensar que nossa filha era lésbica. Para a comunidade cristã na qual estamos inseridos, também tudo apareceu como novidade, nunca tal tinha acontecido no seu meio, no entanto nunca houve alarmismos, tudo foi sendo ponderado segundo a orientação do Espírito Santo e buscando na santa palavra de Deus as melhores directrizes.
Nunca nos sentimos descriminados, antes pelo contrário, incluídos e amados. O nosso filho, outrora filha, participa com toda a  naturalidade na comunhão do corpo e sangue de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, assim como também é regularmente solicitado para participar em eventos especiais, tocando sua guitarra e cantando algumas composições de sua autoria. Tudo aquilo que parecia ser o fim do mundo, agora está a ter um novo sabor. Nossa fé foi fortalecida e uma nova lição foi aprendida. O que dizer daquelas pessoas que por capricho, vaidade ou simples curiosidade se submetem à prática da mudança de sexo? Quem não teme a Deus, também não tem que sujeitar-se às suas leis, certamente que Deus as julgará no último dia com rigor e justiça.
Quanto a nós, nossa consciência está tranquila, todo o processo do nosso filho está a ser acompanhado por técnicos de saúde qualificados e responsáveis, que ao mesmo tempo estão a lutar para que no futuro, todos os casos clinicamente diagnosticados, possam ser comparticipados pelo estado. É muito caro tratar estas situações, ainda não sabemos como vamos conseguir todo o dinheiro necessário para ajudar o nosso filho a concluir todo o seu processo de transformação, simplesmente confiamos na misericórdia de Deus.
Gostaria agora que recuássemos à escritura que deu início a este texto, pois dela podemos ainda tirar outras conclusões, que nos podem ajudar a termos um conceito de Deus muito mais enriquecido. Segundo a perspectiva dos discípulos, aquele homem cego, estava a ser alvo por tabela, da ira de Deus, segundo o conceito de Jesus, a mesma pessoa era agraciada por Deus para que através dela se manifestassem as suas obras.
Alguns dias atrás, ao conversar com o nosso filho, sobre a sua situação, fiquei muito triste por ele considerar-se um castigado por Deus, pelo simples facto de não ter nascido já um homem completo. Mas é natural que assim se sinta, também o cego que Jesus curou, não sentia-se propriamente a pessoa mais feliz do mundo. Nas situações adversas só Deus consegue enxergar os prós, nós apenas só nos lamentamos com os contras. Ser-se instrumento de Deus, nem sempre é motivo de regozijo, quase nos custa os olhos da cara, a Jesus custou-lhe a própria vida.
Caro leitor, também não estranhe nestas dóceis criaturas, reacções ou atitudes que de início por vezes nos pareçam ridículas ou exibicionistas, pois estão a aprender a conviver com a sua nova realidade de forma já tardia. Devemos também ter todo o cuidado para que não façamos destas tristes situações, motivo de brincadeiras de mau gosto em páginas de facebook. Tudo isto está muito longe de ser diversão, elas passam pelas tormentas do inferno numa sociedade comodista, consumista e desamorosa, em que cada um apenas olha para o seu umbigo untado.
Tenho conhecimento de que algumas pessoas com o mesmo problema de nosso filho, optaram pela não transformação, admiro-as e não as censuro, a escolha é pessoal, cada um deve ser coerente com o dom que Deus lhe dá. No entanto não devemos pensar que os tais são mais espirituais ou tementes a Deus, assim como os que se submetem à transformação, também não são mais corajosos, porque aparentemente parecem desafiar o mundo, a família e a igreja. Em ambos os casos é necessário, coragem, fé, e muito temor a Deus, para que possam viver uma vida casta e assim, glorifiquem o Criador em seus próprios corpos não os entregando à prostituição. Ninguém deve gloriar-se a não ser na cruz de Cristo. Tudo o que aqui está a ser tratado é uma questão de saúde e não um capricho, vaidade ou simples curiosidade.
Depois de tudo isto que acabo de escrever, se ainda há alguém que possa ficar séptico, gostaria de adiantar mais o seguinte: “Se aqueles que promovem a idolatria, estimulando multidões a dirigirem-se a grandes santuários para adorarem deuses falsos, que são semelhança de homens, mas que não veem, não falam, não ouvem, não conseguem andar se não forem carregados
às costas e os que se levantam contra a sacramentalidade do baptismo e ceia do Senhor, se os tais acham-se por dignos de entrar no reino dos céus, digo-o com alguma ironia: qualquer transexual temente a Deus chega lá primeiro do que eles, mesmo a pé-coxinho. Foi Jesus quem o disse: “que muitos dos últimos seriam os primeiros.”
Certo dia, alguém tentou persuadir nosso filho a que desistisse dos tratamentos hormonais, porque os mesmos podem ser altamente prejudiciais à saúde, pois podem atacar o fígado. Nosso filho simplesmente nos disse o seguinte: “Se algum dia um médico me disser que terei de parar o tratamento hormonal por algum motivo de saúde, para que a minha esperança de vida melhore, eu recuso-me a fazê-lo. Farei tudo o que poder para ser saudável, mas parar o tratamento, não. Não voltarei atrás. Porque eu recuso-me a morrer como sendo outra coisa além de homem. Morrerei sendo homem, mesmo que sê-lo me mate!.” A mim como pai doeu-me muito ouvi-lo proferir estas palavras, não pelo facto de elas parecerem-me suicidas, mas por perceber a luta interior e intensa que ele trava a cada dia, por preservar a sua verdadeira identidade, mesmo que para isso tenha que pagar um preço muito alto.
É bem possível que muitos em nosso lugar já tivessem consultado médiuns, bruxos, cartomantes, astrólogos, milagreiros, frequentado centros de ajuda espiritial, feito promessas a anjos e a santos. Mas preferimos confiar no Senhor que disse: “Não necessitam de médico os sãos, mas sim os doentes.” É ingratidão para com o Criador subestimar a medicina, como se ela não fosse seu instrumento para executar as suas obras. S. Paulo, o grande apóstolo dos gentios, que operou milagres e curas, em grande parte do seu ministério fez-se acompanhar por Lucas, a quem ele chamou de o médico amado. Cl 4:14. É compreensível que na hora da aflição, sejamos tenntados a buscar ajuda na porta errada, o diabo nessas ocasiões sempre se disponibiliza para nos ajudar a resolver tudo da forma mais fácil. É frequente ver-se seus colaboradores nas esquinas de nossa cidade distribuindo cartões publicitando suas virtudes mediúnicas. Que Deus nos guarde e nos dê sempre discernimento, e que possamos sempre confessar: “Elevo os meus olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra.” Salmo 121:1, 2.
Dedico este texto primeiramente ao meu querido filho: David Barcelos, outrora, Sílvia Barcelos, ao meu querido filho: Miguel Barcelos e sua namorada Carolina Martins, à minha querida e sempre fiel esposa Berta Barcelos, à minha querida mãe, à comunidade I. E. L. P. – Igreja Evangélica Luterana Portuguesa, pelo amor cristão que sempre nos dedicou, ao Eng.º Evandro Bettencourt e família, que para além de ser nosso funcionário, tem sido colaborador dedicado na elaboração dos meus textos, para que seja possível sua publicação com o mínimo de qualidade. Também quero dedicá-lo às pessoas amigas e familiares que nunca nos viraram o rosto. À Dr.ª Catarina, Dr.ª Margarida, Dr. Décio e seus colaboradores, que dedicadamente têm acompanhado o evoluir de todo o processo do nosso filho.

Por fim dedico todo este meu trabalho, a todos aqueles que sofrem de P. I. G. – Perturbação de Identidade de Género.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Cuidando da doutrina

A temática doutrinária, é de suma importância. E ao reflectir sobre o assunto visualizava em minha mente inúmeros versículos bíblicos com ele relacionados. Longe de pensar, que o salmo do Pastor, tivesse algo a ver com os princípios básicos da santa doutrina, ele apareceu entre os meus pensamentos, impondo-se, querendo ocupar o seu lugar nesta matéria.
O Salmo 23, ganhou com toda a justiça popularidade no meio cristão. É um salmo confortador, símbolo do cuidado e protecção de Deus, para com aqueles que são seus. Longe de ser um compêndio doutrinário, ele fala-nos poeticamente de verdades essenciais, que ao descurá-las, o crente em Deus, põe em risco a sua alma.
Devo dizer, que em primeira análise, doutrina é tudo o que é objecto de ensino e disciplina. Não pode nem deve ser falsificada. Não deve ser aplicada segundo o critério e vontade humana. Não é facultativa, é tema obrigatório, jamais deve ser omitida, é como negar pão ao faminto, pura crueldade.
Ao conversar com alguns cristãos, tenho observado que muitos nem sabem o que é doutrina, outros confundem-na com algo que eu nem sei como definir, e ainda outros dizem-me o seguinte: o importante é crer em Jesus Cristo, doutrina, cada um prega na sua igreja o que achar melhor. Não sei o que deva chamar a isto: se ousadia ou pura ignorância.
Como se pode alimentar o rebanho do Senhor e protege-lo das ciladas do diabo, se não fizermos uso da pura e santa doutrina, que para nós é como pasto verdejante e manancial de águas tranquilas? É ela quem nos guia pelas veredas da justiça, cujo fim é a vida eterna.
Ao descurá-la, muitos andam pastando em baldios, ingerindo pasto nocivo, e vivendo à mercê do inimigo.
Doutrina é algo sério, mas não complicado, costumo dizer que ela é quadrada, não que seja ultrapassada ou antiquada, mas simplesmente que a mesma é inalterável, não pode ser moldada aos nossos tempos, nem segundo as conveniências dos homens. Ela é por natureza: concisa, específica, objectiva e explícita. Não posso, nem tenho autoridade, para ensinar seja o que for como eu quero, doutrina simplesmente não é elástica. Um pequeno desvio e logo ponho em risco não só a minha alma como a daqueles que me ouvem.
Jesus disse algo em relação aos fariseus, que nos deveria fazer pensar: “São condutores cegos: ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova.” Mt 15:14. Claro está, que Jesus não se referia à cegueira física, nem a um buraco no meio do caminho. Referia-se obviamente a falsos ensinos que inevitavelmente conduzem à perdição eterna. Disse mais: “mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens.” Mt 15:9.
O apóstolo S. Paulo tinha uma preocupação, toda ela especial com a doutrina do seu Senhor, escreve ele o seguinte: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina, persevera nestas coisas; porque fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem.” I Tm 4:16. Conjuro-te, pois diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há-de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino, que pregues a palavra, instes, a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina:” porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores, conforme as suas próprias
concupiscências; a desviarão a muitos da verdade.” II Tm 4:1-4. “Tu porém, fala o que convém à sã doutrina. Em tudo te dá por exemplo de boas obras; na doutrina, mostra incorrupção, gravidade, sinceridade, linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de vós.” Tito 2:1, 7, 8. O principal objectivo da doutrina pura e imaculada: “é que sejamos edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no qual, todo o edifício, cresce para templo santo no Senhor.” Efésios 2:20, 21.
Por conseguinte, doutrina é toda a verdade básica, que todos os cristãos devem crer, independentemente da sua cor religiosa, caso contrário apenas envergonham o Senhor da glória. Disse Jesus: “Aquele que tem os meus mandamentos, e os guarda, esse é o que me ama … e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada.” João 14:21, 23. “A mesma também nos serve de vara de correcção, corrigindo nossas vidas pecaminosas, disciplinando-nos como verdadeiros filhos de Deus. Porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho.” Hb 12:6.
O rei David ao escrever o salmo 23, ele conhecia muito bem o significado, da vara e do cajado, pois na sua juventude ele fora pastor de ovelhas. Com a vara as conduzia e com o cajado, aquele bordão encurvado numa das extremidades, salvava toda aquela ovelha que caísse em algum abismo. Quando já adulto, este nobre homem, deixou-se levar pela cobiça, e cometeu adultério com a mulher do seu próximo e o matou. Como consequência dos seus actos, a vara do Senhor, pesou muito sobre ele, para sua correção e salvação. Por isso podia dizer: “a tua vara e o teu cajado me consolam.”
Deveríamos cuidar tão bem da doutrina, como Adão cuidava do jardim de Deus, pois ela é a nossa árvore da vida, cujas folhas, são cura para as nações e o seu fruto o regalo dos fiéis. É o nosso Éden. Se não cuidarmos da doutrina, virá o diabo e semeará o joio em nossos corações e mentes, e sufocará a seara do Senhor, por fim secará e será lançada no fogo. Por vezes gosto de usar a seguinte ilustração: veneno pode matar-nos o corpo, mas falsa doutrina leva-nos inevitavelmente ao inferno.
Creio que entre cristãos, pode muito bem haver lugar para a diferença, mas jamais poderá haver divergência doutrinária. Não há lugar para duas doutrinas, caso isso aconteça, a segunda é do diabo. Há um só Deus, também uma só doutrina. Em questões externas, podemos muito bem nos diferenciar, não é isso que faz de nós, bons ou maus cristãos. Mas aquilo que cremos, confessamos e praticamos é que dita as regras.
Adão e Eva ao darem ouvidos ao inimigo, puseram em causa a pura doutrina do Senhor, que lhes assegurava a vida eterna, ao transgredi-la acarretaram consequências nefastas, não só para eles mesmos, como para toda a humanidade, e até mesmo para o Filho de Deus.
Tenho observado, que os cristãos do tempo presente estão muito mal nutridos, por negligenciarem o sólido mantimento doutrinário. Os sermões que se pregam, na sua maioria são futilidades. Aposta-se muito em curas, milagres e dons espirituais, sem se questionar a sua origem, ou até mesmo a fraude, no entanto despreza-se a santa doutrina. Na atualidade, o diabo está como nunca esteve, para além dos demónios que o servem, ainda tem muitos colaboradores cristãos, que trabalham para ele gratuitamente, fazendo de Jesus mentiroso.
Disse Jesus: “Quem crer e for baptizado será salvo.” Mc 16:16.
Dizem os tais: “o baptismo não salva! O baptismo destina-se aos salvos!” Dizem mais: “o baptismo, é um acto público em que damos testemunho de uma conversão e entrega a Cristo, que já aconteceu!” Isto é apenas um exemplo entre muitos, não vou deter-me agora a enumerá-los todos para não maçar nem criar confusão. Mas o facto é que a igreja do Senhor, tem muitos lobos infiltrados, disfarçados de ovelhas.
Os milagres e as curas, Deus os opera segundo a sua soberana sabedoria, no momento oportuno para promover a sua glória, sem que seja necessário que o forcemos. Quanto aos dons espirituais, ele os reparte e cada um para aquilo que for útil e não para promover o ego de quem quer que seja. Mas quanto à doutrina, fala-nos ternorosamente pela boca de Moisés: “Goteje a minha doutrina como a chuva, destile o meu dito como o orvalho, como o chuvisco sobre a erva e como gotas de água sobre a relva.” Dt 32:2.
Estas palavras me sensibilizam muito, posso ver nelas o quanto o bom Deus nos quer bem. Também em tom de lamento, disse certo dia Jesus: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das suas asas, e tão não quiseste.” Mt 23:37. Este é o trabalho da doutrina sã, ajuntar e proteger os filhos de Deus, para que jamais se possam perder e cair nas garras do inimigo.
O mundo vai de mal a pior, e a igreja está deixando-se levar pelos novos ventos do ecumenismo, em nome da paz.
Em termos doutrinários, não se pode falar de paz. Que consenso há entre a luz e as trevas? Que harmonia pode haver entre cristãos, Judeus e islâmicos? Na verdade são todos monoteístas, creem num único Deus, mas rejeitam o Filho que Ele enviou. Disse Ele: “ se não crerdes que eu sou, morrereis nos vossos pecados.” João 8:24. Quanto à paz disse Jesus: “Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.” Mt 10:34. A espada de que Jesus fala, não se trata de um bocado de aço forjado no fogo, mas é a mesma de que fala S. Paulo: “Tomai a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; orando em todo o tempo com toda a oração e suplica no Espírito.” Efésios 6:17. “É com ela que lutamos contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” Efésios 6:11, 12. Isto só pode tornar-se realidade, fazendo-se uso correto da pura e sã doutrina. Enquanto os cristãos subestimarem isto, por mais igrejas que se levantem, andarão sempre fazendo de conta que são, aquilo que na realidade não são: verdadeiros cristãos.

Termino este texto, com as palavras do Filho de Deus: “A minha doutrina, não é minha, mas daquele que me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo.” João 7:16, 17.

A temática doutrinária, é de suma importância. E ao reflectir sobre o assunto visualizava em minha mente inúmeros versículos bíblicos com ele relacionados. Longe de pensar, que o salmo do Pastor, tivesse algo a ver com os princípios básicos da santa doutrina, ele apareceu entre os meus pensamentos, impondo-se, querendo ocupar o seu lugar nesta matéria.
O Salmo 23, ganhou com toda a justiça popularidade no meio cristão. É um salmo confortador, símbolo do cuidado e protecção de Deus, para com aqueles que são seus. Longe de ser um compêndio doutrinário, ele fala-nos poeticamente de verdades essenciais, que ao descurá-las, o crente em Deus, põe em risco a sua alma.
Devo dizer, que em primeira análise, doutrina é tudo o que é objecto de ensino e disciplina. Não pode nem deve ser falsificada. Não deve ser aplicada segundo o critério e vontade humana. Não é facultativa, é tema obrigatório, jamais deve ser omitida, é como negar pão ao faminto, pura crueldade.
Ao conversar com alguns cristãos, tenho observado que muitos nem sabem o que é doutrina, outros confundem-na com algo que eu nem sei como definir, e ainda outros dizem-me o seguinte: o importante é crer em Jesus Cristo, doutrina, cada um prega na sua igreja o que achar melhor. Não sei o que deva chamar a isto: se ousadia ou pura ignorância.
Como se pode alimentar o rebanho do Senhor e protege-lo das ciladas do diabo, se não fizermos uso da pura e santa doutrina, que para nós é como pasto verdejante e manancial de águas tranquilas? É ela quem nos guia pelas veredas da justiça, cujo fim é a vida eterna.
Ao descurá-la, muitos andam pastando em baldios, ingerindo pasto nocivo, e vivendo à mercê do inimigo.
Doutrina é algo sério, mas não complicado, costumo dizer que ela é quadrada, não que seja ultrapassada ou antiquada, mas simplesmente que a mesma é inalterável, não pode ser moldada aos nossos tempos, nem segundo as conveniências dos homens. Ela é por natureza: concisa, específica, objectiva e explícita. Não posso, nem tenho autoridade, para ensinar seja o que for como eu quero, doutrina simplesmente não é elástica. Um pequeno desvio e logo ponho em risco não só a minha alma como a daqueles que me ouvem.
Jesus disse algo em relação aos fariseus, que nos deveria fazer pensar: “São condutores cegos: ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova.” Mt 15:14. Claro está, que Jesus não se referia à cegueira física, nem a um buraco no meio do caminho. Referia-se obviamente a falsos ensinos que inevitavelmente conduzem à perdição eterna. Disse mais: “mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens.” Mt 15:9.
O apóstolo S. Paulo tinha uma preocupação, toda ela especial com a doutrina do seu Senhor, escreve ele o seguinte: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina, persevera nestas coisas; porque fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem.” I Tm 4:16. Conjuro-te, pois diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há-de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino, que pregues a palavra, instes, a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina:” porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores, conforme as suas próprias concupiscências; a desviarão a muitos da verdade.” II Tm 4:1-4. “Tu porém, fala o que convém à sã doutrina. Em tudo te dá por exemplo de boas obras; na doutrina, mostra incorrupção, gravidade, sinceridade, linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de vós.” Tito 2:1, 7, 8. O principal objectivo da doutrina pura e imaculada: “é que sejamos edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no qual, todo o edifício, cresce para templo santo no Senhor.” Efésios 2:20, 21.
Por conseguinte, doutrina é toda a verdade básica, que todos os cristãos devem crer, independentemente da sua cor religiosa, caso contrário apenas envergonham o Senhor da glória. Disse Jesus: “Aquele que tem os meus mandamentos, e os guarda, esse é o que me ama … e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada.” João 14:21, 23. “A mesma também nos serve de vara de correcção, corrigindo nossas vidas pecaminosas, disciplinando-nos como verdadeiros filhos de Deus. Porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho.” Hb 12:6.
O rei David ao escrever o salmo 23, ele conhecia muito bem o significado, da vara e do cajado, pois na sua juventude ele fora pastor de ovelhas. Com a vara as conduzia e com o cajado, aquele bordão encurvado numa das extremidades, salvava toda aquela ovelha que caísse em algum abismo. Quando já adulto, este nobre homem, deixou-se levar pela cobiça, e cometeu adultério com a mulher do seu próximo e o matou. Como consequência dos seus actos, a vara do Senhor, pesou muito sobre ele, para sua correção e salvação. Por isso podia dizer: “a tua vara e o teu cajado me consolam.”
Deveríamos cuidar tão bem da doutrina, como Adão cuidava do jardim de Deus, pois ela é a nossa árvore da vida, cujas folhas, são cura para as nações e o seu fruto o regalo dos fiéis. É o nosso Éden. Se não cuidarmos da doutrina, virá o diabo e semeará o joio em nossos corações e mentes, e sufocará a seara do Senhor, por fim secará e será lançada no fogo. Por vezes gosto de usar a seguinte ilustração: veneno pode matar-nos o corpo, mas falsa doutrina leva-nos inevitavelmente ao inferno.
Creio que entre cristãos, pode muito bem haver lugar para a diferença, mas jamais poderá haver divergência doutrinária. Não há lugar para duas doutrinas, caso isso aconteça, a segunda é do diabo. Há um só Deus, também uma só doutrina. Em questões externas, podemos muito bem nos diferenciar, não é isso que faz de nós, bons ou maus cristãos. Mas aquilo que cremos, confessamos e praticamos é que dita as regras.
Adão e Eva ao darem ouvidos ao inimigo, puseram em causa a pura doutrina do Senhor, que lhes assegurava a vida eterna, ao transgredi-la acarretaram consequências nefastas, não só para eles mesmos, como para toda a humanidade, e até mesmo para o Filho de Deus.
Tenho observado, que os cristãos do tempo presente estão muito mal nutridos, por negligenciarem o sólido mantimento doutrinário. Os sermões que se pregam, na sua maioria são futilidades. Aposta-se muito em curas, milagres e dons espirituais, sem se questionar a sua origem, ou até mesmo a fraude, no entanto despreza-se a santa doutrina. Na atualidade, o diabo está como nunca esteve, para além dos demónios que o servem, ainda tem muitos colaboradores cristãos, que trabalham para ele gratuitamente, fazendo de Jesus mentiroso.
Disse Jesus: “Quem crer e for baptizado será salvo.” Mc 16:16.
Dizem os tais: “o baptismo não salva! O baptismo destina-se aos salvos!” Dizem mais: “o baptismo, é um acto público em que damos testemunho de uma conversão e entrega a Cristo, que já aconteceu!” Isto é apenas um exemplo entre muitos, não vou deter-me agora a enumerá-los todos para não maçar nem criar confusão. Mas o facto é que a igreja do Senhor, tem muitos lobos infiltrados, disfarçados de ovelhas.
Os milagres e as curas, Deus os opera segundo a sua soberana sabedoria, no momento oportuno para promover a sua glória, sem que seja necessário que o forcemos. Quanto aos dons espirituais, ele os reparte e cada um para aquilo que for útil e não para promover o ego de quem quer que seja. Mas quanto à doutrina, fala-nos ternorosamente pela boca de Moisés: “Goteje a minha doutrina como a chuva, destile o meu dito como o orvalho, como o chuvisco sobre a erva e como gotas de água sobre a relva.” Dt 32:2.
Estas palavras me sensibilizam muito, posso ver nelas o quanto o bom Deus nos quer bem. Também em tom de lamento, disse certo dia Jesus: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das suas asas, e tão não quiseste.” Mt 23:37. Este é o trabalho da doutrina sã, ajuntar e proteger os filhos de Deus, para que jamais se possam perder e cair nas garras do inimigo.
O mundo vai de mal a pior, e a igreja está deixando-se levar pelos novos ventos do ecumenismo, em nome da paz.
Em termos doutrinários, não se pode falar de paz. Que consenso há entre a luz e as trevas? Que harmonia pode haver entre cristãos, Judeus e islâmicos? Na verdade são todos monoteístas, creem num único Deus, mas rejeitam o Filho que Ele enviou. Disse Ele: “ se não crerdes que eu sou, morrereis nos vossos pecados.” João 8:24. Quanto à paz disse Jesus: “Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.” Mt 10:34. A espada de que Jesus fala, não se trata de um bocado de aço forjado no fogo, mas é a mesma de que fala S. Paulo: “Tomai a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; orando em todo o tempo com toda a oração e suplica no Espírito.” Efésios 6:17. “É com ela que lutamos contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” Efésios 6:11, 12. Isto só pode tornar-se realidade, fazendo-se uso correto da pura e sã doutrina. Enquanto os cristãos subestimarem isto, por mais igrejas que se levantem, andarão sempre fazendo de conta que são, aquilo que na realidade não são: verdadeiros cristãos.
Termino este texto, com as palavras do Filho de Deus: “A minha doutrina, não é minha, mas daquele que me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo.” João 7:16, 17.