A mão do Senhor se apoderou do profeta Ezequiel e o
transportou em espirito, e o pôs no meio de um vale que estava cheio de ossos.
E o fez andar ao redor deles; e eram mui numerosos sobre a face do vale, e
estavam sequíssimos. Então lhe disse o Senhor: “Filho do homem, estes ossos são
toda a casa de Israel: eis que dizem: Os nossos ossos se secaram, e pereceu a
nossa esperança: nós estamos cortados.” Ez 37: 1, 2, 11.
Se retrocedermos no tempo, e analisarmos todo o historial de
Deus com a sua criação, inevitavelmente chegaremos à conclusão que o
relacionamento dos dois, quase sempre esteve muito longe de ser um romance.
Desde muito cedo o ser humano escolheu desobedecer ao seu criador, afrontando-o
seguindo outros deuses, cometendo toda a sorte de abominações. Já desde o Éden,
que a criatura decidiu optar pelo lado do inimigo e corrompeu-se de tal forma,
que o Senhor determinou pôr termo a tudo quanto havia criado com as águas do
dilúvio, selecionando apenas oito pessoas: Noé e sua família, assim como alguns
representantes das várias espécies animais. Com estes elementos de novo povoou
toda a terra, todos os humanos falavam uma mesma língua e empregavam-se as
mesmas palavras até ao momento em que de novo desafiaram o Senhor, construindo
uma torre cujo cume tocasse nos céus, ao perceber Deus, que não havia limites
para a perversidade humana, decidiu confundir-lhes a língua para que não mais
se pudessem entender.
Mais tarde o povo do Senhor foi feito escravo no Egipto e ao
presenciar tamanho sofrimento libertou-o com mão forte através do seu servo
Moisés, ao caminhar pelo deserto prevaricaram, cometendo todo o tipo de
abominações: “murmuraram contra Deus, prostituíram-se e inclinaram-se perante
um bezerro de ouro, por tudo isto, toda uma nação pereceu no deserto à exceção
de Josué e Caleb e a geração nova.” Nm 14: 30, 31.
Depois que o povo hebreu se estabeleceu na terra prometida,
os atritos foram sempre constantes, usando Deus sempre de todos os recursos
possíveis e imaginários, desde juízes, profetas, reis, sacerdotes e por fim o
seu próprio Filho para reconciliar o mundo consigo próprio.
No tempo do profeta Ezequiel, o povo havia chegado ao mais
baixo nível, ao ponto de Deus o classificar de ossos secos, estavam pior que
mortos, já não tinham carne, não tinham nervos nem pele e muito menos espírito,
e até mesmo os ossos estavam todos misturados.
No meio da visão o Senhor embaraça o profeta com esta
pergunta: “Filho do homem, poderão viver estes ossos?” Desconcertado ele
responde: “Senhor Jeová, tu o sabes.” Ez 37:3.
Em termos comportamentais, o que se poderá pensar também da
igreja através dos séculos até aos nossos dias? Infelizmente sua capacidade de
resposta em relação a tudo o que o seu Senhor tem feito por ela deixa muito a
desejar. Já o apóstolo S. Paulo teve sérios problemas com a igreja de corinto,
escrevendo o seguinte: “Geralmente se ouve que há entre vós prostituição, e
prostituição tal, qual nem ainda entre os gentios, como é haver quem abuse da
mulher do seu pai.” I Cor 5:1. “Nisto porém, que vou dizer-vos, não vos louvo;
porquanto vos ajuntais, não para melhor, senão para pior.” I Cor 11:17. “ Não
sabeis que os injustos não hão-de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem os
devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os
sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os
maldizentes, nem os roubadores, herdarão o reino de Deus. E é o que alguns têm
sido…” I Cor 6:9-11.
No tempo do profeta Ezequiel o povo de Israel estava disperso
e em cativeiro por causa de suas abominações contra o Senhor Deus, embora
fossem religiosos, o fruto de sua conduta espiritual era mau.
Enganamo-nos ao pensar, que o simples facto de sermos
religiosos fervorosos isso é o quanto basta para se agradar a Deus. Ele não se
ilude com nossa aparência, exige de nós verdade e coerência com sua santa
palavra.
A nação de Israel é representada ao profeta por um vale de
ossos secos. Hoje a igreja, que é o povo de Deus, como classifica-la, quando
sua conduta é oposta à vontade do seu Senhor?
Não quero ser juiz de maus pensamentos, mas gostaria que se
fizesse uma análise imparcial à igreja do nosso tempo, para vermos se de facto
ela também não se encaixa no mesmo vale de miséria. Tem aparência de que vive,
mas está morta, por cometer também toda a sorte de abominações, quer por
palavras, quer por ações. O povo anda errante, guiado por falsos profetas, que
só falam mentiras ou aquilo que agrada aos ouvidos. Fico deveras impressionado
ao pensar, como é possível, num mundo tão informatizado, haver tanta falta de
formação moral, assim como espiritual.
Num dos textos de ouro das escrituras lemos o seguinte:
“Porque Deus amou o mundo, de tal maneira, que deu o seu Filho único, para que
todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:16. Isto
significa, que Deus do melhor que possuía dedicou sem reservas e
incondicionalmente ao mundo. No entanto como retribuição, aquele que é chamado
de vigário de Cristo na terra, dedica a humanidade a Maria. Jesus é sacrificado
em nosso lugar por causa dos nossos pecados, mas é Maria quem recebe os louros.
Disse Jesus: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida,
ninguém vem ao Pai senão por mim.” João 14:6. Mais uma vez Maria é elevada, e
fazem dela medianeira e corredentora.
Ignoram desta forma o escrito de S. Paulo que diz: “Porque há
um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem.” I Tm
2:5.
Não quero de forma alguma subestimar os méritos de Maria no
seu tempo, simplesmente hoje está deslocada no tempo e no espaço, e estou certo
que se de alguma forma ela pudesse intervir, poria fim a tanta mariolatria, e
proferiria novamente estas palavras: “Fazei tudo quanto Ele vos disser.” João
2:5 e somente o que Ele disser.
O facto de Maria ter achado graça diante de Deus, isso não nos
dá o direito de lhe conferirmos atributos que só ao Filho de Deus compete,
disse Ele: “Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do
homem, que está no céu.” João 3:13.
A igreja quando ignora as escrituras, cai nestes erros
crassos de inventar deuses e criar dogmas que se tornam abominações perante o
Criador do universo.
Quanto às igrejas reformadas, também entre elas não há senso
comum, é da praxe seus fiéis membros usarem uma Bíblia, mas seus líderes
proferem dos púlpitos indesculpáveis erros doutrinários, reivindicam para si a
posse do Espírito Santo e os dons espirituais, desvirtuam os santos
sacramentos, e da palavra que é espírito e vida, reduzem-na a um mero código de
boa conduta moral e espiritual. Em termos escatológicos especula-se induzindo
os fiéis em erro.
Estou certo de que a Igreja da era moderna é bem representada
pelo vale de ossos. Uma igreja que assim procede está ressequida, pois o
espírito do Senhor se ausentou. Quero salientar que o Israel do tempo de Ezequiel
nos leva vantagem, já tinham chegado ao ponto de reconhecer, que por causa de
suas abominações estavam cortados.
A igreja do Senhor necessita de reconhecer seu estado
lastimável de abominações, idolatrias, heresias e dogmas forjados, para que
Deus se compadeça e lhe dê o seu Espírito de vida, para que no dia derradeiro
não sejamos todos cortados.